Efeitos
12 de outubro de 2008Peter Wahl, especialista em finanças da organização WEED (sigla em inglês de Economia Mundial, Ecologia, Desenvolvimento), sediada em Berlim, vê os países em desenvolvimento como os grandes perdedores no contexto dos atuais problemas que afetam o mercado internacional.
"A crise financeira e principalmente a crise real da economia irão fazer com que os encargos dos Estados subam violentamente. A dívida pública vai crescer vertiginosamente, o que irá cercear de forma dramática o espaço destinado à cooperação para o desenvolvimento. Uma cooperação que, antes da crise, já apresentava enormes dificuldades de atingir suas metas", diz Wahl.
Aumento da pobreza
O pleiteado aumento das verbas destinadas pelos países do norte do planeta à cooperação econômica com os países em desenvolvimento deverá, diante da pressão da atual crise – e dos rombos nos orçamentos públicos por ela provocados –, se manter inatingível.
Para Wahl, a atual crise econômica deverá gerar uma pobreza ainda maior no mundo, com um aumento sensível dos problemas já existentes nos países em desenvolvimento. No entanto, salienta o especialista, nem todos estes países deverão sofrer diretamente os efeitos da crise.
Proximidade dos EUA
"Os mais prejudicados serão aqueles que mantêm uma relação próxima com os EUA, ou seja, os que fazem parte da zona de livre comércio americana: o México e os países da América Central. Eles serão muito prejudicados, pois suas exportações para os EUA irão sofrer uma redução drástica. E o mesmo vai acontecer com qualquer outro país que mantiver uma cooperação estreita com os EUA, como por exemplo os países do grupo ACP (África-Caribe-Pacífico). Isso deverá acontecer tão logo a crise atinja também a União Européia", prevê Wahl.
Recessão mundial
Outras vítimas da crise serão os países pobres, que dependem da importação de matéria-prima e alimentos. Eles já estavam enfraquecidos devido ao grande aumento de preços no mercado e agora ainda terão que se confrontar com os efeitos da crise. A recessão mundial, prevista pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), poderá reduzir ainda mais as chances de exportação desses países.
A ministra alemã da Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Heidemarie Wieczorek-Zeul, acredita que há necessidade de tomar medidas urgentes em prol dos países em desenvolvimento. A ministra conclamou os países mais ricos a se portarem de forma solidária com as nações mais pobres. Este será um dos assuntos a serem debatidos pela ministra durante a assembléia anual do Banco Mundial, que acontece nesta segunda-feira (13/10).
"Há de se lembrar que os países em desenvolvimento são afetados por três crises: pelo aumento no preço dos alimentos, pela atual crise dos bancos e ainda pelos efeitos das mudanças climáticas. E se não houver um apoio a esses países, temo que se crie uma nova ordem mundial, com uma cisão muito mais forte do mundo entre ricos e pobres. Com todas as conseqüências que isso acarretará em termos de violência e conflitos", alerta a ministra.