"Cumprimos todas as obrigações", garante presidente romeno
25 de setembro de 2006DW-TV: Na terça-feira (26/09) vamos ouvir de Bruxelas se a Romênia vai participar da União Européia em 2007. O que será anunciado?
Traian Basescu: Se você quer escutar uma resposta simples, aí está: o relatório da União Européia vai recomendar o acesso da Romênia em 1º de janeiro de 2007. O adiamento do acesso [para 2008] não vai acontecer em nenhuma hipótese. Nós cumprimos todas as obrigações estabelecidas.
O senhor acredita que a União Européia vai impor neste relatório algumas condições para sacramentar o acesso da Romênia?
Não acredito que haverá salvaguardas. Porém, com base em experiências de outros estados-membros da União Européia, posso dizer que certamente existirão recomendações de que alguns aspectos sejam monitorados na Romênia. Estamos de acordo com isso.
A Romênia está preparada para a União Européia?
Sem dúvida que sim. Eu diria que nós estamos prontos para a União Européia há cerca de 65 anos, quando fomos retirados dela à força, contra nossa vontade.
Temos escutado críticas em relação a alguns desdobramentos em seu país. Por exemplo, no tocante à luta contra o crime organizado e a corrupção. Há mais a ser feito ou já se pode dizer que essa questão foi solucionada com sucesso pela Romênia?
A Romênia tem demonstrado nos últimos anos enormes esforços para atingir os padrões de qualidade esperados para um Estado-membro da União Européia. Os acontecimentos dos dois últimos anos mostraram que há uma excepcional vontade política para combater a corrupção e o crime organizado. Isso pode ser notado não apenas observando a imprensa romena como também no sentimento das pessoas, o que deixa claro que as coisas estão mudando.
O senhor acredita que a Romênia tem sido avaliada de maneira mais crítica e rigorosa do que os demais países do Leste Europeu que foram aceitos na União Européia há dois anos?
Não, de nenhuma forma. Mas para a Romênia fica a impressão de que a opinião pública na União Européia está mais sensível à ampliação do bloco. Nós consideramos que as demandas exigidas da Romênia são justificadas. A única coisa que não poderíamos aceitar seria a discriminação contra a Romênia, mas isso não está acontecendo. Existem simplesmente condições que têm que ser cumpridas e isso é positivo para nós.
Se você me permite, vou fazer uma piada. Todos os representantes da União Européia que monitoraram a entrada de 10 países em 2004 foram posteriormente deslocados para monitorar apenas dois países: Romênia e Bulgária. Para nós isso significa que já passamos por todo tipo de monitoramento.
Como está o espírito pró-União Européia em seu país?
Segundo uma pesquisa sociológica, o apoio entre os romenos para a integração européia é impressionantemente alto. Sessenta e oito por cento da população romena não só são favoráveis ao acesso da Romênia como também apóiam a Constituição Européia. Os romenos serão os principais apoiadores da União Européia entre os países-membros.
Seu governo obteve muitos êxitos no campo econômico nos últimos anos. Quais serão os principais benefícios econômicos que o acesso à União Européia vai proporcionar para a Romênia?
Teremos enormes vantagens. Pelo sexto ano consecutivo já estamos crescendo anualmente mais de 6%. No primeiro semestre deste ano o nosso Produto Interno Bruto cresceu 7,4% e o crescimento total previsto para 2006 é de 7,5%. Além disso, há um considerável aporte de capitais no país. Entre 2007 e 2013 vamos receber 32 bilhões de euros da União Européia. Entraremos com uma contrapartida de 30 bilhões. O dinheiro será investido, por exemplo, para desenvolver infra-estrutura rural, combater a poluição e qualificar nossa mão-de-obra. Acredito que, em termos de perspectivas econômicas e sociais e também em termos de lealdade à União Européia, a Romênia será uma agradável surpresa para o bloco.
Muitos analistas temem que, com o acesso à UE, muitos romenos vão emigrar para outros países europeus. O senhor teme uma fuga de mão-de-bra da Romênia, já que a União Européia é um bloco onde os trabalhadores podem se deslocar entre os países-membros de forma livre?
Não. Conforme acordos que já fizemos, os romenos que queriam trabalhar na UE já tinham esse direito há alguns anos. Atualmente há mais de dois milhões de romenos trabalhando em países da União Européia. A Romênia está prestes a ter uma carência de mão-de-obra em vários setores da economia. Ao mesmo tempo, essa demanda por trabalhadores gerou uma impressionante alta nos salários em certas áreas, já nos anos de 2005 e 2006. Isso significa que não há incentivo para romenos deixarem o país na busca de trabalho no estrangeiro, desde que os salários estejam em um nível satisfatório. Eu não acredito que a entrada da Romênia na União Européia criará uma onda de emigração.
O senhor acredita que, com a entrada de seu país, da Bulgária e provavelmente da Croácia, a ampliação da UE vai ser encerrada? O senhor defende que outros países como a Ucrânia tenham a chance de fazer parte do bloco?
É difícil avaliar quando a União Européia deve oferecer – e se de fato deve oferecer – a possibilidade de ingresso à Ucrânia. Certo é que, antes de pensar na Ucrânia, a UE deve resolver um sério problema: se será dada a perspectiva de entrada no bloco aos países dos Bálcãs Ocidentais [Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Macedônia e Albânia] e à República da Moldova. Antes de a União Européia pensar na Ucrânia, ela deve encontrar uma solução para garantir a segurança do Mar Negro.
O senhor teve uma carreira como capitão da Marinha. Em nossa última entrevista – também aqui em Berlim – perguntamos se o senhor tinha confiança em ser o timoneiro do navio Romênia para o porto Europa. Agora parece que o senhor teve sucesso nessa empreitada. O senhor está satisfeito com o que foi alcançado até o momento?
Sinto que conseguimos alcançar o próximo passo. Mas o navio Romênia só estará em um porto seguro quando o país se modernizar.