Como mangá pode impulsionar o crescimento econômico do Japão
23 de abril de 2023As vendas de mangás japoneses seguem crescendo e atingindo novos recordes, tanto no Japão como no exterior, consolidando a longevidade e a adaptabilidade de uma forma literária que, no passado, já foi julgada como imprópria para crianças.
E o potencial de um crescimento ainda maior é tão significante que a federação das indústrias do Japão, a Keidanren, pediu ao governo que promova mangás, animes e jogos como líderes do crescimento econômico mais amplo do país.
Segundo estatísticas divulgadas em março pela Associação de Editoras de Livros e Revistas do Japão, as vendas totais de revistas e livros de quadrinhos, tanto digitais como impressos, aumentaram 0,2% em 2022, somando um valor de cerca de 677 bilhões de ienes (cerca de R$ 25,5 bilhões).
As vendas de mangá superaram a marca de 600 bilhões de ienes pela primeira vez em 2020, graças em parte à popularidade da série de mangá Kimetsu no Yaiba, também conhecida pelo título em inglês Demon Slayer. Mas naquele ano, a indústria acredita que o setor também foi impulsionado devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, que deixou mais pessoas em casa e, consequentemente, dedicando-se mais à leitura.
As vendas dos mais tradicionais mangás impressos permaneceram relativamente estáveis nos últimos anos, respondendo por cerca de 250 bilhões de ienes no total em 2022 – embora represente uma queda em comparação com 1995, quando as vendas somaram 335,7 bilhões de ienes. Enquanto isso, as vendas de versões digitais de mangás para dispositivos móveis aumentaram drasticamente, com uma alta de 8,9% no ano passado.
Explosão nos EUA
A história se repete nos Estados Unidos, aponta Roland Kelts, professor visitante do departamento de mídia e estudos culturais da Universidade Waseda de Tóquio e autor do livro Japanamerica: How Japanese pop culture has invaded the US (Como a cultura pop japonesa invadiu os EUA, em tradução livre).
"Fiquei surpreso quando vi os números de 2020 e 2021, que mostraram que as vendas anuais de mangás nos EUA aumentaram 171%", disse ele à DW. "É um número surpreendente e que deixa claro que o mercado geral de histórias em quadrinhos cresceu muito mais rápido do que o mercado padrão de livros."
Mas existem diferenças importantes entre os mercados japonês e americano, afirma Kelts. Enquanto nos EUA as vendas de mangá impresso costumam ser impulsionadas pelos animes que fazem sucesso primeiro na televisão, incluindo títulos famosos como One piece e Attack on titan, a situação no Japão é inversa: séries de mangás impressos que ficam populares são transformadas em anime.
Segundo Kelts, os consumidores japoneses também foram mais rápidos em aderir às versões digitais dos mangás, enquanto os americanos ainda consomem mais os impressos.
Abordam temas fundamentais
Makoto Watanabe, professor de mídia e comunicação na Universidade de Hokkaido Bunkyo em Sapporo, está atualmente relendo a série de mangás Fullmetal alchemist, que ele devorou pela primeira vez quando menino.
"É uma história bastante estranha, mas quando você interpreta as ações dos personagens, tudo se resume a amizade, amor e dizer a verdade, que são temas muito fundamentais e que vão ressoar independentemente da idade do leitor", diz Watanabe.
"Acho que é isso que torna os mangás tão atraentes e atemporais; você pode lê-los quando criança e curtir a história, mas voltar muito mais tarde e encontrar uma nova história dentro deles."
Segundo o especialista, o mangá provou ser uma forma valiosa de escapar das restrições impostas pela pandemia e continua sendo uma valiosa ferramenta de aprendizado.
"Existem, é claro, alguns pontos negativos, como violência excessiva em alguns mangás. Mas no geral acredito que histórias e imagens fortes, que atraem a todos, desde crianças em idade escolar a trabalhadores, ajudam a comunicar muitos dos elementos essenciais da vida. São um recurso valioso", afirma.
A federação Keidanren vê os mangás também como um potencial gerador de dinheiro. Em 7 de abril, o órgão divulgou uma proposta ao governo japonês para que este se concentre na indústria de conteúdo – que também inclui anime, filmes, jogos de computador e música – como principal item de exportações.