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Como o Peru pode voltar à paz?

Viola Träder | Jan D. Walter
11 de janeiro de 2023

Mais de 40 morreram em protestos contra o governo no país. Presidente Dina Boluarte evita dialogar com os manifestantes – mas, para analistas, é exatamente isso que se precisa para retomar o controle da situação.

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Policiais em formação. Ao fundo, muitos manifestantes
Em Juliaca, 18 pessoas morreram na segunda-feiraFoto: Juan Carlos Cisneros/AFP

A presidente do Peru, Dina Boluarte, está há menos dias no cargo do que o número de pessoas que já morreram na atual onda de protestos que abala o país. Pouco mais de um mês depois de a ex-vice-presidente ter assumido o posto mais alto da nação, o Peru contabiliza mais de 40 mortos e centenas de civis gravemente feridos em protestos contra o governo.

Boluarte assumiu o cargo em 8 de dezembro de 2022, depois que o então presidente Pedro Castillo, eleito em junho de 2021, tentou dissolver o Parlamento e foi preso sob a acusação de golpe de Estado. Desde então, o país vive um caos. Os confrontos mais sangrentos até agora ocorreram na segunda-feira (09/01) na cidade andina de Juliaca, com 18 mortos, incluindo um policial. Quase todas as vítimas são de ascendência andina e de origem indígena.

Boluarte será acusada de genocídio?

Para o Ministério Público do Peru, há motivos suficientes para iniciar investigações sobre supostos "genocídios, homicídios dolosos e lesões corporais graves" contra Boluarte, o primeiro-ministro Alberto Otárola e outros membros do gabinete. É a segunda investigação contra a chefe de Estado por mortes durante protestos.

Otárola apoia de forma explícita as forças de segurança, que, segundo ele, garantiram "a ordem pública durante o estado de emergência". O governo não age de forma autoritária, mas tampouco se deixa pressionar pela violência.

Dina Boluarte discursa
Boluarte assumiu como presidente há um mês, quando seu antecessor, Pedro Castillo, foi presoFoto: Martin Mejia/AP Photo

Observadores pedem punição dos responsáveis

Johanna Pieper, do Instituto Alemão Giga de Estudos Latino-Americanos, de Hamburgo, tem uma visão diferente: "As forças de segurança não estão cumprindo a lei", disse em entrevista à DW.

Raúl Tecco, gerente de projetos da Fundação Friedrich Ebert, de Lima, pensa da mesma forma: "Os órgãos de aplicação da lei estão agindo de forma inadequada e desproporcional". Ele vê a responsabilidade por isso em um nível superior: "Um soldado não atira sem o apoio de seus superiores".

Observadores políticos e organizações de direitos humanos consideram que os eventos devam ser tratados legalmente. Robert Helbig, chefe do escritório internacional da Fundação Konrad Adenauer no Peru, disse à DW que os responsáveis ​​pelos excessos devem ser identificados e responsabilizados para evitar um clima de impunidade.

Política peruana em apuros

A situação no Peru é complicada. O presidente deposto Pedro Castillo começou a campanha eleitoral como um estranho e derrotou, por pouco, a conservadora Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori.

O que ajudou Castillo a vencer a eleição foi, provavelmente, menos sua orientação esquerdista – que para grande parte da população peruana ainda está muito ligada aos anos de terror da guerrilha marxista-leninista – e mais ao desejo de um presidente fora do sistema político. Essa pode ser justamente uma das razões pelas quais Castillo lutou para estabelecer um governo funcional. Isso acabou levando a uma ruptura entre o presidente e o Parlamento.

Sua sucessora constitucional, Boluarte não herdou uma tarefa fácil: depois que rompeu com Castillo, ela luta por apoio nos partidos de esquerda e, ao mesmo tempo, não pode esperar muito da direita. E o que o povo pensa dela se reflete nas ruas das grandes cidades.

Policiais com armas nas ruas
Protestos na cidade andina de Juliaca foram os mais sangrentos até agoraFoto: Hugo Courotto/REUTERS

Como a situação pode se acalmar?

Para Johanna Pieper, a única forma de acalmar a situação no país é se Boluarte reconhecer os erros e dialogar com os manifestantes. Em todo caso, segundo Pieper, a renúncia não é uma solução, pois, se o fizer, o ainda menos popular presidente do Congresso, José Williams Zapata, teria a tarefa de governar o país. Pieper também não considera as eleições antecipadas – atualmente marcadas para abril de 2024 – uma solução viável.

"Por razões logísticas e organizacionais, as eleições não podem ser antecipadas. Também existe o risco de a oferta política ser a mesma das eleições de 2021", pondera.

Tecco, da Fundação Friedrich Ebert, vê as coisas de maneira diferente. Para ele, se o Congresso conseguir estabelecer um governo interino, novas eleições poderão ser realizadas em três meses. No entanto, isso requer muita vontade política.

Helbig concorda: "São necessários gestos políticos convincentes tanto do Executivo quanto do Legislativo que mostrem empatia e solidariedade com os mortos para acalmar a mente das pessoas".

Se os políticos conseguirem levar a sério as reivindicações dos manifestantes e colocar seus interesses pessoais por trás dos interesses do país, o Peru poderá encontrar a paz em breve.