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Como o novo coronavírus ataca todo o organismo

12 de maio de 2020

Os pulmões são o principal alvo da covid-19, mas a doença não afeta apenas o sistema respiratório.  Coração, rins, nervos, cérebro e até a pele são atacados pelo patógeno, com danos potencialmente duradouros.

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Deutschland Stuttgart | Coronavirus | Computertomographieaufnahme
Muitos pacientes apresentam como sequela uma redução da capacidade pulmonarFoto: picture-alliance/dpa/S. Gollnow

Faz sentido os pulmões e vias respiratórias serem o principal foco de atenção médica na pandemia da covid-19: como o vírus Sars-cov-2 ataca principalmente o trato respiratório inferior, os infectados com um curso moderado ou severo da doença apresentam tosse seca, respiração curta e/ou pneumonia.

No entanto, há numerosas indicações de que o novo coronavírus também ataca em grande escala outros órgãos, afetando severamente coração, sistemas vascular e nervoso, cérebro, rins e pele.

Coração

Diversos estudos e artigos científicos dos Estados Unidos, China e Itália, entre outros países, sugerem que o Sars-cov-2 também ataque o coração. A conclusão se baseia tanto na mortalidade significativamente mais alta dos portadores de moléstias cardiovasculares e hipertensão, como na alta presença, no sangue de pacientes mais graves, de biomarcadores liberados por células do músculo cardíaco destruídas ou agonizantes.

Em pacientes anteriormente saudáveis, a infecção viral também tem causado inflamação do miocárdio. Não se sabe se quem causa esses danos é o próprio coronavírus ou – o que parece mais provável – as reações imunológicas desencadeadas pela infecção. Entretando, no passado também se constataram lesões cardíacas severas em doentes de Sars e Mers, cujos patógenos são muito aparentados ao Sars-cov-2.

Pulmões

No decorrer da covid-19, os pulmões são fortemente atacados, mas o dano nem sempre para por aí: muitos pacientes apresentam como sequela uma redução da capacidade pulmonar. Cientistas chineses detectaram um turvamento semelhante a vidro leitoso nas tomografias de doentes recuperados, sugerindo a ocorrência de lesões permanentes.

Pesquisa-se no momento se esses pacientes desenvolveram fibrose pulmonar, uma formação patológica de tecido cicatricial. Ao enrijecer o tecido dos pulmões, ela pode dificultar o transporte de oxigênio para os vasos sanguíneos, provocando em respiração superficial e rápida, e tosse seca e irritável. O resultado é uma queda do desempenho físico, tornando difíceis até mesmo atividades quotidianas.

A fibrose pulmonar é irreversível, já que as cicatrizes no órgão não retrocedem, porém seu progresso pode ser desacelerado ou mesmo sustado, se ela é detectada a tempo.

Sistema vascular

Na autópsia de vítimas da covid-19, patologistas do Hospital Universitário de Zurique descobriram que em alguns deles estava inflamada toda a camada celular interna dos vasos sanguíneos e linfáticos (endotélio) de alguns órgãos.

A conclusão foi que o vírus Sars-cov-2 causa uma inflamação generalizada do endotélio através dos receptores da enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2). A consequência podem ser distúrbios microcirculatórios severos, danificando o coração e causando embolia pulmonar e oclusão vascular no cérebro e trato intestinal, redundando em falência de múltiplos órgãos e morte.

Sistema nervoso

Em mais de 80% dos pacientes de covid-19, observa-se, logo no início da infecção, uma redução dos sentidos de paladar (ageusia) e olfato (anosmia). Esse é um dos sintomas considerados no diagnóstico precoce, pois, numa infeção gripal normal, desencadeada por adenovírus, a perda de olfato e paladar só ocorre num estágio avançado da enfermidade.

Essa observação aparentemente banal indica que em muitos pacientes o sistema nervoso também é afetado pelo novo coronavírus. Isso se deve ao fato de o nervo olfativo ir desde a mucosa nasal, através do osso craniano, até o cérebro. Cientistas da Bélgica descobriram que os neurônios servem ao vírus como porta de entrada para o sistema nervoso central.

Cérebro

A Mers e Sars, as infecções anteriores por coronavírus, já acusavam uma penetração dos vírus no cérebro, através dos nervos. Um paciente do Japão infectado que apresentou convulsões epilépticas foi diagnosticado com meningite causada pelo novo coronavírus, o qual penetrara em seu sistema nervoso central.

Assim, pesquisadores do Japão e da China temem que, em alguns indivíduos, o patógeno penetre no tronco encefálico, danificando o centro respiratório lá localizado. Isso talvez explique por que certos pacientes mais idosos de covid-19 param de respirar subitamente, sem ter tido problemas respiratórios sérios devido à infecção pulmonar. Ainda não está claro se o Sars-cov-2 causa ou propicia acidentes vasculares cerebrais (AVC).

Rins

Pacientes de covid-19 com pneumonia que necessitem respiração artificial também podem sofrer lesões dos rins, sendo frequente a falência renal aguda. Como a pneumonia causa grande acúmulo de líquido nos pulmões, os pacientes recebem medicação diurética. No entanto isso reduz o fluxo sanguíneo para os rins, que deixam de poder cumprir sua função purificadora.

Dialyse
Ainda não está esclarecido se os rins saram após a recuperação da covid-19Foto: picture-alliance/dpa/A. Burgi

Além disso, o sangue coagula mais rápido em casos graves de covid-19, favorecendo a formação de coágulos que bloqueiam tanto os vasos sanguíneos quanto os rins. Têm sido observados pequenos infartos do tecido renal em diversos pacientes.

Em cerca de 30% desses pacientes, a restrição das funções renais é tão aguda que eles necessitam de diálise. Ainda não está esclarecido se os rins saram após a recuperação da covid-19 ou se as lesões provocadas pelo Sars-cov-2 são duradouras.

Pele

O novo coronavírus igualmente causa danos visíveis ao maior órgão do corpo humano, a pele. Em diversos países, observaram-se lesões dermatológicas significativas nos pacientes. Sobretudo crianças e jovens apresentaram pequenas lesões roxas nos pés, semelhantes às do sarampo, catapora ou frieiras.

Nos artelhos, elas lembram úlceras de frio ou formam padrões reticulares, normalmente causados por coágulos nos capilares sanguíneos. Foram também observadas marcas, vermelhidão e urticária em outras partes do corpo. É possível que o tom azulado da pele se deva a uma coagulação patológica do sangue causada pelo novo coronavírus.

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