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Internet em tempos de espionagem estatal

Silke Wünsch (ca)1 de maio de 2014

De 6 a 8 de maio, mais de 5 mil acorrem à capital alemã para a #rp14, uma das maiores conferências de internet do mundo. Em foco, o futuro da sociedade digital após os escândalos de monitoramento de dados.

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Foto: Getty Images

Quando começou há sete anos, a conferência re:publica foi até chamada de "reunião de turma da escola". As poucas centenas de interessados em internet se encontraram em Berlim pela primeira vez em abril de 2007, para discutir o tema "Vida na rede". Mas, logo, a pequena locação escolhida para abrigar a conferência na capital alemã não conseguia mais abarcar tantos participantes.

A re:publica mudou-se para a Station, uma antiga área industrial no bairro berlinense de Kreuzberg, com espaço suficiente para 11 palcos, 250 eventos e mais de 5 mil visitantes.

Neste ano, o tema da conferência é Into the wild –"selva adentro". A intenção dos organizadores é "abrir o olhar para diferentes abordagens, a fim de que se entendam e melhorem a internet e a sociedade do futuro próximo". Em outras palavras, adentrar terra desconhecida, sondar o que ainda é possível na rede, à sombra dos escândalos de monitoramento, roubo de dados e vigilância obsessiva pelo serviço secreto americano, desencadeados por Edward Snowden.

Assim, segundo os organizadores, a re:publica 2014, ou "#rp14", parte para "a pesquisa de soluções tecnológicas inesperadas, impulsos surpreendentes da ciência, economia e política." Os iniciadores dizem estar ansiosos por "uma nova e indomável cultura de rede".

Desta vez, com glamour

Muitos convidados interessantes estão sendo esperados. Eles vêm do setor econômico e da política, da blogosfera internacional, de universidades e ONGs. Todos os anos também estão presentes personalidades da política e do empresariado. Como o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, que em 2012 falou sobre suas experiências no Twitter; ou o presidente da Daimler, Dieter Zetsche, que discutiu sobre o carro interconectado, no ano passado.

A #rp14 anunciou a vinda do guru finlandês da área de segurança Mikko Hyppönen, que falará sobre liberdade digital. Ele estará acompanhado por alguém que normalmente não é associado à cultura ou ao ativismo da rede: o ator americano David Hasselhoff, conhecido de seriados de TV como A super máquina ou SOS Malibu.

Em Berlim, Hyppönen e Hasselhoff pretendem lançar um manifesto pela liberdade digital, sob o slogan Looking for freedom (Procurando pela liberdade). Embora a F-Secure, uma grande empresa finlandesa de segurança de TI, esteja por trás – o que transforma tudo num evento de marketing–, o fator glamour está garantido. De qualquer forma, a F-Secure promete "uma discussão que vai colocar o tema 'liberdade digital' num novo level".

Besucher der Internetkonferenz Re:publica
Apesar de ambiente descontraído, há muito re:publica deixou de ser "reunião de classe"Foto: picture-alliance/dpa

Do ativismo à sátira

Também anunciaram presença algumas "estrelas" da internet: Jacob Applebaum, do projeto Tor, uma rede de anonimização de dados, falará junto à ativista Jillian York sobre técnicas criptográficas acessíveis a todos.

A Deutsche Welle também estará presente, com um painel sobre a cobertura jornalística na Ucrânia. As blogueiras Oksana Romaniuk, da Ucrânia, e Alena Popova, da Rússia, discutem sobre a neutralidade da cobertura jornalística, sob o título "Verdade e distorção". Ambas são juradas do concurso The Bobs, que, na abertura da #rp14, vai anunciar os vencedores do prêmio de ativismo online da DW.

Os iniciadores da re:publica também farão presença nos palcos. Markus Beckedahl discute, entre outros assuntos, sobre a sua especialidade: política de rede e monitoramento.

A palestra de abertura cabe ao grupo de ativistas da mídia The Yes Men. Eles são conhecidos por suas ações de sabotagem de eventos: disfarçados de empresários ou jornalistas, têm colocado de ponta-cabeça conferências e até mesmo de shows de TV. Para a re:publica, não há escolha melhor do que esse grupo, quando o lema é "selva adentro".

Clima de festival

O programa definitivo da re:publica só será anunciado pouco antes de seu início. Foi disponibilizado um aplicativo com o qual os visitantes podem planejar que painéis e palestras pretendem assistir.

Nas pausas entre os eventos, os participantes podem se sentar na ilha de poltronas do saguão de entrada. Ou, se o tempo estiver bom, no pátio, tomando um café ou refrigerante orgânico e conversar ao sol com os amigos.

Porém um laptop, tablet ou smartphone é equipamento obrigatório: o wi-fi é livre para todos, e o Twitter informa sobre os eventos nos diversos pavilhões. Com música eletrônica já desde a tarde, gente dançando, o clima parece de festival. Entretanto, apesar da aparência descontraída, há muito a re:publica deixou de ser uma "reunião de classe".