Congresso se fragmenta, mas mantém correlação de forças
7 de outubro de 2014As eleições de domingo (05/10) deixaram o Congresso Nacional mais fragmentado. Tanto no Senado quanto na Câmara, houve queda no número de representantes dos grandes partidos e aumento da partipação de legendas menores, porém sem mudanças profundas na atual correlação de forças.
Alicerces da base da presidente Dilma Rousseff no Congresso, PT e PMDB continuam reinando absolutos, apesar de terem assistido a um enxugamento de seus parlamentares nas duas casas. Os dois mantiveram assegurada a prerrogativa de apontar os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente.
Maioria na Câmara, os petistas agora serão 70 no ano que vem, 18 a menos que o número atual e longe dos 90 que tomaram posse em 2003 e 2007. A segunda bancada na casa seguirá sendo do PMDB, que viu seu número de cadeiras cair, porém, de 71 para 66.
No Senado, o PMDB continuará sendo o maior partido, com 18 senadores, seguido pelo PT, com 12, ainda que na contagem ambos tenham tido suas bancadas reduzidas em um assento cada. Hoje o PMDB tem 19 senadores. O PT, 13.
"Essa pulverização já era esperada. Havia um movimento de desgaste dos partidos tradicionais e maiores, além de uma maior competitividade dos pequenos", avalia o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp. Agora, ressalta o especialista, o próximo presidente terá que negociar com uma base muito mais complexa.
Base encolheu
De maneira geral, a base de Dilma encolheu. Se hoje ela conta com 340 deputados, dos 513 que votam na Casa, num eventual novo mandato esse número cairá para 304 – contando os representantes dos partidos que hoje formam a coalizão que apoia sua reeleição.
Já o grupo de partidos que apoiam Aécio Neves (PSDB) ampliou o número de assentos de 119 para 130. O PSDB conquistou 11 novas cadeiras na Câmara, ultrapassou o PSD e se tornou a terceira maior bancada da casa. No Senado, os tucanos perderam duas cadeiras, mas se mantiveram como terceira força.
Entre os vitoriosos nas urnas está o partido da candidata Marina Silva (PSB). Na Câmara, os pessebistas vão saltar de 24 para 34 parlamentares. No Senado, de quatro para sete. Também o PDT cresceu nas duas casas. A legenda passará a ser a quarta maior bancada no Senado, com oito representantes – dois a mais que o quadro atual. E o número de deputados subiu de 18 para 19.
PSD e DEM cresceram no Senado, apesar de terem suas bancadas reduzidas na Câmara. Agora serão três senadores do PSD e cinco do DEM. Antes as bancadas no Senado das duas legendas contavam com um e quatro representantes, respectivamente.
Nanicos como PHS, PTN, PTC e PSDC também comemoraram os resultados nas urnas. Sem cadeiras em 2010, eles conquistaram espaço no novo Congresso Nacional. O número de legendas representadas no Legislativo saltou de 22 para 28.
Peso do PMDB
Analistas concordam, no entanto, que nem a retração do PT, num cenário de Dilma reeleita, nem a falta de maioria numérica, no caso de uma eleição de Aécio, devem atrapalhar as negociações do futuro presidente no Congresso.
Neste cenário, o papel do PMDB, que esteve presente em todos os governos desde o retorno da democracia, em 1983, continuará sendo fundamental.
O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, lembra que o ex-peemedebista Aécio tem bom trânsito no partido, que já abrigou seu avô Tancredo e que há 12 anos governa de mãos dadas com o PT. Ao longo da campanha presidencial, alas do PMDB chegaram a anunciar apoio informal ao tucano, contrariando orientação nacional.
"Agora vai depender muito de alianças regionais. O PMDB é um partido fragmentado, as negociações se darão estado por estado", diz Villa. "Podemos ter surpresas com um racha no PMDB", especula.
Valeriano Costa, por sua vez, ressalta que boa parte dos partidos que atualmente compõem a base de apoio de Dilma – entre eles o PSD, o PR e o próprio PMDB – tem grandes chances de migrar para Aécio, caso ele saia vencedor das eleições.
"São partidos muito pragmáticos, sem restrição ideológica a Aécio. Aliás, em muitos casos, eles são até mais próximos de Aécio do que de Dilma", avalia o cientista político. Ele acredita que apenas no caso dos partidos de esquerda essa tendência não deve se repetir.