Cotidiano no sertão exposto em Berlim
11 de janeiro de 2003A socióloga alemã Jutta Bangel, que trabalhou durante dois anos na sede do Serviço Alemão para o Desenvolvimento (DED) em Ouricuri, Pernambuco, selecionou 35 fotografias da brasileira Gyzia Pimentel e do americano Daniel Aamot para a exposição que está à mostra na Oficina das Culturas (Werkstatt der Kulturen) de Berlim até 16 de fevereiro.
A mostra Senhoras do Tempo é um projeto realizado em cooperação com a ONG Articulação no Semi-Árido (ASA), o DED e as organizações KoBra/IPSL e Misereor, esta mantida pela Igreja Católica.
"Quis mostrar o forte engajamento do povo sertanejo na luta por condições de vida, a sua tenacidade e criatividade para vencer o rigor das intempéries em condições climáticas extremas. E também a solidariedade que lá existe, vinda das atividades de dezenas de ONGs da sociedade civil brasileira, todas empenhadas num futuro melhor para um sertão sem fome e sem pobreza", esclarece Bangel.
Perseverança aliada à esperança
Os trabalhos e textos que compõem a mostra retratam, por um lado, a dureza da vida no sertão, em especial no que toca às mulheres e crianças. "Quando não chove, a plantação seca, e os homens vão procurar trabalho em cidades muitas vezes longínquas, são elas que ficam em casa cuidando da sobrevivência da família", é assim que Bangel expõe as experiências que observou durante sua estada na região.
Outro aspecto ressaltado é o das possibilidades de mudança e obtenção de uma vida mais digna para os sertanejos, por meio da tecnologia aplicada à agricultura e pecuária e do aproveitamento das águas pluviais. "São inúmeras as iniciativas de organizações não-governamentais que visam uma vida econômica e ecologicamente sustentável para a população do sertão", ressalta ela.
Diante das fotografias, o professor Berthold Zilly, do Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim, presente à vernissage, parafraseou a conhecida frase de Euclides da Cunha em Os Sertões, obra que ele traduziu para o alemão: "Não somente o sertanejo é antes de tudo um forte, mas também as mulheres".