Conseqüências de Tchernobil perduram até hoje na Alemanha
26 de abril de 2006
A gravidade da notícia que se disseminou de Tchernobil para o Ocidente a partir de 26 de abril de 1986 demorou a ficar clara para os alemães – mas, quando ficou, foi com toda intensidade. O inimaginável havia acontecido, inimaginável até mesmo para os inúmeros movimentos ambientalistas que há anos alertavam para os perigos da energia nuclear.
A rejeição à energia nuclear foi decisiva para o crescimento do Partido Verde, que havia chegado pela primeira vez ao Parlamento em 1983. Muitos alemães já estavam céticos em relação às usinas nucleares, mas, após Tchernobil, a rejeição atingiu uma faixa mais ampla da população. Uma situação que se mantém até hoje.
"O acidente em Tchernobil ajudou a quebrar a espinha dorsal das usinas nucleares na Alemanha", afirma Jörn Ehlers, do grupo ambientalista WWF. Ele lembra que, nos anos 70, havia planos para a instalação de mais de cem reatores nucleares no país. "No final, 20 foram postos em funcionamento e, pelo que eu sei, apenas um após Tchernobil. Hoje, sentimos o lento abandono da energia nuclear, e Tchernobil foi o pontapé inicial disso."
Contaminação
Em 1986, a catástrofe espalhou o pânico entre a população, principalmente depois que a nuvem de pó radioativo atingiu também a Alemanha. Os telefones das autoridades responsáveis ficaram sobrecarregados de ligações de pessoas querendo informações. Agricultores, cujos produtos ninguém mais queria consumir, obtiveram auxílio imediato do governo.
Até hoje, florestas e tudo o que nelas vive pode estar contaminado por radioatividade em regiões da Baviera e de Baden-Württemberg, afirma Edmund Lengfelder, biólogo da Universidade Ludwig Maximilian. Os mais atingidos são os porcos selvagens, que se alimentam de carvalhos, frutos da faia e cogumelos contaminados com Césio 137, explica o professor.
Política
Em 1986, o então chanceler federal Helmut Kohl tomou uma decisão que surpreendeu a todos: já em junho, o governo criou o Ministério do Meio Ambiente. Até então, era o Ministério do Interior que se ocupava das questões ambientais. Mas a União Democrática Cristã (CDU) e o Partido Liberal (FDP) não queriam abrir mão da energia nuclear.
"O SPD se decidiu pelo abandono da energia nuclear no prazo de dez anos. Os sindicatos seguiram rapidamente o mesmo caminho", lembra Lutz Mez, especialista em meio ambiente da Universidade Livre de Berlim. "Também dentro da CDU havia algumas vozes a favor do abandono, mas a política da época acabou vacilando devido à posição do governo. Isso fez com que a busca por um consenso fracassasse três vezes durante a era Köhl."
Consenso
A busca por um consenso entre os setores econômicos e o governo sobre o caminho a seguir ocorreu paralelamente às fortes manifestações populares em Gorleben. Nas imediações da pequena cidade da Baixa Saxônia, o governo alemão fazia os primeiros testes para a instalação de um depósito de lixo atômico.
O consenso a respeito da energia nuclear só foi alcançado em 2001, durante o governo da coalizão entre SPD e Partido Verde. Até 2020, todas as cerca de 20 usinas nucleares em funcionamento na Alemanha deverão ser desativadas.
Retorno
Mas, com o governo da coalizão CDU/CSU e SPD, os defensores da energia nuclear sonham com um renascimento. Christian Wössner, da organização Deutsche Atomforum, defensora dos interesses das usinas, argumenta que elas não liberam gases que produzem o efeito estufa e podem ajudar a evitar o aquecimento global. "Se a política optar por outro caminho, ou seja, cancelar o programa de fechamento das usinas, nós estamos prontos para o diálogo."
Nesse caso, o que estaria em questão seria a manutenção da atividade nas atuais usinas. A construção de novas unidades está fora de cogitação depois de Tchernobil.