Metas do Milênio
20 de setembro de 2010A cada noite, quase um bilhão de pessoas no mundo vai para a cama com fome. Apesar disso, o balanço parcial da Meta do Milênio, de reduzir à metade a fome no mundo, não é tão ruim quanto parece.
A conferência das Nações Unidas que começa nesta segunda-feira (20/09), em Nova York, quer dar um novo impulso às Metas do Milênio. Até a próxima quarta-feira, líderes mundiais discutem como trabalhar para que as metas sejam alcançadas até 2015.
Embora a crise econômica mundial tenha freado o combate à miséria, o percentual da população mundial que passa fome diminuiu.
Segundo uma avaliação feita pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), muitos países cumprirão esta Meta do Milênio. Mas não em todas as regiões do planeta: o progresso acontece principalmente no sul e leste da Ásia, devido sobretudo ao crescimento de países como a China. Mesmo que algumas nações africanas demonstrem desenvolvimento positivo, a África continua sendo o continente com mais problemas.
Já antes do início da conferência da ONU, o secretário-geral Ban Ki-moon apelou em Nova York para que ninguém se deixasse desmotivar. A desfavorável situação econômica mundial não pode, segundo ele, servir de argumento aos países ricos para atrasarem os pagamentos prometidos. "Não podemos sanear nossas finanças à custa dos pobres", advertiu.
Muito pouco dinheiro para a África
O objetivo é que os países desenvolvidos destinem 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) à ajuda ao desenvolvimento. Esta cota sobe a cada ano. Este ano, ela está em 0,51%. Enquanto Bélgica, Finlândia, Irlanda e Reino Unido já atingem essa meta, a Alemanha está abaixo dela, com 0,4%.
O mundo está deixando de cumprir suas obrigações especialmente no tocante à ajuda à África, disse o secretário-geral. Segundo ele, 16 bilhões dos fundos prometidos ainda não foram pagos. "É lamentável que justamente onde a necessidade é maior, falta mais dinheiro".
Os países doadores e receptores discutem se a causa do não cumprimento das metas da ONU é a falta de pagamento ou falhas políticas no uso do dinheiro.
Um exemplo disso é a mortalidade materna: de acordo com o último relatório do FMI, há uma grande diferença entre aspiração e realidade, embora esclarecer as mulheres sobre partos seguros não custe muito, a questão é que geralmente se trata de um problema cultural.
Se uma gestante precisa pedir licença ao marido para dirigir-se a um hospital, após vários dias de contrações, isso tem pouco a ver com dinheiro.
Boa governança
A chefe alemã de governo, Angela Merkel, destacou em Berlim que o impulso decisivo deve vir das próprias pessoas. Mas também os políticos têm responsabilidade.
"Tem sido dito repetidamente que um dos principais obstáculos também é a corrupção, e que uma boa administração constitui uma pré-condição para o desenvolvimento sustentável", frisou Merkel.
O economista Jomo Kwame Sundaram, do Departamento de Economia e Relações Sociais das Nações Unidas, salienta que o balanço entre ajuda prestada e progressos no desenvolvimento é distorcido.
Se forem excluídos os cinco maiores beneficiários – que são Iraque, Afeganistão, Israel, Egito e Colômbia – o equilíbrio entre ajuda e crescimento volta a ser positivo.
Pânico pode ser útil
Mesmo assim, o encontro de cúpula da ONU busca compromissos financeiros concretos, pois já agora está claro que o dinheiro não será suficiente. De 2012 a 2017, faltarão 340 bilhões de dólares a cada ano.
A França e o Reino Unido, juntamente com 60 outros países, propuseram a introdução de um imposto internacional sobre as transações monetárias. Este imposto poderia reunir até 35 bilhões de dólares por ano.
Kathy Calvin, diretora da Fundação das Nações Unidas – financiada pelo empresário norte-americano Ted Turner – vê aspectos positivos no debate sobre as promessas de ajuda financeira e nas críticas às nações receptoras. "Também um pouco de pânico pode ser útil", diz.
"É bom percebermos que devemos intensificar os esforços dos dois lados – no tocante aos compromissos financeiros e na aplicação local dos recursos – caso contrário fracassaremos".
Já David Lane, diretor da organização de ajuda humanitária One, adverte que o êxito da cúpula não depende de palavras e sim de promessas concretas de ajuda. "Se em Nova York houver pronunciamentos maravilhosos e a declaração final contiver belas palavras sobre a importância da ajuda ao desenvolvimento, mas faltarem comprometimentos concretos – então devemos ficar todos muito decepcionados", previne.
Autor: Christina Bergmann (rw)
Revisão: Carlos Albuquerque