"Coronavírus chegará a todos os países do Hemisfério Norte"
25 de fevereiro de 2020As autoridades da Itália afirmaram nesta terça-feira (25/02) que o número de casos de coronavírus no país aumentou 45% em apenas um dia. Até o momento, há 12 mortos. O governo confirmou também que 322 pessoas foram infectadas, cem a mais do que na segunda-feira. Além da região norte, há casos nas províncias de Sicília, Toscana e Ligúria.
Com o número crescente de infecções por coronavírus na Itália, existe a preocupação de que a doença se espalhe para outras regiões da Europa. Já há casos confirmados em vários países, mas não com a mesma intensidade da situação italiana.
Para Gérard Krause, chefe do departamento de epidemiologia do Centro Helmholtz de Pesquisa de Infecções em Braunschweig, no centro-norte da Alemanha, é impossível impedir que países do Hemisfério Norte se livrem de registrar casos em algum momento.
"Mais cedo ou mais tarde, todos os países de latitudes setentrionais serão confontados com o coronavírus", frisou o especialista, em entrevista à DW.
DW: Com os casos de coronavírus na Itália aumentando tão rapidamente, a região da Lombardia, particularmente afetada pela infecção, está sendo chamada de "Wuhan da Europa" pela imprensa. Essa descrição faz jus?
Gérard Krause: É um pouco exagerada, simplesmente por causa do número de pessoas afetadas e de habitantes por quilômetro quadrado na região. Então essa é uma situação muito diferente.
Após o surto na Itália, qual é o risco de o coronavírus se espalhar sem controle pela Europa?
Em tal situação, é importante determinar de forma adequada o momento certo de mudar da contenção para o alívio de uma epidemia. Não se deve ter a ilusão de que podemos impedir que um país fique livre de tal infecção para sempre. É pouco provável que tenhamos sucesso contra esse patógeno. Mais cedo ou mais tarde, todos os países de latitudes setentrionais serão confrontados com o coronavírus. Mesmo assim, pode fazer sentido começar a preparar hospitais, criar sistemas de alerta precoce e aprender mais sobre o vírus para poder responder melhor.
Isso significa que não faria realmente sentido estabelecer, por exemplo, controles de saúde nas fronteiras entre os países da União Europeia para medir a temperatura corporal dos viajantes, como foi feito nos aeroportos?
Existem vários cálculos que mostram que essas medidas não costumam trazer muitos resultados. A eficácia desses controles nas fronteiras não é particularmente promissora para esse patógeno, porque a maioria dos infectados não tem inicialmente qualquer queixa sobre sintomas. Portanto, eles não seriam perceptíveis durante as verificações de saúde.
A Itália é um destino turístico popular. Dada a situação atual, você desaconselharia, por enquanto, passar as férias no país? Ou os turistas não precisam se preocupar desde que não visitem as regiões afetadas pelo coronavírus?
Pessoalmente, eu não desaconselho uma visita à Itália, porque presumo que também teremos regiões na França, Alemanha e outros países onde tais surtos podem acontecer. A esse respeito, não vem mais ao caso a questão sobre ir para lá ou não.
O Carnaval em Veneza foi parcialmente cancelado, e 11 municípios foram colocados em quarentena. Essas medidas são exageradas ou justificadas?
Após o ocorrido, as pessoas se tornam mais espertas, mas chegará um momento em que essas medidas não farão mais sentido. Talvez agora é a hora certa de tomar medidas rigorosas para ganhar tempo. Mas não se pode tomar tais medidas para cada nova comunidade ou país da Europa onde o vírus aparecer.
Como é possível se proteger de forma eficaz do coronavírus quando se viaja?
Neste momento, o viajante deve se informar novamente sobre as recomendações gerais de higiene. Portanto, lavar as mãos e, se estiver doente, evitar o contato com outras pessoas. No caso do coronavírus, tudo o que você faz para se prevenir contra uma gripe pode também ser feito.
Por exemplo, levar consigo algumas máscaras de proteção?
As máscaras simples são boas se você mesmo estiver doente e não quiser infectar outras pessoas. Mas se você quiser se proteger, deve usar máscaras descartáveis do tipo FFP3 [que tem alta eficiência contra vírus e bactérias], colocá-las corretamente e trocá-las com frequência suficiente, o que é muito trabalhoso.
E essas medidas servem mais para pessoas que têm um sistema imunológico particularmente vulnerável. Adicionalmente, não há outras formas de proteção, pois não há vacina nem terapia profilática.
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