Como um armador alemão impulsionou o colonialismo na África
4 de fevereiro de 2024Foi em 1868 que a C. Woermann, empresa de navegação e comércio de Hamburgo fundada por Carl Woermann, aportou em Douala, Camarões, para fazer negócios pela primeira vez.
Seis anos após o início das operações comerciais no continente, em 1874, um jovem e ambicioso Adolph Woermann assumiu a empresa do pai. Ele via na África um mercado para vender produtos alemães baratos, como o álcool, além de uma fonte de mão de obra barata para produzir matérias-primas valiosas para as fábricas alemãs.
O número crescente de colônias estabelecidas por outras nações europeias levou Woermann a temer que ele e outras empresas alemãs perdessem o acesso aos mercados africanos.
O então chanceler alemão, Otto von Bismack, estava relutante em estabelecer colônias, vistas por ele como um luxo caro. Mas à medida em que a concorrência europeia pelos mercados africanos crescia, crescia também o lobby de empresários. Sob o pretexto de que o estabelecimento de "protetorados" na África Ocidental poderia posicionar a Alemanha como uma grande potência, Woermann convenceu o chanceler a instituir as primeiras colônias alemãs no continente.
Quão crucial foi Woermann para o projeto colonial?
Muitos historiadores argumentam que a colônia alemã em Camarões não teria existido se não fosse por Woermann. O Tratado Germano-Douala de julho de 1884, assinado pelos reis Bell e Akwa de Douala, garantiu à companhia os direitos à terra e ao monopólio do comércio na região.
O empresário também foi uma peça-chave na Conferência de Berlim de 1884-1885, que formalizou as reivindicações coloniais europeias. O negócio marítimo de Woermann prosperou, tornando-se o braço direito do poder imperial alemão e que podia contar com o poderio militar que o país europeu tinha.
O que a Companhia Woermann comercializava?
Cerca de 60% das exportações alemãs para Camarões consistiam em produtos alcoólicos, mas logo surgiram armas para ajudar a defender as colônias da rebelião local e de outras potências europeias.
Isso encorajou os oficiais coloniais alemães a se aventurarem no interior para explorar as rotas comerciais locais. Em 1905, cerca de 200 empresas operavam na África Ocidental, das quais 30 pertenciam a Woermann. Elas estabeleceram plantações comerciais de óleo de palma, cacau, borracha, tabaco e café em Camarões, longe dos portos.
O Tratado Germano-Douala não proibia isso?
Os chefes de Douala acreditavam ter assinado um acordo que limitava a atividade alemã à costa e impedia que adentrassem no continente. No entanto, as autoridades coloniais apresentaram aos chefes um documento diferente da versão alemã que havia sido assinada.
O status de "protetorado" permitiu que as empresas alemãs operassem com apoio militar e Douala perdeu gradualmente o controle de suas rotas comerciais e de suas terras.
Como o colonialismo afetou os camaroneses?
As exportações geraram enormes lucros para a Companhia Woermann, ao mesmo tempo que destruíram e deixaram marcas muito profundas no tecido da sociedade camaronesa. Muitos não tinham sequer ouvido falar dos termos do Tratado Germano-Douala, e muito menos concordavam com eles.
Multidões de homens e mulheres foram forçadas a trabalhar em novas plantações, onde as condições eram brutais e os castigos corporais eram comuns.
Oficiais coloniais violentos como Jesko von Puttkamer garantiram que 20 a 30 mil camaroneses fossem forçados a colher e transportar borracha do interior para os navios na costa. Os líderes tradicionais que resistiram foram humilhados publicamente e aldeias foram incendiadas, o que forçou a migração para as cidades alemãs.
Quando Rudolf Douala Manga Bell, filho do rei que assinou o Tratado Germano-Douala, protestou contra o confisco das terras e os abusos a que seu povo estava sendo submetido, ele foi sumariamente preso por traição e executado em 1914.
Como a Companhia Woermann afetou a Namíbia?
A Linha Woermann monopolizou o transporte para as colônias alemãs e enviou cerca de 15 mil soldados ao Sudoeste da África para esmagar a Revolta Herero e Nama entre 1904 e 1907. Ganhou milhões com o transporte de pessoas, materiais e armas para o Estado alemão. A certa altura, chegou a mais de 600 milhões de marcos, uma soma astronômica para a época, custeada pelos contribuintes alemães.
Os nama e herero que sobreviveram à campanha militar foram levados para campos de detenção em Swakopmund e Lüderitz. Lá, empresas alemãs, incluindo a Woermann, usaram o trabalho escravo dos prisioneiros de guerra em projetos de infraestrutura, como a construção de linhas férreas e portos.
O que aconteceu depois que a Alemanha perdeu suas colônias em 1919?
A estreita relação da Companhia Woermann com o Estado alemão fez com que a empresa perdesse influência na África quando a Alemanha foi forçada a renunciar aos territórios coloniais logo após a Primeira Guerra Mundial.
A era do comércio colonial explorador havia acabado, mas os danos causados pela sua ganância e violência ainda deixam cicatrizes nas comunidades em Camarões e na Namíbia até os dias de hoje.