Câmara dos EUA abre processo de impeachment contra Trump
25 de setembro de 2019A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira (24/09) a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.
O republicano é suspeito de pressionar o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para que este apoiasse investigações contra Hunter Biden, filho do pré-candidato democrata à presidência Joe Biden. A pressão teria ocorrido durante um telefonema no final de julho. A revelação do caso na semana passada provocou uma tempestade política em Washington.
"Isto é uma quebra da Constituição americana", disse a democrata Pelosi ao anunciar a abertura do processo. "O presidente precisa ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei. Portanto, hoje estou anunciando que a Câmara dos Deputados está avançando com uma investigação oficial de impeachment."
Segundo o jornal The New York Times, a tendência é que Pelosi determine a instalação de uma comissão especial para investigar as suspeitas que envolvem Trump. Em 1973, a Casa instalou uma comissão do tipo para investigar o então presidente Richard Nixon, mas ele acabou renunciando antes que a Câmara votasse pela admissibilidade do processo em plenário.
Os democratas têm maioria na Câmara, mas a possibilidade de um processo de impeachment prosperar até a fase final é mais improvável no Senado, que tem a palavra final sobre uma eventual saída do presidente. Os republicanos superam o Partido Democrata em número de senadores. Ainda assim, o caso tem alto potencial de desgaste para Trump a cerca de 13 meses das eleições de 2020.
Na última sexta-feira, o Wall Street Journal apontou que Trump pressionou o presidente da Ucrânia em uma ligação no final de julho a investigar tanto Biden quanto seu filho, Hunter. Na ocasião, segundo o jornal, Trump pediu a Zelenski para que seu advogado pessoal, o ex-prefeito Rudy Giuliani, pudesse atuar na investigação em conjunto com os ucranianos.
O caso em questão envolveria suspeitas sobre as ligações de Hunter com a empresa de gás de um oligarca ucraniano. Giuliani, por sua vez, também sugeriu aos ucranianos que Biden, na época em que ainda era vice-presidente, atuou para proteger seu filho. Só que membros da Justiça ucraniana disseram ao WSJ que não há evidências de alguma irregularidade na conduta de Biden ou de seu filho.
Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama, lidera no momento as pesquisas entre os pré-candidatos democratas para se tornar o candidato que enfrentará o republicano Trump nas eleições de 2020.
No último domingo, Trump disse a repórteres na Casa Branca que o telefonema foi, sobretudo, de parabenização (o partido de Zelenski havia acabado de ganhar uma eleição parlamentar), mas admitiu que também tratou de corrupção e dos Biden. Ele, no entanto, minimizou o caso falando que não fez nada de errado.
Mas o escândalo ganhou anda mais força na segunda-feira, quando o jornal Washington Post revelou que Trump suspendeu uma ajuda militar no valor de 400 milhões de dólares para a Ucrânia dias antes do telefonema para Zelenski, levantando a suspeita de que a medida tinha como objetivo pressionar o líder ucraniano a cooperar na ação contra Biden.
Antes mesmo do WSJ revelar detalhes da conversa entre Trump e Zelenski, outra reportagem do Washington Post publicada dois dias antes já havia apontado que Trump havia sido alvo de uma denúncia na comunidade de inteligência por causa de uma conversa suspeita.
Neste caso, o diário havia indicado que um agente dos serviços de inteligência dos EUA que acompanhava a conversa — como é rotina em telefonemas de presidentes americanos – ouviu Trump fazer uma "promessa" a um "líder estrangeiro" que despertou "preocupação urgente" sobre a segurança nacional dos EUA. Inicialmente, o "líder estrangeiro" não foi identificado pelo Washington Post, mas dois dias depois o concorrente WSJ apontou que se tratava de Zelenski.
Ainda segundo o Washington Post, após o diálogo o agente registrou uma queixa anônima contra Trump na comunidade de inteligência.
Depois das reportagens, membros da Câmara pediram que o governo Trump liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski. Já o Senado não só pediu as transcrições como também solicitou que o agente que ouviu o telefonema testemunhe sobre o caso.
Trump afirmou que vai fornecer uma divulgação da transcrição. Após o anúncio da abertura do processo de impeachment, ele também atacou os democratas. "Eles nem sequer viram a transcrição da ligação. Isso é uma caça às bruxas!", escreveu o presidente no Twitter.
Em mais de dois séculos, os deputados só concluíram duas votações para pedir o impeachment de um presidente: em 1868, contra Andrew Jackson, e em 1999, contra o democrata Bill Clinton. Em ambos os casos, os presidentes perderam na Câmara, mas acabaram permanecendo no cargo ao vencerem votações no Senado.
JPS/ap/efe/dw/ots
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