Coronavírus cria clima de ressaca nas cervejarias alemãs
18 de abril de 2020Na Alemanha, a época atual é ideal para ir a um biergarten: as temperaturas estão agradáveis, com muito sol, e a Bundesliga se encaminha para a fase final.
Ou melhor, estaria se encaminhando – se não fossem as medidas de isolamento social impostas devido ao novo coronavírus. Por causa delas, a Bundesliga parou, e os biergartens, assim como os restaurantes e bares, estão fechados.
Todo o setor de bares e restaurantes da Alemanha sente os efeitos, e também as 1.500 cervejarias do país. Muitas delas estão ameaçadas de fechar em definitivo por causa da crise.
Segundo a associação do setor, a DBB, principalmente as pequenas cervejarias devem grande parte de seu faturamento ao fornecimento de cerveja a restaurantes e bares. Em alguns casos, as encomendas destes estabelecimentos respondem por até 90% do faturamento.
A cervejaria Moritz Fiege, uma empresa tradicional e de médio porte da cidade de Bochum, é uma das que estão sentindo os efeitos da crise. No ano passado, a cervejaria produziu 130 mil hectolitros. Ela abastece cerca de 300 estabelecimentos na sua região.
Com o fechamento dos restaurantes e bares, o fornecimento de cerveja no barril (o mais popular na Alemanha) despencou. Ele responde por 20% do faturamento da Moritz Fiege. Para completar, o time da cidade, o Bochum, não está mais jogando, e, portanto, não há mais venda de cerveja no estádio.
A cervejaria pretende reduzir a jornada de trabalho de 12 de seus 80 funcionários nos próximos dias. O presidente da empresa, Hugo Fiege, prevê que a situação de exceção ainda vai durar, e que os estabelecimentos só lentamente retornarão à normalidade.
Mas não apenas as pequenas, também as grandes cervejarias enfrentam dificuldades. É o caso da Veltins, uma empresa familiar de Meschede-Grevenstein, ou da marca mais vendida no país, a Krombacher, de Kreuztal, que produziu 6 milhões de hectolitros no ano passado.
"As vendas nos restaurantes praticamente não existem mais", diz o porta-voz da Krombacher, Peter Lemm. Bares e restaurantes respondem por cerca de 15% das vendas da empresa.
Marcas renomadas, como a Krombacher e a Veltins, têm ainda uma fonte adicional de ingressos, que cervejarias pequenas não costumam ter: as exportações. No caso da Krombacher, esse setor respondeu por 5% das vendas no ano passado. "Mas também aqui o faturamento despencou quase a zero", lamenta Lemm.
Marcas alemãs famosas são muito apreciadas no exterior. Por isso, as consequências da atual situação não podem ser ignoradas. A Itália, com 3,4 milhões de hectolitros, e a China, com 1,8 milhão de hectolitros, são os principais mercados, segundo os números de 2019. Segundo a DBB, no momento, está quase tudo parado nas vendas ao exterior.
E há ainda os festivais de rock e as festas tradicionais de norte a sul – tudo cancelado. Assim como casamentos, bodas e outras festejos familiares. As cervejarias tiveram que amargaram vários cancelamentos de encomendas. As mais atingidas, aqui, são as cerca de 1.100 pequenas marcas regionais, com capacidade de produção anual inferior a 5 mil hectolitros.
O governador da Baviera, Markus Söder, já sinalizou que até a Oktoberfest de Munique poderá não ocorrer este ano.
As temperaturas em alta sinalizam o início da temporada dos churrasquinhos na grelha, uma mania nacional na Alemanha e que sempre eleva as vendas de cerveja. Mas, este ano, as perspectivas não são animadoras.
"Se ninguém pode se encontrar com os amigos, não há motivo para celebrar nem para consumir cerveja", resume Marc-Oliver Huhnholz, da DBB. "Os próximos dias vão mostrar o quanto as pessoas ainda consumirão em casa e o quanto será completamente perdido."
Dentro de casa, porém, se bebe menos cerveja, apesar da quarentena.
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