Vinicultura na Alemanha
26 de outubro de 2011Em comparação com as grandes nações vinícolas europeias, os vinhedos alemães ocupam uma área reduzida: pouco mais de 100 mil hectares. Na França e na Itália, as áreas chegam a 900 mil hectares e, na Espanha, a 1,2 milhão de hectares. No entanto, a vinicultura representa uma forte tradição no país e é um importante fator econômico, tanto pelo vinho em si como pelo estímulo ao turismo.
Um terço dos vinhos alemães é hoje produzido por cooperativas: uma tradição que vem de longe. Em meados do século 19, o reformador social Friedrich Wilhelm Raiffeisen dizia: "O que não é possível individualmente, consegue-se coletivamente." Ou seja, a união faz a força.
Como funcionário comunitário, Raiffeisen tentou aliviar o sofrimento da população rural, que muitas vezes caía na mão de agiotas, ao enfrentar problemas com as safras. E fundou associações beneficentes com o fim de ajudar os agricultores a atravessar os tempos difíceis.
O modelo de cooperativa desenvolvido por Raiffeisen logo se estabeleceu. Em 1868, foi fundada a primeira cooperativa vinícola da Alemanha, em Mayschoss, no vale do rio Ahr. Modelos parecidos se seguiram, principalmente no sul do país.
Até meados do século 20, o comércio do vinho se dava principalmente por meio de comissionistas. Os produtores entregavam seu vinho ao comércio, que estipulava os preços. O objetivo das cooperativas era acabar com esse ditame.
Sul do país
Apesar de os vinhedos de Baden-Württemberg não estarem entre os maiores da Alemanha, nesse estado se localizam a maioria e as maiores cooperativas do país. Na adega da cooperativa Breisach, na região de Freiburg, há tonéis gigantes – o maior deles com capacidade para 1,2 milhão de litros. Na época da colheita, ele pode processar até 2,5 milhão de quilos de uva por dia. As caves armazenam de 20 a 25 milhões de litros de vinho por ano.
Mas nem todas as cooperativas vinícolas alemãs são tão grandes como a de Breisach. As com 80 a 100 hectares também já conseguem ser rentáveis. O princípio básico é claro: uma grande empresa pode investir com mais facilidade. Máquinas que trabalham com grandes quantidades são mais produtivas do que as de pequena escala.
O fato de as cooperativas serem difundidas principalmente no sul da Alemanha pode ser explicado por razões históricas. A distribuição das terras seguia o princípio da Realteilung – a partilha igual da herança entre todos os herdeiros. E a cada geração ocorria uma nova divisão, explica Dieter Weidmann, presidente da cooperativa central dos produtores de vinho de Baden-Württemberg.
Tal política de distribuição das terras levou a um fracionamento dos vinhedos, cuja exploração econômica individual já não era mais vantajosa para os proprietários. Em outras regiões, geralmente o filho mais velho recebia a herança e podia, assim, continuar cultivando uvas de forma rentável.
Dificuldades atuais
Há 202 cooperativas vinícolas na Alemanha. Enquanto elas são hoje responsáveis por cerca de um terço dos vinhos produzidos no país, na França e na Itália, essa proporção chega a 50%. Atualmente, 50 mil vinicultores trabalham nas cooperativas alemãs, enquanto na França há 95 mil cooperativados. Entretanto, eles representam uma porcentagem bem menor dos vinicultores do país, em face da superfície de cultivo nove vezes maior.
Muitos falam hoje em uma grande mudança estrutural na Alemanha. O consumo de vinho diminuiu em todo o mundo, e a Alemanha é um dos mercados mais atraentes para produtores estrangeiros. Isto significa concorrência acirrada para os vinicultores alemães.
Uma onda de fusões e aquisições atravessa o mundo dos vinhos. As empresas precisam se expandir para garantir rentabilidade. O número das cooperativas diminuiu consideravelmente, enquanto a área de cultivo de uva permaneceu igual. Porém empresas pequenas de alta qualidade continuam tendo boas chances num mercado estagnado e que só se mantém à custa da supressão dos concorrentes.
Com alta qualidade e conceitos de marketing ousados, tanto cooperativas como vinicultores privados tentam conquistar nova clientela, dentro e fora do país. Após dois anos de más safras, falta a muitos o capital para os investimentos necessários. Isso pode agravar ainda mais nos próximos tempos a tendência de fusões e aumentar o número de afiliados das cooperativas.
Autor: Günther Birkenstock (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer