Em Berlim, 45 policiais feridos após protesto
2 de agosto de 2020A polícia de Berlim informou neste domingo (02/08) que 45 policiais ficaram feridos durante a dispersão do protesto contra as restrições impostas pelo governo em razão da epidemia de covid-19, ocorrido no dia anterior. Entre os feridos, três policiais foram hospitalizados por ferimentos causados por estilhaços de vidro no rosto.
Os confrontos ocorreram ao final da manifestação que reuniu em torno de 20 mil pessoas nas ruas da capital alemã, quando os policiais tiveram de intervir para remover manifestantes e organizadores que se recusaram a desocupar uma avenida na região central da cidade. Mais de 130 pessoas foram presas por violações que incluem perturbação da paz, uso de símbolos considerados inconstitucionais associados ao nazismo, além de resistência à prisão.
A polícia destacou 1.100 policiais para monitorar o evento, que foi amplamente criticado pela rejeição ao uso de máscaras de proteção e pelo fato de os participantes ignorarem o distanciamento social obrigatório de 1,5 metros. O chamado "Dia da liberdade" reuniu uma mistura de grupos de extrema direita, opositores da vacinação, adeptos de tratamentos alternativos, hippies, defensores de teorias da conspiração e outros descontentes com as medidas para conter a disseminação do vírus.
No final da tarde deste sábado, policiais usaram alto-falantes para pedir que as pessoas deixassem a região pacificamente e retiraram os organizadores de um palco montado na avenida, sob as vaias das pessoas no local. Centenas de manifestantes permaneceram na região do portal de Brandemburgo até tarde da noite.
A manifestação ocorreu apesar de um aumento nas infecções pelo novo coronavírus no país e de vários alertas de especialistas sobre uma possível segunda onda da doença na Europa.
A polícia instaurou processos legais contra os organizadores por "desrespeito às regras de higiene", uma vez que o protesto havia sido registrado inicialmente para a participação de apenas mil pessoas. Manifestações contrárias ao "Dia da liberdade" também ocorreram na capital alemã, com a polícia intervindo para manter os grupos rivais afastados.
O nome "Dia da liberdade" remete a um documentário de 1935 da diretora Leni Riefenstahl que mostrava uma conferência do Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores (Nazionalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei – NSDAP), de Adolf Hitler.
Várias lideranças políticas no país condenaram a realização do protesto e o desrespeito às regras de higiene e saúde.
O prefeito de Berlim, Michael Müller, reclamou que pessoas de outras partes do país tenham se dirigido à capital para tomar parte nos protestos e condenou os manifestantes por não levarem em consideração os fatos e colocarem em risco a saúde das outras pessoas.
O ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, criticou o fato de os manifestantes ignorarem as regras. "Manifestações devem ser permitidas, mesmo em meio à pandemia. Mas não dessa forma", observou. Ele ressaltou que as regulamentações servem para a proteção de todos. "Quanto mais responsabilidade tivermos em nosso comportamento e na forma como tratamos uns aos outros, mais normalidade poderemos ter, apesar do vírus."
A Alemanha soma até este domingo 9.141 mortes e 209.893 casos confirmados de covid-19, números bastante inferiores aos de vários outros países europeus. Apesar de os dados serem relativamente baixos, as autoridades se preocupam com o aumento das infecções registrado nas últimas semanas, após o relaxamento das medidas de contenção.
O aumento no número de casos é atribuído à negligência de parte da população em relação às medidas de higiene e ao distanciamento social, segundo a avaliação de pesquisadores do Instituto Robert Koch (RKI) de controle e prevenção de doenças. Neste sábado, o país registrou 955 novos casos – um nível que não era registrado desde o dia 9 de maio. Já neste domingo, foram 240 novas infecções.
O presidente do RKI, Lothar Wieler, alertou nesta semana que o país vinha mantendo estável o número de novos casos, com uma média diária de 300 a 500 infecções. Porém, nos últimos dias, essa tendência demonstrou instabilidade. Em sua opinião, muitas pessoas adotaram posturas mais negligentes e deixam de aderir às recomendações de higiene e distanciamento social e de usar máscaras.
O ministro da Economia, Peter Altmaier, disse que o país deve adotar medidas mais rígidas contra as pessoas que violarem as regras para conter a disseminação do coronavírus. "Qualquer um que deliberadamente colocar os outros em risco deve contar com sérias consequências para si", afirmou.
RC/afp/dpa/epd
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