Conflito na Síria domina Conferência sobre Segurança de Munique
4 de fevereiro de 2013Quem não consegue progredir, aposta na repetição. Os mecanismos políticos empregados no conflito na Síria fracassaram, mas quem sabe possam funcionar se forem novamente utilizados.
Quem ouviu, durante a Conferência sobre Segurança de Munique, as declarações de Lakhdar Brahimi, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, pode ter ficado com a impressão de que ele espera nada menos que um milagre político. Não se deve perder a esperança, observou, mas também não se deve ser ingênuo. Provavelmente é a ingenuidade estratégica que faz com que ele deposite mais uma vez esperanças no Conselho de Segurança da ONU.
Ambiguidade construtiva
Talvez não haja mesmo uma outra opção, considerando o fato de que o governo sírio continue não querendo dialogar com a oposição e se mantenha intransigente em sua posição. Brahimi revelou em Munique alguns detalhes de seu mais recente relatório ao Conselho de Segurança da ONU, documento ainda não divulgado, mas cercado de rumores nos últimos tempos.
No texto, ele apela para que os membros do Conselho de Segurança se reúnam de novo e pede para que, caso eles não consigam entrar em um acordo sobre uma condenação ao governo sírio, façam pelo menos referência à declaração de Genebra de junho de 2012. Esta tem o charme da "ambiguidade construtiva", segundo a formulação de Brahimi, quando propõe a formação de um novo governo que seja aceitável para todas as partes. Ele tem uma confiança limitada de que os dois lados possam concordar com tal governo, mas na diplomacia a esperança não deve morrer.
Responsabilidade internacional
Atualmente, a comunidade internacional bloqueia a si própria no Conselho de Segurança. Com isso, ela apoia indiretamente o regime sírio, acusa Ahmad Moaz Al-Khatib, presidente da Coalizão Nacional de Forças de Oposição e da Revolução. E ele lembra que o regime continua a praticar a violência contra seu próprio povo: 60 mil sírios foram mortos no conflito até agora, 40% da infraestrutura foi destruída e mais de três milhões de casas estão inabitáveis.
Segundo Al-Khatib, milhares de sírios definham na cadeia, e os ataques contra civis continuam. Ele afirma que forças do governo bombardeiam com morteiros padarias onde os clientes fazem longas filas, e mesmo crianças não são poupadas.
Apesar de tudo, a sua coalizão busca um diálogo com o governo sírio, sob a condição de que este liberte os prisioneiros políticos. Esse poderia ser um primeiro passo. Mas caso o governo não aceite a proposta, ele adverte que a guerra pode vir a ter um efeito desastroso sobre toda a região. "Nós, sírios, amamos a vida", afirma. "Mas não temos medo da morte."
O papel do Irã
Diante desse cenário, ninguém deseja aplaudir os comentários do ministro iraniano do Exterior, Ali Akbar Salehi, que pediu mais tempo para a negociação política. Ele afirmou que o Irã conversou com a oposição síria e que é a favor de uma solução pacífica para o conflito, mas ressaltou que somente a História dirá quem está certo e quem está errado.
Teerã defende que os sírios devem decidir sobre seu próprio destino político. "Eles não precisam de quaisquer instruções externas", alertou Salehi. Mas a pergunta de Ruprecht Polenz, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento alemão, permaneceu sem resposta: se a interferência externa é indesejada, por que o Irã apoia com armas o regime sírio?
Sensação de impotência
Perguntas e uma sensação de impotência pairavam sobre a conferência. Propostas novas, mas problemáticas nasceram da necessidade de se chegar a uma solução. Kenneth Roth, diretor-executivo da organização de direitos humanos Human Rights Watch, sugeriu que o Conselho de Segurança seja deixado de fora da questão, caso a Rússia continue a fazer uso de seu poder de veto. Essa é uma opção que contrasta diretamente com o que Brahimi havia proposto poucos minutos antes.
Até o senador John McCain apresentou ideias pouco convencionais, sugerindo a formação de uma espécie de zona de exclusão aérea com ajuda dos mísseis Patriot estacionados na Turquia, apesar de todas as declarações anteriores sobre a natureza defensiva do projeto. Isso, segundo ele, ajudaria a garantir que os sírios voltem a ganhar confiança nas potências ocidentais.
O medo do extremismo
Ests confiança está seriamente perturbada, alertou o político norte-americano, acrescentando que isso pode representar grandes problemas no futuro. McCain contou que conversou com uma professora num campo de refugiados sírios na Turquia. Ela teria dito a ele que muitos dos jovens que ali vivem estão desesperados. A professora tem certeza, segundo ele, que mais tarde eles irão procurar vingança contra aqueles que não ajudarem agora.
McCain disse estar muito preocupado que a mulher esteja certa. Mas antes disso, ele disse que deve haver um aumento do extremismo na Síria e em toda a região, avaliação compartilhada por quase todos os palestrantes nas discussões sobre a Síria.
Há muito pouca esperança para a Síria. Mas o presidente da conferência, Wolfgang Ischinger, deixou escapar um leve raio de esperança ao afirmar que, nos bastidores do encontro em Munique, estaria sendo feita diplomacia em tempo real e que talvez ali pudessem ser criadas novas oportunidades. Diplomacia é sempre um negócio discreto. Até o final do encontro, nada vazou dos bastidores.
Autor: Kersten Knipp (md)
Revisão: Alexandre Schossler