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PolíticaFrança

Conservadores negociam aliança com ultradireita na França

12 de junho de 2024

Parceria com o RN de Le Pen, grande vencedor das eleições europeias, quebraria um tabu de décadas no país. Políticos estão de olho em oportunidade de emplacar primeiro-ministro e maioria na Assembleia Nacional.

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Uma mulher loira de meia idade discursa. Atrás dela há um telão e um homem de terno e gravata
A ultradireitista Marine Le Pen discursa em pódio onde se lê: "A França está de volta." Após décadas de isolamento, grupo poderá finalmente ser parte do establishment políticoFoto: Andre Pain/EPA

De olho na oportunidade aberta neste fim de semana para assumir o poder em eleições antecipadas, o chefe do partido conservador francês Os Republicanos (LR), Eric Ciotti, sugeriu nesta terça-feira (11/06) – para a surpresa de observadores políticos – que é hora de superar o tabu que durante anos impediu partidos do mainstream político de se aliarem à ultradireita no país.

"Nós dizemos as mesmas coisas, então vamos parar de inventar uma oposição imaginária", afirmou Ciotti à emissora de TV TF1. "Isso é o que a grande maioria de nossos eleitores quer. Eles estão nos dizendo: 'façam um acordo.'"

Representada por Marine Le Pen e seu partido Reagrupamento Nacional (RN), a ultradireita francesa foi a grande vencedora das eleições ao Parlamento Europeu. Só o RN abocanhou no último domingo 30 dos 81 assentos que a França tem na câmara baixa do Legislativo da União Europeia – mais que o dobro das 13 cadeiras eleitas pela coalizão centrista do presidente francês Emmanuel Macron.

Em reação ao fiasco nas eleições europeias, Macron dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para a Assembleia Nacional.

O movimento é considerado arriscado, já que, se perder, Macron terá que governar até o fim de seu mandato, em 2027, ao lado de um primeiro-ministro de oposição – na semi-presidencialista França, o presidente depende de um primeiro-ministro apontado pelo Parlamento para assegurar a governabilidade.

Posição não é unânime entre conservadores

Em resposta à declaração de Ciotti, vários colegas de partido se manifestaram contra uma colaboração com Marine Le Pen.

"É impensável para mim – e para muitos parlamentares do LR – que possa haver o menor acordo, a menor aliança, mesmo local ou pessoal, com o RN", disse o parlamentar conservador Philippe Gosselin à agência de notícias Reuters.

Presidente do RN, Jordan Bardella disse à emissora France 2 que seu partido apoiará "várias dezenas" dos atuais parlamentares republicanos e seus candidatos na eleição. "Confirmo que haverá um acordo entre o Reagrupamento Nacional e os Republicanos", declarou, segundo a agência de notícias AFP.

Le Pen saudou a declaração de Ciotti, chamando-a de "escolha corajosa".

Herdeiro de Charles de Gaulle e Jacques Chirac, o LR tem tido dificuldades em se definir desde a queda de Nicolas Sarkozy e a debandada centrista liderada por Macron.

Um homem branco, careca, usando óculos e vestindo terno e gravata sorri enquanto é cercado por repórteres
Eric Ciotti, chefe do partido francês Os Republicanos (foto de arquivo)Foto: Quentin Veuillet/NurPhoto/picture alliance

Todo mundo à procura de aliados

Embora o RN de Le Pen deva se sair bem nas próximas eleições, em 30 de junho e 7 de julho, pesquisas mostram que é improvável que a sigla conquiste votos suficientes para governar sozinha – ela obteria até 265 cadeiras na Assembleia Nacional, um grande salto em relação às atuais 88, mas ainda assim abaixo das 289 necessárias para uma maioria absoluta.

Desde que Macron dissolveu o Parlamento, grupos à direita e à esquerda do espectro político têm conversado.

Na terça, a sobrinha de Le Pen, Marion Marechal, do também ultradireitista Reconquista, disse que não houve progresso em conversas entre as duas siglas.

Partido anti-imigração, o RN apregoa políticas econômicas que ponham a França em primeiro lugar, defende a restrição de benefícios sociais a crianças de cidadãos franceses e a revogação do direito de residência de imigrantes que estejam há mais de um ano desempregados.

O RN também defende expansão dos gastos públicos, apesar do alto nível de endividamento francês.

ra/md (AFP, AP, Reuters, ots)