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Cúpula UE-Celac pode provocar na Europa choque de realidade

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
12 de julho de 2023

Líderes europeus e latino-americanos se reuniram pela última vez há oito anos, num contexto diferente do atual. Europeus precisam perceber que os continentes se distanciaram mais do que eles gostariam de admitir.

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Líderes dos países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac)
Líderes da Celac serão recebidos em Bruxelas na próxima semanaFoto: Florencia Martin/dpa/picture alliance

A partir da próxima semana, os chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) e da América Latina estarão reunidos em Bruxelas. A última vez que isso ocorreu foi em 2015. Muita coisa mudou na relação entre os dois continentes nesses oito anos. Poderá ser um choque de realidade para os europeus: pois a Europa perdeu atratividade na América Latina.

Nesses oito anos, houve um alheamento, que se acelera atualmente. Após a última cúpula UE-Celac, a América Latina estava primeiramente ocupada, sobretudo, com si própria e com suas crises: a região quase não cresceu. As empresas europeias reduziram seus investimentos. Em vários países, do Chile, passando Bolívia, até o Peru, eclodiram tumultos sociais.

Eleições colocaram no poder novos chefes de Estado que demonstraram pouco interesse na Europa: foi o caso de Jair Bolsonaro no Brasil e também de Andrés Manuel López Obrador no México. Já na Europa, a simpatia pelos dois presidentes era mínima.

Por fim, a pandemia assolou impetuosamente a América Latina. Isso se deve em parte à política, mas também à sociedade, onde a maioria da população é pobre e trabalha no setor informal – ou seja, não podia se isolar.

Durante esses anos, as manifestações de solidariedade e o engajamento da Europa foram contidos. Os latino-americanos tomaram nota que a Europa esteve quase ausente nas entregas de vacina contra a covid na região, enquanto China e Rússia disponibilizaram imunizantes a quase todos os países da América Latina.

Mas então veio a mudança geopolítica com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A Europa exigiu da América Latina uma condenação clara da Rússia. Os Estados cumpriram razoavelmente isso em votações importantes na ONU. Porém, em sanções contra a Rússia ou no envio de armas para a Ucrânia, os países se contiveram. Do ponto de vista da América Latina, é uma guerra na Europa que pouco tem a ver com eles. Isso é difícil de entender de uma perspectiva europeia.

Com a guerra, no entanto, o interesse da Europa na América Latina voltou a crescer repentinamente. A Europa depende dos Estados democráticos da América Latina: seja em votações de fóruns como a ONU, ou para gerir a política externa como política de interesse global.

Oportunismo europeu?

Para os latino-americanos, isso parece oportunismo: agora, que a Europa reivindica de repente solidariedade na guerra contra a Rússia, a América Latina voltou a ser importante. Um parceiro com o qual – como os europeus declaram com frequência no momento – querem negociar de igual para igual. Ficam as perguntas: O que foi feito antes? Como se pode negociar estrategicamente com parceiros sem igualdade?

Ao mesmo tempo, ocorreu uma revalorização geoestratégica e econômica da América Latina – porque a Rússia deixou de ser um fornecedor de energia e a China é cada vez mais vista no Ocidente como um parceiro pouco confiável. 

Isso tornou a América Latina novamente atraente para os negócios: para empresas que querem transferir suas atividades da China para o hemisfério ocidental. Para empresas que precisam de matéria-prima para a transição energética – de cobre, passando pelo lítio, até o hidrogênio verde.

A nova realidade das relações entre a Europa e América Latina é: a Europa precisa mais da América Latina hoje do que o contrário.

Um exemplo disso é o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Os europeus querem realmente ditar aos países parceiros sul-americanos as condições em que eles no futuro querem fazer negócios.

Mas os produtos agrícolas e os minérios da América Latina são procurados pelos próprios compradores – um acordo de livre comércio não é decisivo para isso. Se soja ou carne sul-americana não forem mais adquiridas pelos consumidores europeus devido a questões ambientais, os fazendeiros sul-americanos terão que viver com essa realidade. Mas eles encontrarão outros mercados.

Ao mesmo tempo, os europeus querem comprar matérias-primas que são estrategicamente importantes. Mas por que os sul-americanos devem abrir mais seus mercados para os produtos europeus, quando pouco é lhes oferecido?

A cúpula em Bruxelas pode provocar um choque de realidade na Europa – mas isso pode ser benéfico, dizem.

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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América Latina do grupo editorial Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Quando não está viajando pela região, fica baseado em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.