Crack e o analgésico fentanil são drogas em alta na Alemanha
9 de março de 2024A droga, que cada vez mais também está se tornando um problema na Alemanha, parece bastante inofensiva, se assemelhando a um doce de cor clara. Quando elas vaporiza a 96 graus em um cachimbo, é possível ouvir ruídos de rachaduras e é aí que vem o nome: "to crackle", crack. É uma mistura de cocaína, bicarbonato de sódio e água que faz efeito após 10 segundos, no máximo, mais rápido do que qualquer outra droga. Promete um golpe de euforia e é extremamente viciante. E que leva diretamente à morte se consumida em excesso.
"A primeira prioridade é garantir a sobrevivência das pessoas, porque essa é uma situação muito ameaçadora. Se você imaginar que a substância pode ser consumida a cada meia hora, então há pouco tempo para recuperação, praticamente nenhum tempo para ingestão de alimentos, higiene ou cuidados com ferimentos", disse Michael Harbaum à DW. "O crack é, em última análise, cocaína fumável e dá uma sensação de euforia. E muitas vezes leva a estados psicóticos se você o consome por dias a fio."
Rápido aumento no consumo de crack
Harbaum trabalha há 20 anos no centro de ajuda a drogados de Düsseldorf, foi inicialmente chefe da sala de consumo de drogas e agora é diretor administrativo. Formado em pedagogia social já viu muita coisa nas ruas da cidade de 630 mil habitantes. Mas o que o crack faz com os viciados já é outra dimensão. Em 2017, ele calcula que sua organização contabilizou apenas algumas centenas de casos envolvendo crack na sala de consumo de drogas de Düsseldorf. No ano passado, no entanto, foram mais de 31 mil.
"Estamos observando um aumento rápido, e o comportamento está mudando de acordo com isso, assim como o empobrecimento das pessoas que nos procuram. Porque o crack é uma substância que tem um efeito muito forte e rápido, mas que também desaparece muito rapidamente. Nesse sentido, a pressão para voltar a usar rapidamente é muito grande", diz Michael Harbaum. "O cachimbo geralmente é compartilhado porque simplesmente não há dinheiro suficiente, e então eles compram algumas pedras por uns cinco euros (R$ 27), e todo mundo dá uma tragada."
Alta de mortes relacionadas a drogas
Em 2022, quase 2 mil pessoas em toda a Alemanha morreram em decorrência do uso de drogas, o nível mais alto dos últimos 20 anos. A heroína e os efeitos de longo prazo do uso de drogas ainda são as principais causas de morte entre os usuários, mas a intoxicação por cocaína e crack também aumentou, chegando a mais de 400 mortes. O professor Daniel Deimel, pesquisador de vícios, que, juntamente com outros especialistas, desenvolveu recomendações para lidar com o uso de crack, também se diz alarmado.
"O crack sempre foi um problema em Frankfurt, Hamburgo e Hannover por cerca de 20 anos. Desde 2016, a droga vem se espalhando no oeste da Alemanha e em outras grandes cidades, como Berlim, porque a Europa e, portanto, também a Alemanha, está sendo inundada com cocaína de alta pureza", diz Deimel. "O mercado de drogas está se expandindo porque a produção de cocaína na Colômbia aumentou significativamente. O mercado de drogas e os produtores se diversificaram."
Berlim busca cooperação com América do Sul
A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, acaba de retornar da América do Sul, onde esteve no Brasil, Equador, Colômbia e Peru, também para promover uma maior cooperação policial contra o tráfico internacional de drogas. Cada vez mais cocaína viaja da América do Sul para a Europa através dos portos de Antuérpia, Roterdã e Hamburgo.
Daniel Deimel não tem grandes ilusões. O mercado de cocaína existe na Alemanha, e a produção continuará em grande escala devido à alta demanda. "Vivemos aqui em uma sociedade de alto desempenho. A cocaína agora é consumida por muitas pessoas no meio da sociedade, o que levou a uma espécie de normalização. Não é mais a droga dos ricos, dos abastados, dos artistas e dos profissionais da mídia, o que era um clichê nas décadas de 1980 e 1990."
Ao contrário da heroína, o crack não é um substituto
Quando consumida como crack, a cocaína também chega aos pontos de venda das principais cidades da Alemanha. No ano passado, Deimel investigou a cena aberta das drogas em Colônia, e os resultados são claros: quase todos os usuários declararam que já fumaram crack em algum momento. Muitos deles são moradores de rua. E, em relação ao uso de crack, problemas psicológicos graves e até mesmo paranoia foram relatados com frequência. O maior problema, de acordo com Deimel, é a falta de um antídoto.
"Já existem intervenções medicinais muito bem desenvolvidas para a heroína, como o tratamento assistido por substituição com metadona. Para o crack, entretanto, não há nenhum medicamento autorizado e eficaz contra esse vício. Por isso, realmente precisamos de mais pesquisas nessa área. E um centro de ajuda emergencial que também esteja aberto à noite, com atendimento 24 horas por dia, 7 dias por semana."
Opioides sintéticos estão sendo cada vez mais consumidos
Há poucos dias, Michael Harbaum e sua equipe em Düsseldorf conseguiram acomodar 11 viciados em um novo alojamento diretamente na estação ferroviária principal da cidade, com equipe de segurança, assistência social e quartos individuais com fechadura. De acordo com especialistas, esse é um modelo que deve urgentemente estabelecer um precedente, pois, juntamente com o crack, já estão a caminho as próximas drogas altamente perigosas: opioides sintéticos, como o fentanil.
É preciso repensar apoio a viciados
O medicamento, com efeito analgésico de 10 a 50 vezes mais forte que a morfina, é misturado com heroína. Nos EUA, cerca de 10 mil pessoas morrem todos os anos de overdose de opioides. Em um projeto piloto realizado durante seis meses em 17 salas de consumo de drogas na Alemanha, a Deutsche Aids-Hilfe conseguiu provar que 3,6% das amostras de heroína fornecidas continham traços de fentanil.
"Suspeitamos que esse número aumentará nos próximos 12 a 18 meses", teme Daniel Deimel. "Os opioides sintéticos estão sendo introduzidos no mercado e diluídos com heroína. O problema é que essas substâncias são significativamente mais potentes, ou seja, a dose letal. No caso do fentanil, dois miligramas são suficientes, o que equivale à ponta de um lápis."
No ano passado, houve 54 emergências relacionadas a drogas em Dublin, capital da Irlanda, devido ao opioide sintético nitazene. Em Birmingham, na Inglaterra, 30 pessoas morreram no verão de 2023 devido ao uso de heroína contendo opioides sintéticos. O governo alemão também foi alertado para o problema.