Comédia de Wagner abre Festival de Bayreuth
24 de julho de 2017No ano passado, o tapete vermelho não foi desenrolado em Bayreuth: em respeito às vítimas dos atentados terroristas na Alemanha, os organizadores abriram mão do usual desfile de celebridades da política e da cultura na abertura do tradicional festival dedicado à música de Richard Wagner.
Este ano, porém, as celebridades estarão de volta à cidade bávara, a começar pelos soberanos da Suécia, o rei Carlos 16 Gustavo e a rainha Sílvia, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. E, assim como no ano passado, os visitantes estarão cercados por um forte esquema de segurança.
Mesmo antes de seu início, nesta terça-feira (25/07), a 106ª edição já tem uma grande diferença em relação aos eventos anteriores: as tradicionais brigas públicas dos descendentes de Wagner, que todos os anos alimentavam a imprensa nas vésperas da abertura do festival, deram lugar ao silêncio.
De forma surpreendente, os dois ramos familiares que viviam em pé de guerra – Nike Wagner e suas irmãs, de um lado (os filhos de Wieland Wagner, neto do compositor), e, do outro, a diretora do festival, Katharina Wagner – estão até mesmo colaborando. O motivo: o centésimo aniversário de Wieland Wagner. Ele transcorreu em 5 de janeiro, mas, para lembrar um dos mais influentes dirigentes de ópera do século 20, Bayreuth fará um ato festivo especial nesta segunda-feira.
O ato reserva uma surpresa: a execução de composições de Giuseppe Verdi e Alban Berg, uma raridade no Festival de Bayreuth, que tradicionalmente se dedica apenas à música de Wagner. A responsável pelo programa do ato festivo é Nike Wagner, que é também diretora do Festival Beethoven de Bonn. Wieland também será lembrado com uma exposição e um simpósio de 3 a 5 de agosto, ambos na Casa Wahnfried, a antiga residência de Richard Wagner, que abriga um museu e arquivo.
Programação
No dia da abertura, os 1.974 espectadores do teatro no alto da "Colina Verde" assistirão a uma nova encenação da única comédia da fase madura de Wagner: Os mestres cantores de Nurembergue. A interpretação está a cargo do dirigente suíço Philippe Jordan, responsável pela direção musical, e do regente australiano Barrie Kosky, que confessou ter pensado duas vezes antes de aceitar a tarefa – o fato de ele ser judeu foi fundamental para a sua hesitação.
Com sua sobrelevação da "sagrada cultura alemã" e um personagem que muitos veem como caricatura antissemita, Os mestres cantores de Nurembergue foi instrumentalizada para fins de propaganda pelos nazistas. Nos últimos anos da Segunda Guerra, ela era até mesmo a única obra no programa do Festival de Bayreuth. Kosky disse que pretende tematizar esse aspecto na sua versão.
O programa prevê ainda a ópera Parsifal, na encenação do ano passado, com regência de Uwe Eric Laufenberg e com Hartmut Haenchen como Pult; a versão de 2015 de Tristão e Isolda, a cargo de Katharina Wagner e com direção musical de Christian Thielemann; e o ciclo de quatro óperas O anel do Nibelungo, apresentado em 2013 e com direção de Frank Castorf e regência de Marek Janowksi.
Bayreuth, uma cidade pequena no norte da Baviera, não tem muito a oferecer aos visitantes além de Wagner e sua obra – foi justamente por esse motivo que o compositor escolheu a cidade para sediar o primeiro festival, em 1876. Este ano, porém, os visitantes poderão acompanhar, além da música, simpósios e palestras na Casa Wahnfried, a maioria deles dedicados ao tema "Wagner e o nazismo".