Temores da dívida
25 de setembro de 2011No final do encontro anual do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que se encerrou neste fim de semana em Washington, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, bateu o martelo: "O perigo de um encadeamento de falências, de uma corrida aos bancos e de níveis de risco catastróficos deve ser eliminado. Caso contrário, todos os esforços na Europa e no resto do mundo não servirão para nada", disse Geithner, exigindo ainda mais esforços dos europeus no combate à crise de endividamento no continente.
Os EUA e a China exigiram em Washington uma solução rápida para a crise europeia e advertiram sobre os riscos para a economia mundial. Para o desagrado de muitos observadores europeus, os norte-americanos conseguiram fazer com que a crise da dívida soberana em países da zona do euro fosse o único tema da reunião em Washington.
Europeus X norte-americanos
"Eu acredito que os EUA tenham interesse em desviar a atenção de seus próprios problemas e responsabilizar a Europa, caso a economia do continente não reaja aos programas de apoio conjuntural", disse o chefe da Confederação Alemã das Caixas de Poupança (DSGV), Heinrich Haasis.
O argumento de Haasis é que a dívida pública dos EUA corresponderia a 100% de seu rendimento econômico anual, e a dos europeus, por outro lado, somente a 88,6%. Nos próximos cinco anos, as dívidas norte-americanas irão crescer para 115%, enquanto na Europa elas cairão para 86,6%. Na Alemanha, espera-se uma queda de 82'% para 75%.
"Aqui se vê onde está o problema. Os norte-americanos ameaçam não somente o bem-estar de seu próprio país, mas prejudicam também as perspectivas de futuro da economia global", disse Haasis.
Por outro lado, o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer, acredita que os temores dos norte-americanos são justificáveis. "A crise de endividamento na Europa – diferentemente do problema fiscal nos EUA – tem um grande potencial de recessão. E tal recessão não se restringiria somente à zona do euro, mas também representa um problema para os EUA". Isso explicaria o interesse dos norte-americanos em levar os europeus a agirem, disse Krämer.
Acalmando ânimos
No entanto, os europeus, sobretudo a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, e o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, referiram-se incansavelmente ao plano adotado de resgate do euro, que teria sido implementado de forma consequente.
Contudo, Schäuble deixou a entender em Washington a possibilidade de haver algumas pequenas mudanças, como no montante da polêmica parcela de participação dos bancos ou a antecipação do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
O ministro mostrou-se favorável ao início antecipado do fundo permanente destinado a ajudar países altamente endividados da zona do euro. Segundo informações da revista Der Spiegel, o MEE poderia entrar em vigor já no próximo ano.
Tais promessas não custam nada e ajudam a acalmar os ânimos dos parceiros comerciais. E, assim, Schäuble pôde ainda tirar uma conclusão positiva do encontro: "Encerramos uma reunião anual de forma bem sucedida e com grande confiança. Estamos numa fase difícil, sem dúvidas. Mas não existe nenhum motivo para pânico e pessimismo exagerado. Se nós mantivermos de forma consequente o mesmo curso, poderemos trazer já em breve a economia mundial para águas mais calmas".
Autor: Rolf Wenkel / Carlos Albuquerque
Revisão: Mariana Santos