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Crise do SPD

8 de junho de 2008

O Partido Social Democrata alemão vem perdendo prestígio junto ao eleitorado numa velocidade meteórica. Políticos de centro se vêem desafiados a reconquistar espaço político próprio e buscar nova identidade partidária.

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Partido Social Democrata em busca de novo espaço políticoFoto: Picture-Alliance /dpa

Uma recente enquete do Instituto Forsa indicou uma queda histórica do prestígio do Partido Social Democrata (SPD) junto ao eleitorado alemão. O SPD, tradicionalmente o maior partido do país ao lado dos conservadores cristãos, só conta com 20% da preferência da população. Esta é a mais grave baixa dos social-democratas desde 2005, quando ingressaram na coalizão de governo com os democratas e social-cristãos.

A Esquerda, partido ao qual aderiram muitos eleitores decepcionados com o SPD, subiu um ponto percentual em relação à semana anterior, contando com 15% dos votos – um recorde para o jovem partido, fundado há um ano. Liberais e verdes conquistaram mais um ponto percentual, chegando respectivamente às marcas de 13% e 12%.

Segundo a pesquisa, o mais forte partido alemão continua sendo a União Democrata Cristã (CDU), com 36% da preferência; somando-se a isso os votos dos correligionários bávaros da União Social Cristã (CSU), os conservadores chegam a 42%.

Entre os eleitores masculinos, a situação dos social-democratas parece ainda mais drástica. Pela primeira vez, o SPD obteve – entre o eleitorado masculino – a mesma intenção de votos recebida pela Esquerda, de 17%, apenas um ponto percentual superior à dos liberais.

Desprestígio circunstancial?

Para os social-democratas mais otimistas, a perda de três pontos percentuais em uma semana e sete em três semanas tem razões mais ou menos circunstanciais.

O recente anúncio da candidata social-democrata à presidência, Gesine Schwan, foi interpretado como uma tentativa explícita de angariar os votos perdidos da ala esquerdista, justamente o segmento político dos qual os social-democratas estão tentando se afastar e diferenciar. A nomeação foi seriamente criticada pelos democrata-cristãos, com quem o SPD compõe a coalizão de governo federal.

Foi justamente a questão da proximidade ou distância da esquerda que imergiu o SPD numa crise de identidade política nos últimos anos. Um agravamento disso ocorreu em fevereiro passado, quando o presidente do partido, Kurt Beck, insinuou que a candidata social-democrata ao governo estadual de Hessen poderia aproveitar-se dos votos da Esquerda para se eleger. A recomendação foi seriamente criticada por seus correligionários.

Além disso, Beck não é um candidato muito popular ao governo federal. Dentro do SPD, multiplicam-se as vozes a defender que o candidato não precisaria ser o presidente do partido. Nomes de atuais ministros, como Frank-Walter Steinmeier (Relações Exteriores), Peer Steinbrück (Finanças) e Olaf Scholz (Trabalho) já foram aventados como alternativa a Beck.

Longe da esquerda

O afastamento programático da esquerda foi um ponto central da última convenção do SPD, no final de maio, em Nurembergue. A presidência do partido não apenas assegurou seu repúdio a qualquer composição com a Esquerda, como também se abriu para uma possível cooperação com o Partido Liberal nas próximas eleições parlamentares, em 2009.

"Queremos uma nova cultura da ascensão, na qual avancemos juntos e o êxito do indivíduo contribua para a ascensão de toda a sociedade", define o partido seu posicionamento na declaração da última convenção, que teve por tema o futuro do SPD.

"Estabelecer uma igualdade de chances é necessário, a fim de que o desempenho valha a pena para todos": uma declaração que remete à aproximação programática entre SPD e Partido Liberal antes da formação de uma coalizão federal social-liberal em 1969.

Ampliação do desempenho econômico da Alemanha, retorno ao emprego pleno, estabelecimento de uma "justiça de desempenho", fortalecimento do papel da Alemanha como potência pacifista: esses são alguns pontos do programa do SPD. A política industrial ecológica iniciada na coalizão de governo com os verdes deverá ser mantida.

A expansão do salário mínimo para mais categorias profissionais e a criação de transições mais flexíveis para a aposentadoria fazem parte das metas trabalhistas do partido. Quanto à política fiscal, o objetivo social-democrata seria baixar os encargos sociais das classes baixa e média e implementar um "imposto de ricos".

Impasse numa zona intermediária

A tentativa de defender metas sociais sem deixar de se opor à crescente liberalização do Estado social coloca os social-democratas em uma zona intermediária vaga. Desde o grande pacote de reformas sociais do governo Schröder, conhecido como Agenda 2010, o SPD passou a ser acusado de trair sua origem proletária e foi abandonado pela ala esquerdista. Por outro lado, o partido ainda não definiu um perfil de centro que o diferencie dos outros.

"Desde o início dos anos 1990, os social-democratas tentaram reformar seus Estados sociais com uma política social de economia de mercado", avalia o semanário Die Zeit a situação européia. "Mas atualmente esses governos reformistas, se é que conseguiram se manter no poder, estão se movendo por águas politicamente perigosas, quase em toda a parte. De um lado, ameaçam os partidos de esquerda socialistas ou ex-comunistas, prometendo tudo e muito mais; de outro, ameaçam os partidos de direita que se livraram da carga neoliberal e passaram a transmitir um calor social", define o jornal o dilema social-democrata.

"Sem dúvida, a social-democracia está numa situação desafiadora", declarou Kurt Beck na última convenção do partido. Até as próximas eleições parlamentares, o SPD tem um ano e meio para enfrentar esse desafio, se quiser reconquistar a confiança do eleitorado alemão. (sm)