Conflito na Síria movimenta comunidade internacional
10 de março de 2012O ex-secretário-geral das Nações Unidas e novo enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, encontrou-se na manhã deste sábado (10/03) com o presidente sírio, Bashar al-Assad, em Damasco.
Annan, segundo suas próprias palavras, pretende empenhar-se pelo fim da violência entre o governo sírio e os rebeldes de oposição. As Nações Unidas estimam que cerca de 7.500 pessoas morreram na Síria desde o início dos protestos contra Assad, há um ano.
A televisão estatal síria anunciou que a conversa entre Annan e Assad transcorreu numa "atmosfera positiva". A agenda de Annan na Síria inclui ainda uma reunião com o ministro do Exterior, Walid Muallim, e com representantes da oposição.
Antes de sua viagem ao país, ainda neste sábado, Annan se reuniu no Cairo com ministros do Exterior da Liga Árabe e com o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov. A Rússia é o maior aliado dos sírios.
Posição da Rússia
Segundo informações do ministério russo das Relações Exteriores, Lavrov deixou claro a Kofi Annan que Moscou continua rejeitando qualquer "intromissão grosseira" da comunidade internacional no conflito na Síria. Em seu encontro com Annan, Lavrov teria se referido à "inadmissibilidade de pisotear o direito internacional", declararam representantes do ministério em Moscou.
Durante o encontro com ministros do Exterior da Liga Árabe, Lavrov defendeu um fim imediato da violência na Síria. No Cairo, ele afirmou a disposição de Moscou de cooperar com as forças reformistas sírias.
Ao mesmo tempo, Lavrov pediu à oposição armada que se retirasse das cidades. Segundo ele, o governo de Assad teria, no momento, que permitir a entrada de ajuda humanitária nas regiões em crise.
Lavrov defendeu ainda a posição de seu país diante do conflito na Síria. "Moscou não protege nenhum regime, mas o direito internacional", disse o ministro russo aos participantes da conferência no Cairo. Ele afirmou ainda que agora não é o momento certo para acusações de culpa. Isso caberia, mais tarde, a uma autoridade internacional legitimada para tal, completou.
Catar pede intervenção militar
A Rússia e a China passaram a ser criticadas internacionalmente, após terem bloqueado com seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU uma resolução contra a Síria, pela qual Assad seria pressionado a renunciar.
Após Lavrov, foi a vez do chefe de governo e ministro do Exterior do Catar, xeque Hamad bin Jassim al-Thani, falar aos ministros do Exterior dos países da Liga Árabe. Ele apontou um "genocídio sistemático por parte do governo sírio". Somente um cessar-fogo não seria solução, disse Al Thani.
O primeiro-ministro do Catar defendeu que chegou a hora de uma missão de tropas árabes e de outros países na Síria. Devido à violência brutal, que resultou em milhares de mortos no país, uma intervenção militar é necessária, afirmou Al Thani durante a conferência.
Solução iemenita
À procura de uma solução para o conflito na Síria, o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, viajou para o Iêmen e, posteriormente, para a Arábia Saudita.
Como primeiro ministro do Exterior a visitar Sana após a mudança de governo, Westerwelle prestigiou, apesar da duradoura crise no país, o sucessor do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, Mansur Hadi, e pôde testemunhar a solução encontrada para resolver a crise no Iêmen: exílio e anistia para o ex-presidente iemenita Saleh.
Como defendido pelo presidente tunisiano, Moncef Marzouki, essa também poderia ser uma solução para o conflito na Síria: "Imunidade para Assad e sua família". Para Marzouki, "a solução iemenita é a única saída" para a Síria.
Westerwelle viajou a seguir para a Arábia Saudita, já que uma solução para o conflito na Síria sem os sauditas é avaliada como quase impossível. Os sauditas, no entanto, pretendem fornecer armamentos à oposição síria e cogitam uma intervenção no país.
Mundo aposta em Annan
O rei Saud declarou estar decepcionado com as Nações Unidas. "Não esquecemos o que aconteceu na ONU. Sempre fomos orgulhosos das Nações Unidas, mas o que ocorreu foi ruim. O mundo não pode mais confiar na ONU", disse o soberano saudita.
A divergência que levou Rússia e China a se posicionarem contra os outros países motivou também o governo sunita conservador da Arábia Saudita a militarizar ainda mais o conflito na Síria. Para os sauditas, a eventual queda do regime laico e xiita de Bashar al-Assad poderá levar a Síria novamente à religião e fomentar a soberania saudita no mundo árabe.
Como os europeus, Westerwelle é contra uma intervenção. Para o ministro alemão e para a maior parte dos países árabes, como também para a Rússia e a China, a esperança se chama agora Kofi Annan.
No entanto, o próprio ex-secretário-geral da ONU avalia que tem poucas chances de sucesso, embora estas devam ser ser usadas, afirmou. Annan aposta no diálogo, o que provoca críticas da oposição síria, tendo em vista os milhares de mortos no país desde o início dos conflitos.
Para a oposição, o diálogo serviria somente para motivar Assad a reprimir violentamente os levantes. Especialistas em questeões ligadas à Síria acreditam, porém, que a presença de Annan poderá criar a base de uma solução política para o conflito.
CA/afp/dw/dpa/dapd
Revisão: Soraia Vilela