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Comunidade científica propõe Antropoceno como nova era geológica

20 de fevereiro de 2013

Pesquisadores alegam que intervenção humana provoca mudanças irreversíveis no planeta. Marcas da civilização caracterizariam época antropocena, onde homem e natureza são indivisíveis: uma nova era de responsabilidade.

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Foto: picture alliance / dpa

A escala de tempo geológico estabelece éons, eras, períodos, épocas e idades que permitem categorizar diferentes fases desde a formação do planeta. Segundo a o consenso vigente, a época atual, a holocena, iniciou-se há aproximadamente 11,7 mil anos. Contudo, a comunidade científica propõe uma revisão desse conceito: a conexão inextricável entre o ser humano e a natureza inauguraria um novo período, chamado de Antropoceno.

Em outros tempos, as paisagens eram determinadas por rios, vulcões, o movimento da Terra e mudanças climáticas naturais. Hoje, a interferência humana afeta diretamente esse processo. Tal visão implica uma mudança radical na ciência, pois não se pode mais conceber um processo evolutivo natural sem a interferência do homem e da tecnologia.

A visão tradicional costuma dividir o mundo entre a – quase sempre – "boa natureza" e o "homem mau e sua técnica", explica o geólogo Reinhold Leinfelder, da Universidade Livre de Berlim, que pesquisa profundamente a teoria do Antropoceno. Em sua opinião, essa dicotomia não é mais aplicável.

"Chegamos a um ponto em que o homem alterou tanto a natureza, que esta não existe mais, no antigo sentido", explica. Para ele e muitos de seus colegas pesquisadores, portanto, o ser humano é agora parte dessa nova natureza – a qual se tornou impossível de separar das marcas impostas pela tecnologia. Do ponto de vista do antropocenismo, homem e natureza são entendidos como uma coisa só.

Satellitenbild von Istanbul
Visão do espaço mostra claramente ação humana sobre o planetaFoto: NASA.gov

Alterações locais e globais

As características das camadas sedimentares mostram as particularidades de cada época. O Holoceno, que começou depois da última era glacial, caracterizou-se por condições ambientais estáveis. Agora, a era holocena deve ser separada da antropocena – embora não haja ainda um consenso entre os especialistas sobre quando começou exatamente a nova época.

Já há cerca de 10 mil anos, a agricultura promovia as primeiras intervenções sistemáticas na natureza, embora em escala local. No entanto, os cientistas concordam que a partir da revolução industrial, o mais tardar, se dá uma influência ambiental em escala global. "Já no final do século 18 e início do 19 começamos um experimento em escala planetária", diz Jürgen Renn, diretor do Instituto Max Planck de História da Ciência, em Berlim.

O geólogo Leinfelder está seguro: "Aquilo que teremos no futuro, em termos de depósitos, de camadas geológicas, trará fortemente a nossa assinatura". Ou seja: os depósitos sedimentares exibirão a marca das atuais intervenções no meio ambiente, arqueólogos encontrarão restos de nossos animais domésticos, da mesma forma que resquícios de plantas cultivadas e partículas de plástico.

Deutsch-chilenische Exzellenzinitiative zur Bergbauförderung
Busca de matérias primas move montanhasFoto: PROCHILE

Era da responsabilidade

O professor de História da Tecnologia Helmuth Trischler também acredita que o ser humano e sua técnica estão inseparavelmente ligados, e que as intervenções humanas mudaram o mundo de forma irreversível. "Não é possível retornar a um estado primitivo chamado Holoceno."

Deste modo, os problemas acarretados pelas intervenções humanas – como pesca predatória, drenagem dos solos, as montanhas de lixo – não poderão ser enfrentados sem a técnica e sem mais outras intervenções na natureza.

Segundo o historiador da ciência Jürgen Renn, está claro que para os seres humanos não poderá haver um "pós-Antropoceno". Portanto o desafio é configurar a época atual com senso responsabilidade. Assim, a discussão quanto ao conceito de Antropoceno visaria, sobretudo, uma coisa: despertar a consciência de que vivemos numa época geológica determinada pelo humano, e que é preciso moldá-la de forma responsável e sustentável.

Autores: Thomas Gith / Ivana Ebel
Revisão: Augusto Valente