Debate entre confissões
6 de fevereiro de 2009
O papa Bento 16 continua sendo alvo de críticas na Alemanha por causa do posicionamento da Igreja Católica em relação ao caso Williamson. O bispo britânico Richard Williamson, adepto do grupo ultraconservador Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º, havia causado grande indignação internacional ao negar a veracidade do Holocausto.
Williamson e outros três bispos da fraternidade haviam sido excomungados da Igreja Católica em 1988, perdendo assim o direito de receber os sacramentos e exercer funções eclesiásticas. Numa decisão que passou a vigorar em 21 de janeiro deste ano, o papa Bento 16 suspendeu a excomunhão dos bispos, mantendo no entanto sua interdição para quaisquer postos dentro da Igreja.
Apesar de Bento 16 ter exigido que o bispo Williamson retire sua negação do Holocausto, a posição do Vaticano em relação à Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º, que não reconhece o Concílio Vaticano 2º e resiste à ideia do ecumenismo, continua sendo criticada, sobretudo por outras comunidades religiosas.
"Fundamentalista e antissemita"
O Conselho Central dos Judeus na Alemanha considera insuficiente a exigência do Vaticano de que Williamson retire sua declaração sobre o Holocausto. Apesar de isso ser um primeiro sinal de movimento vindo de Roma, o secretário-geral do conselho, Stephan Kramer, disse esperar que a Igreja Católica se desligue completamente da Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º.
O vice-presidente do conselho, Dieter Graumann, afirmou que era de se esperar mais tato por parte de um papa alemão. Para ele, Bento 16 terá que optar entre o envolvimento com os adeptos da São Pio 10º e a conciliação com os judeus. Ele chamou esse grupo conservador católico de fundamentalista e antissemita, acusando-o de incitação contra judeus, muçulmanos e homossexuais.
Cristãos divididos
O cardeal conservador Joachim Meisner, arcebispo de Colônia, defendeu a decisão do Papa de reabilitar parcialmente os bispos da São Pio 10º como "um ato de direito eclesiástico sem qualquer intenção política". Para ele, foram "as declarações inacreditavelmente estúpidas e inadmissíveis" do bispo britânico que embaralharam a situação e compreensivelmente indignaram muita gente.
Já o presidente da Conferência dos Bispos Alemães, Robert Zollitsch, prevê que a recusa da Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º em fazer concessões acabe levando a um rompimento definitivo com a Igreja Católica. Para Zollitsch, seria de interesse da Igreja se afastar desse controverso grupo contrário ao ecumenismo. Ele esclareceu que apenas uma condenação clara de "toda forma de antissemitismo" poderia levar a uma solução do problema.
O representante da São Pio 10º na Alemanha, Franz Schmidberger, defendeu o bispo Williamson. Ao ser indagado pela televisão alemã se alguém que nega o extermínio de judeus pelos nazistas poderia ser considerado seu "irmão", ele declarou: "Contanto que ele reconheça os dogmas católicos, sim, com certeza". Por outro lado, Schmidberger se distanciou de declarações em que Williamson negou a existência de câmaras de gás durante o regime nazista.
A Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) se mostrou preocupada com o futuro do ecumenismo. A negação da existência do Holocausto por parte de Williamson não pode ser considerada inofensiva, ressaltou o presidente do conselho da EKD, Wolfgang Huber, mas esse não seria o único problema. Ele acrescentou que todos sabem que a São Pio 10º rejeita o Concílio Vaticano 2º e o direito de existência das outras igrejas de forma bem mais radical do que tem transparecido nas recentes declarações do Papa.
Bento 16 perde prestígio
A chanceler federal Angela Merkel se mostrou satisfeita com a exigência papal de que Williamson retire a sua negação do Holocausto. Após ter exigido com rigor o esclarecimento do caso e ter provocado com isso a indignação do Vaticano, Merkel declarou que a mais recente exigência do Papa ao bispo britânico é um sinal importante: "Isso deixa claro que negar o Holocausto jamais pode ficar sem consequências".
A atual controvérsia provocada pelo Vaticano prejudicou o prestígio de Bento 16 entre os alemães. Em abril de 2005, quando Joseph Ratzinger se tornou papa, 63% consideravam boa a escolha; agora são apenas 42% que se dizem satisfeitos com a sua atuação, segundo uma recente enquete encomendada pela emissora alemã de televisão ARD.