Cresce parcela que não quer se vacinar contra coronavírus
12 de dezembro de 2020O número de brasileiros que não pretendem tomar uma vacina contra o novo coronavírus aumentou, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (12/12). O levantamento aponta que 22% dos entrevistados afirmaram que não pretendem se vacinar. Outros 73% disseram que querem tomar a vacina. E 5% declararam que não sabem.
O percentual de brasileiros que não querem tomar a vacina é significativamente mais alto do que no último levantamento do Datafolha. Em agosto, 9% afirmaram que não pretendiam se vacinar, contra 89% que eram favoráveis.
O Datafolha aponta ainda que a resistência à vacinação não tende a variar muito em diferentes grupos, seja pelo recorte de sexo, idade, escolaridade ou renda mensal. No entanto, o Instituto aponta que a desconfiança em relação à vacina é maior entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Brasileiros que afirmam sempre confiar no presidente Bolsonaro tem inclinação a se vacinar menos.
Segundo o Datafolha, 33% dos brasileiros que afirmaram sempre confiar no presidente Bolsonaro apontam que não vão se vacinar. O número cai para 16% entre aqueles que dizem nunca confiar no presidente.
O jornal Folha de S.Paulo, que divulgou a pesquisa Datafolha, aponta que o levantamento foi feito justamente em meio à chamada "guerra da vacina", que envolveu Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Nas últimas semanas, redes bolsonaristas têm intensificado ataques ao governador paulista, que ao longo da pandemia colocou em prática um plano para importar e fabricar localmente uma vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, a Coronavac.
Até o momento, a vacina promovida pelo governo de São Paulo é a que está mais avançada para uso em massa no Brasil. Doria já afirmou que pretende começar a vacinação no fim de janeiro.
Já o governo federal, que até o momento não apresentou um plano viável de imunização em curto ou médio prazo ou garantiu um leque diverso de vacinas, não tem disfarçado seu desdém pela Coronavac. Bolsonaro chegou até mesmo a celebrar publicamente a interrupção temporária dos testes da Coronavac em novembro, após a morte de um voluntário, em circunstâncias não relacionados ao experimento. No final de novembro, Bolsonaro também disse que não pretende tomar a vacina.
Ao longo da pandemia, o presidente minimizou repetidamente a covid-19, que já provocou mais de 180 mil mortes no Brasil. Ele também apostou na promoção de tratamentos sem eficácia científica contra a doença, como a aplicação de hidroxicloroquina, deixando a compra de vacinas em segundo plano.
No momento, a Coronovac está na fase final de testes. A atitude do governo federal levantou o temor que a Anvisa, agência reguladora federal responsável por aprovar o uso de vacinas, sofra interferência de Bolsonaro e atrase o processo de autorização.
O Datafolha também apontou que em meio à ofensiva de Bolsonaro contra a Coronavac, a população brasileira demonstrou mais resistência a uma vacina desenvolvida na China. Segundo o levantamento, 50% dos brasileiros afirmaram que não tomariam uma vacina que tem origem no país asiático. A resistência é menor em relação a imunizantes produzidos em países ocidentais. No caso de uma vacina dos EUA, a resistência é 23%. Em relação a uma vacina britânica, 26%. Nos últimos meses, redes bolsonaristas têm chamado a Coronavac, que começou a ser produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, de "vachina" e espalhado até mesmo mentiras delirantes sobre o imunizante ser um mecanismo disfarçado de controle da mente.
O Datafolha apontou ainda que a maioria dos brasileiros (56%) disse ser favorável que a vacina seja obrigatória para toda a população. Outros 43% são contrários à obrigatoriedade.
JPS/ots