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CPI das Americanas vai mesmo acabar em pizza?

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
6 de setembro de 2023

Se depender do Congresso, comissão para investigar maior escândalo contábil de uma empresa na história do Brasil não vai dar em nada. E o que não falta são sinais de irregularidades e testemunhas para ouvir.

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Entrada de uma unidade da rede Lojas Americanas em Brasília
Faltam R$ 20 bilhões no balanço contábil das Lojas AmericanasFoto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

O maior escândalo de fraude contábil da história do Brasil veio à luz no dia 11 de janeiro de 2023. Sergio Rial, o ex-chefe do banco Santander no Brasil, havia assumido como CEO (presidente executivo) da Americanas nove dias antes. E percebeu que faltavam R$ 20 bilhões nos balanços da empresa. Eles haviam sumido. E a eles somavam-se dívidas de outros R$ 20 bilhões.

Sete meses depois, uma CPI da Câmara dos Deputados concluiu que ficou comprovada fraude, mas que "não houve como determinar de forma precisa a autoria dos fatos identificados nem imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas".

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Americanas, o deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), disse que, apesar da fraude da antiga diretoria-executiva da empresa varejista, não vê participação dos bancos, das auditorias nem dos acionistas de referência da empresa, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Alberto Sicupira e Marcel Telles.

O que não é exatamente uma surpresa, pois a CPI nem mesmo se deu ao trabalho de ouvir possíveis suspeitos. A CPI se recusou a ouvir o trio de acionistas de referência com o argumento de que isso poderia causar pânico no mercado de capitais.

E os bancos que deram créditos para a Americanas, apesar de certamente estarem cientes dos balanços falsificados, também não foram chamados para se explicar no Congresso. Parte da CPI até mesmo se encontrou, longe dos olhos da opinião pública, com representantes desses bancos numa mansão do Lago Sul, em Brasília.

Assim, não surpreende que Chiodini diga acreditar que os bancos tenham sido vítimas da fraude, mas que também erraram ao confiar demais na varejista e oferecer crédito além do limite que seria aceitável em outros negócios.

Também não foram chamados para depor membros do comitê de auditoria da empresa, o conselho fiscal e o segundo escalão da companhia, os chamados diretores não estatutários.

Só Sergio Rial foi ouvido duas vezes, o CEO que ficou apenas nove dias no cargo e que desde agosto de 2022 já sabia que viria a ser chefe das Americanas e que por muito anos, como presidente do Santander, foi um dos principais fornecedores de crédito às Americanas.

Mas que, quando tomou conhecimento da fraude nos balanços, logo após assumir o cargo, sentiu um "soco no estômago" e até hoje jura que os três acionistas não tinham nada que ver com a fraude contábil.

A CPI queria encerrar seus trabalhos de forma discreta e silenciosa. Também o poderoso presidente do Congresso, Arthur Lira, não quer prorrogá-la, segundo dizem porque a comissão gera muitas notícias ruins sobre o Legislativo.

Mas aí, quando tudo parecia se encaminhar para uma bela pizza, o ex-CEO da Americanas, que dirigiu a empresa por 20 anos, resolveu se pronunciar. Miguel Gutierrez afirmou que os controladores da empresa – Lemann, Telles e Sicupira – participavam ativamente do cotidiano da varejista e que a atuação era ainda mais forte na área financeira, onde foi executada a fraude de R$ 20 bilhões.

Isso é uma reviravolta constrangedora para a CPI: Chiodini vai mesmo encerrar os trabalhos apesar das graves acusações de um dos principais envolvidos? Ou ouvir testemunhas pra valer e tentar lançar luz nas trevas? Reuniões de crise devem estar se sucedendo em Brasília e na Faria Lima.

O que já ficou claro: os deputados em Brasília se dobram ao poder econômico. Eles simplesmente não têm nenhum interesse em descobrir o que os poderosos da elite econômica fazem de errado. Já foi assim nas CPIs da Lava Jato, nas quais deputados concorriam para ver quem elogiava mais empresários como Marcelo Odebrecht. Nada mudou desde então.

Esse é um momento triste para o Congresso, a transparência das empresas e para o mercado financeiro no Brasil.

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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.