Daniel Libeskind projeta ampliação do Museu Judaico de Berlim
20 de agosto de 2012Num antigo mercado de flores na rua Lindenstrasse, no bairro berlinense de Kreuzberg, estão sendo erguidas as novas instalações do Museu Judaico de Berlim. A entrada da nova ampliação fica exatamente na frente do museu em forma de zigue-zague com revestimento em zinco, que foi projetado pelo arquiteto norte-americano Daniel Libeskind.
E o novo edifício não deixa por menos: uma enorme abertura assimétrica foi perfurada na parede externa, à qual foi acoplado um cubo de madeira inclinado. As obras estão em pleno andamento, há operários por toda parte, pois em novembro a ampliação deverá ser inaugurada.
O projeto do singelo pavilhão de concreto armado com quase 7 mil metros quadrados de superfície também foi assinado por Daniel Libeskind.
Construção inclinada
Nascido na Polônia, o arquiteto residente em Nova York é considerado uma figura ofuscante da arquitetura internacional. Os edifícios de Libeskind fascinam e polarizam ao mesmo tempo. Diante deles, ninguém fica indiferente, como no caso do Museu Judaico de Berlim. A ampliação é, de novo, parcialmente inclinada.
"Não era o caso de projetar um novo edifício, mas de transformar o mercado de flores. O resultado é um novo e importante espaço cultural para o Museu Judaico", explica Libeskind. Para tal, ele encontrou uma solução modular para a ampliação: três cubos oblíquos – para a academia, arquivo e biblioteca – integrados ao mercado de flores.
Nenhuma cópia
Os três cubos escuros e mutuamente inclinados, revestidos com tábuas, se assemelham a caixas de madeira, como explica Bülent Durmus, vice-diretor do Museu Judaico de Berlim: "Caixas como uma marca simbólica para a entrada de materiais de arquivo de todo o mundo. Seguindo a ideia de Libeskind, estes nos foram enviados de todas as partes." Fora isso, faltam os espaços irregulares e labirínticos, bem como as fachadas assimétricas, marcas registradas de Libeskind.
Faltam também paredes formando ângulos agudos e pisos inclinados, que transmitem a sensação de desequilíbrio. A academia é tudo menos uma cópia do Museu Judaico no lado oposto da rua.
Academia de pesquisa e educação
O mercado de flores construído na década de 1960 não será transformado em espaço de exposição, mas em academia. Os custos da reforma somam 11 milhões de euros. O governo alemão arca com 60% das despesas, o resto provém de financiamento privado.
Anualmente, 750 mil pessoas visitam o Museu Judaico. Nesse período, são realizadas 7 mil visitas guiadas, 350 oficinas para estudantes, formação de professores e intercâmbios com especialistas em museus e ciência – o sucesso é grande, mas o espaço para a oferta educacional é cada vez menor.
Por esse motivo, a biblioteca, o arquivo e os serviços pedagógicos ganham novos depósitos e locais de trabalho para cientistas e interessados em história. Surgem espaços para workshops, que podem ser utilizados anualmente por até 100 mil visitantes, afirma Libeskind. "Eu quis criar um novo espaço e fazer minha deferência ao tema do crescimento. Pois uma planta cresce, de certa forma, como a mente de um estudante ou cientista. É por isso que criamos um jardim no centro do edifício."
Jardim da Diáspora
Ali, onde antes eram vendidas flores provenientes da Holanda e do Quênia, um Jardim da Diáspora deverá florescer em breve. Numa área de 900 metros quadrados deverão crescer plantas de países que proporcionaram uma nova pátria aos judeus em fuga.
Os visitantes também encontrarão plantas importantes para a cultura judaica, como raspa-saias, marroio, cerefólio ou outros vegetais com nomes antissemitas como Judentaler ou "táleres-de-judeu" (planta também conhecida por moedas-do-papa em português) ou Wandernder Jude (judeu-errante).
Libeskind teve de desistir da ideia de um jardim bíblico: tamareiras e oliveiras, da forma como mencionadas na Bíblia, não teriam se adaptado climaticamente ou não se encaixariam em termos de conteúdo na orientação do museu. Como o arquiteto fez esforços para conseguir uma construção sustentável e de baixo consumo energético, todos os espaços foram concebidos em madeira. Mesmo no inverno, o espaço do antigo mercado de flores não tem calefação, somente os cubos dispõem de aquecimento.
Vozes críticas
Em princípio, o mercado de flores é totalmente inadequado para as necessidades de um museu: muito grande e arquitetonicamente bastante grosseiro, dizem os críticos. Inicialmente, um terço do antigo prédio do mercado não será ampliado nem utilizado, permanecendo somente na estrutura ou sem acabamento. É concebível alugar os fundos do pavilhão para conferências, espetáculos teatrais e concertos.
Um supermercado, no entanto, não está em cogitação, afirma de forma veemente Bülent Durmus, acrescendo que a ausência da típica arquitetura de Libeskind, que teve de abrir mão de seu vocabulário formal descontrutivista, se explica principalmente por um motivo – a falta de dinheiro.
Ainda está em aberto o nome da praça em frente da academia, disse o vice-diretor Durmus: "O nome favorecido pela administração distrital não corresponde às nossas ideias. Gostaríamos de algo mais enigmático. Imaginamos antes algo relacionado ao nosso tema aqui." E, para tal, há uma citação na fachada de Libeskind, de Maimônides, um dos grandes eruditos judeus da Idade Média.
Autor: Michael Marek (ca)
Revisão: Francis França