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Crimeia aprova anexação à Rússia, e Ocidente já prepara sanções

16 de março de 2014

Comissão eleitoral afirma que maioria esmagadora da população da península votou por voltar a fazer parte do território russo, num referendo considerado ilegal por EUA e UE.

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Foto: Reuters

Sob o olhar atento de milhares de militares russos, a população da república ucraniana da Crimeia decidiu neste domingo (16/03) por uma anexação à Rússia, segundo o resultado oficial de um referendo considerado ilegal pela União Europeia e pelos Estados Unidos e que deve levar a novas sanções políticas e econômicas às lideranças em Moscou.

No epicentro da mais grave crise entre o Ocidente e Moscou desde o fim da Guerra Fria, o resultado de mais de 95% de votos a favor da anexação, divulgado pela comissão eleitoral após apuração parcial, já era esperado: a península no Mar Negro tem maioria da população de origem russa e compartilha séculos de história com a Rússia.

Os olhares se voltarão, agora, para o Ocidente e para quais medidas serão tomadas contra o governo de Vladimir Putin. Entre as possíveis sanções estão a proibição de que políticos russos viajem à Europa e aos Estados Unidos, o congelamento de bens e até uma possível expulsão do G8 – grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia.

"Como os EUA e nossos aliados já deixaram claro, a intervenção e a violação da lei internacional trarão aumentos de custos para a Rússia", disse em comunicado o principal porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. "Neste século, nós estamos muito além dos dias em que a comunidade internacional ficava em silêncio enquanto um país se apodera à força do território de outro."

Da mesma forma se manifestou a União Europeia, que disse que a consulta popular é ilegítima. Para o bloco europeu e os EUA, o referendo, que teria tido participação de 80%, não é nem independente nem livre, devido à presença das tropas russas na região. Nesta segunda-feira, os ministros europeus do Exterior se reunirão em Bruxelas para decidir sobre mais sanções.

"A Europa dará uma resposta clara e determinada a esse referendo popular ilegal", disse o ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier.

Europeus: resposta firme

A Rússia, que vetou uma resolução de condenação ao referendo no Conselho de Segurança da ONU neste fim de semana, afirmou que respeitará a opinião da maioria da península. Os russos nem precisariam modificar sua legislação para anexar o território: para incorporar um "Estado independente e soberano", segundo a Constituição russa, basta a assinatura de um tratado bilateral.

No Twitter, o primeiro-ministro da região autônoma, Serguei Aksyonov, festejou o que chamou de "decisão histórica". E disse que a Crimeia vai formular e enviar a Moscou, já nesta segunda-feira, um pedido oficial de anexação à Rússia. "Estamos voltando para casa. A Crimeia é na Rússia", afirmou.

Aumentando a tensão, os novos governantes da Ucrânia, que são pró-Europa, acusaram a Rússia de fomentar o separatismo no país e anunciaram uma convocação para recrutar 20 mil homens para compor a recém-criada Guarda Nacional.

O ministro interino da Defesa da Ucrânia, Ihor Tenyukh, disse que a Rússia segue a postos com um reforço militar na Crimeia, violando um acordo dos tempos da União Soviética. O pacto diz que a Rússia pode basear até 12.500 soldados na Crimeia, mas Moscou teria agora 22 mil.

"Essa é uma violação grosseira de acordos bilaterais e a prova de que a Rússia tem trazido suas tropas ilegalmente para o território da Crimeia", disse Tenyukh.

Os grupos étnicos russos respondem por aproximadamente 60% da população da Crimeia. A região pertenceu ao Império Otomano entre 1475 e 1774. Somente após a guerra russo-turca (1768-1774), a península no Mar Negro conseguiu a independência. Em 1783, porém, o Império Russo anexou a Crimeia e fez dela uma província russa.

Em 1954, a Crimeia passou a fazer parte da Ucrânia, então república soviética. Em fevereiro de 1991, a península obteve o status de república autônoma, e ganhou nova Constituição. Um ano depois, proclamou sua independência, mas decidiu continuar fazendo parte da Ucrânia.

RPR/dpa/rtr/ap