Covid, polêmicas e escândalos assombram os Jogos de Tóquio
22 de julho de 2021Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 foram alvo de um novo escândalo nesta quinta-feira (22/07), quando um dos principais organizadores do evento foi demitido por piadas que fizera no passado sobre o Holocausto. O incidente ocorre a poucas horas do evento oficial de abertura no novo Estádio Nacional.
Kentaro Kobayashi, comediante e um dos diretores criativos da cerimônia de abertura marcada para a noite de sexta, foi demitido depois que vieram à tona piadas antissemitas feitas por ele em 1998. A esquete em questão incluía a frase "Vamos brincar de Holocausto".
"Eu entendo que minha escolha estúpida de palavras na ocasião foi errada e me arrependo. Para aqueles que deixei desconfortáveis, sinto muito", disse Kobayashi em um comunicado divulgado nesta quinta.
Os organizadores tentaram colocar um ponto final na história, mas o episódio é apenas o mais recente em uma longa série de problemas que têm assombrado os Jogos de Tóquio.
Se, por um lado, a possibilidade de se prever a pandemia de coronavírus era algo questionável – assim como sua realização pouco defensável –, muitos dos outros problemas que mancharam o maior evento esportivo da história do Japão são resultado do julgamento inadequado por parte de indivíduos.
Jogos de Tóquio "amaldiçoados"
Somadas, as crises em torno dos Jogos parecem reforçar uma observação feita por Taro Aso, o vice-primeiro-ministro japonês, no ano passado, de que os Jogos Olímpicos de 2020 pareciam "amaldiçoados".
"É inacreditável que os organizadores só estejam descobrindo agora, um dia antes da grande cerimônia de abertura, o que esse cara disse sobre o Holocausto", disse à DW Robert Dujarric, codiretor do Instituto de Estudos Asiáticos Contemporâneos da Universidade Temple em Tóquio.
"Uma mera pesquisa no YouTube teria revelado isso. Então por que ele não foi investigado?", questiona. "Do ponto de vista das relações públicas, é um pesadelo completo, mas ficou muito pior porque houve outros problemas semelhantes com pessoas envolvidas nos Jogos."
Na segunda-feira, o músico japonês Keigo Oyamada, que compôs um dos temas da cerimônia de abertura dos Jogos, foi pivô de outro escândalo. Acusado de ter praticado bullying contra crianças com deficiência mental quando era adolescente, ele pediu demissão ao Comitê Organizador após um pedido de desculpas se mostrar insuficiente para acalmar as críticas do público.
Em março, o diretor criativo das cerimônias de abertura e encerramento, Hiroshi Sasaki, também foi forçado a renunciar após sugerir que a atriz e comediante japonesa Naomi Watanabe fosse fantasiada de porco para o evento, que será assistido por bilhões de pessoas ao redor do mundo.
Em fevereiro, o ex-primeiro-ministro Yoshiro Mori, que chefiava o Comitê Organizador, já havia renunciado após comentários sexistas terem gerado uma onda de indignação: ele declarou que reuniões do comitê com mulheres presentes sempre se prolongam por muito tempo.
Atletas testam positivo
Nesta semana, foi anunciado ainda que dois atletas – a skatista holandesa Candy Jacobs e o jogador de tênis de mesa tcheco Pavel Sirucek – e dez funcionários de apoio testaram positivo para covid-19. Isso eleva o número total de pessoas ligadas aos Jogos infectadas para 87, com pelo menos três dos casos detectados na Vila Olímpica.
Enquanto isso, o vírus continua a se espalhar entre o próprio público japonês, com a variante delta da doença, mais contagiosa, já respondendo pela maioria dos novos casos em Tóquio. Na quarta-feira, as autoridades de saúde relataram 1.832 novas infecções na capital, o maior número em um único dia desde meados de janeiro.
Especialistas alertam que a situação deve piorar no curto prazo. Um painel que assessora o governo metropolitano de Tóquio prevê um quadro "mais crítico do que a terceira onda" da pandemia até o final da semana que vem. Durante os Jogos, novas infecções podem atingir recordes históricos de 2,6 mil casos, colocando intensa pressão sobre os hospitais e clínicas do país.
Mais quente que o normal
E como se tudo isso não bastasse, há ainda uma preocupação crescente com as atuais condições atmosféricas no Japão. Os elevados níveis de temperatura e umidade, mais altos do que o normal para esta época do ano, representam um risco adicional para atletas, organizadores e voluntários nos Jogos.
Um treino de vôlei de praia chegou a ser adiado no início desta semana porque a areia estava quente demais para os pés dos jogadores, com a temperatura chegando a 34 °C na capital na terça-feira. Na tarde de quinta, os termômetros de Tóquio marcavam 33 °C, mas uma umidade próxima a 60% criava uma sensação térmica próxima de 39 °C.
Dois anos atrás, os organizadores haviam decidido mover a maratona e as marchas atléticas para a cidade de Sapporo, cerca de 800 quilômetros ao norte de Tóquio, para aproveitar as condições mais amenas no verão. Mas durante toda esta semana, a cidade também tem apresentado um ambiente sufocante, com as mais altas temperaturas em 20 anos.
"Moro em Sapporo há muitos anos e não consigo me lembrar de temperaturas na faixa de 35 °C no início do verão", diz Yoko Tsukamoto, professora de controle de infecções da Universidade de Ciências da Saúde de Hokkaido.
"As autoridades municipais têm emitido avisos diariamente sobre o calor, lembrando às pessoas de beberem bastante água, mas será muito difícil para os atletas da maratona competirem em dias tão quentes", afirmou ela à DW. "Não acho que serão quebrados muitos recordes nesses Jogos Olímpicos."