Ballack x Boateng
20 de maio de 2010Embora Kevin Boateng seja jogador da seleção de Gana, foi o nome mais comentado da semana no futebol alemão. Foi ele quem cometeu a falta que rompeu os ligamentos do tornozelo direito de Michael Ballack e tirou da Copa do Mundo o capitão da Alemanha – e as duas seleções estão no mesmo grupo na primeira fase do Mundial.
O lance aconteceu na final da Copa da Inglaterra no último sábado (15/05) e rendeu apenas um cartão amarelo. Na partida, o Chelsea de Ballack venceu o Portsmouth de Boateng por 1 a 0 e foi campeão nacional.
Longa história
Mesmo antes do lance do último sábado, Kevin Boateng já era um jogador polêmico na Alemanha. Nascido em Berlim, ele optou por defender a seleção ganense em junho de 2009, um mês depois de ser cortado da seleção alemã sub-21.
Na versão oficial, ele saiu da seleção sub-21 da Alemanha por causa de uma contusão. Extraoficialmente, porém, se diz que a comissão técnica teria tomado esta decisão porque o jogador não seria confiável, pontual nem obediente. No Hertha Berlim e no Borussia Dortmund, clubes que defendeu no país, era considerado baderneiro e perturbador.
É um jogador muito forte, com um estilo agressivo, que por muitas vezes é considerado violento. Até mesmo o craque do passado Franz Beckenbauer já o acusou de tentar machucar outros jogadores intencionalmente.
O irmão bom e o irmão mau
Kevin Boateng tem ainda de lidar com as comparações com seu meio-irmão. Jérome Boateng, de 21 anos, é zagueiro do Hamburgo e foi pré-convocado por Joachim Löw para defender a Alemanha na Copa.
Filhos do mesmo pai – um ganense –, os dois cresceram em ambientes diferentes de Berlim. Jérome foi criado por uma mãe presente, que exigia do filho boas notas na escola, enquanto Kevin morava com muitos irmãos numa zona mais pobre da cidade e passava muito tempo nas ruas.
Kevin acusa a Federação Alemã de Futebol de colaborar na construção desta imagem negativa. "Infelizmente, alguns funcionários na Alemanha põem lenha na fogueira quando dizem que o Jérome é o irmão bom e eu o mau. Isto é uma piada! Até por isto eu escolhi jogar por Gana. Eu considero esta ideia de clichês ultrapassada", reclamou o atleta.
Quanto ao lance da contusão, o jogador rebate as insinuações – inclusive do próprio Michael Ballack – de que teria sido mal-intencionado. "Eu só posso pedir desculpas. Eu cheguei atrasado e o atingi em cheio, foi uma besteira minha. Eu pedi desculpas duas vezes lá no campo, e agora pela terceira vez. Eu lamento, não tive a intenção", disse.
Jérome defende o irmão
Como todos os jogadores da seleção alemã, Jérome Boateng lamentou muito a saída de Ballack da Copa do Mundo. "Eu lamento muito pelo Michael, ele é um bom capitão, sempre toma a frente", disse o jogador, que já conversou com Ballack depois do incidente.
Mas Jérome aproveitou para defender o irmão. "Eu o conheço melhor que todos os outros e sei que ele não fez de propósito", afirmou. "O Kevin não tem boa fama, mas não se deve exagerar. Ele se desculpou, ele lamenta. Se ele pudesse, desfaria o que fez", completou.
Jérome também não teme que sua participação na seleção alemã seja influenciada de alguma forma por esta polêmica. "Nós somos irmãos, mas somos duas pessoas diferentes. Isto aconteceu com o Kevin", enfatizou.
Ballack pode ir à Justiça
Michael Ballack disse, ainda no sábado, que não considerou a falta como um lance normal do futebol. Agora, ele já considera entrar com um processo na Justiça contra Kevin Boateng. "Na minha opinião, a entrada de Boateng não foi um encontrão, mas um ferimento corporal anunciado", disse Michael Becker, advogado de Ballack.
O capitão da seleção alemã acusou Kevin Boateng de mentir sobre o pedido de desculpas. "Este pedido de desculpas depois do lance foi inventado. É uma afirmação de defesa de um agressor sem critérios que sempre vai por este caminho", rebateu.
No entanto, Ballack já aceitou que está fora da Copa do Mundo e quer virar esta página. "É natural que eu esteja aborrecido e decepcionado, mas no futebol não se deve ficar remoendo", disse o meia, que acrescentou: "Eu não quero que tenham dó de mim, mas que mandei sinais positivos. É o que me dá força".
TM/dw/dpa/sid
Revisão: Roselaine Wandscheer