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Como animais selvagens reagem à elevação das temperaturas

12 de julho de 2024

Do Canadá à Austrália, animais estão sofrendo com ondas de calor cada vez mais comuns e mortais; pássaros são especialmente sensíveis a essa mudança.

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Filhote de macaco se agarra às costas da mãe, que nada em lago
Macacos se refrescam em lago em templo em Kathmandu, no NepalFoto: Sanjit Pariyar/NurPhoto/picture alliance

Macacos bugios desidratados caindo das árvores no México. Bilhões de mexilhões, ostras e cracas fervendo nas costas do Canadá. Centenas de pinguins-de-magalhães mortos na Argentina em um único dia.

Esses casos, ocorridos nos últimos anos, têm um elemento em comum: foram provocados pelo calor extremo.

As temperaturas em todo o mundo estão subindo à medida em que os países emitem cada vez mais gases de efeito estufa – 2023 foi o ano mais quente já registrado. E a mudança climática só está tornando as ondas de calor mais comuns e extremas.

A maneira como esse fenômeno afeta a vida selvagem depende de vários fatores: a geografia, se é um calor crônico ou ondas de calor isoladas e, é claro, que animais são afetados.

Uma pessoa usando luvas descartáveis amarelas alimenta um filhote de bugio com uma seringa
Filhote de macaco bugio recebe cuidados após onda de calor matar dezenas da espécie no México Foto: Luis Sanchez/AP Photo/picture alliance

Pássaros e morcegos caindo mortos do céu

Nos casos mais extremos, o calor pode causar mortes em massa.

"Isso acontece principalmente em áreas já quentes e secas, onde os animais não suportam muito aquecimento adicional", disse Andreas Nord, ecologista da Universidade de Lund, na Suécia.

"A Austrália é um ótimo exemplo. Lá, estamos falando de efeitos de proporções bíblicas. Assim, pássaros e raposas voadoras literalmente caem mortos do céu."

Mesmo que o calor não mate a vida selvagem, ele pode mudar seu comportamento de forma a influenciar o tamanho da população.

Há uma maneira mais insidiosa de morrer, que não deixa corpos, diz Eric Ridell, ecologista da Universidade da Carolina do Norte em Chapell Hill, nos Estados Unidos.

"Talvez porque estejam mais desidratados ou não consigam ser ativos o suficiente porque está muito quente, eles não se reproduzem naquele ano", disse ele. "Portanto, os animais ainda sobrevivem, mas não estão criando filhotes."

Um estudo de 2023 descobriu que os besouros enterradores tinham menos probabilidade de se reproduzir com sucesso quando uma onda de calor ocorria durante o acasalamento.

Pombos se refugiam do calor extremo nas sombras das árvores em praia do Kuwait
Pombos se refugiam do calor extremo nas sombras das árvores no KuwaitFoto: Yasser Al-Zayyat/AFP/Getty Images

Adaptação ao calor

Quando os animais mudam a maneira como agem para se resfriarem ou se aquecerem, os cientistas chamam isso de comportamento de regulação térmica. Durante as ondas de calor, isso pode incluir ficar na sombra, entrar na água ou descansar mais.

Uma das maneiras pelas quais os coalas na Austrália lidam com o calor extremo é abraçar troncos de árvores frias, por exemplo. Há vídeos que mostram ursos na Califórnia mergulhando em piscinas quando as temperaturas sobem.

No entanto, não está claro até que ponto os animais podem mudar seu comportamento para acompanhar um planeta em constante aquecimento.

"Não sabemos realmente se daqui a cem, mil ou dez mil gerações os animais estarão mais adaptados ao calor ou mais tolerantes a essas flutuações extremas de temperatura que estamos observando", disse Nord. "Mas isso não parece bom. Parece que muitos animais já estão vivendo no limite do que seus sistemas fisiológicos podem tolerar."

Uma dezena de veados se refrescam do calor em zoológico no Reino Unido
Veados se refrescam do calor em zoológico no Reino UnidoFoto: Mark Richards/Daily Mail/SOLO Syndication/picture alliance

Aves são especialmente vulneráveis

Outra questão em aberto é quais espécies são as mais suscetíveis ao aumento das temperaturas. Embora muitos grupos estejam sofrendo, os cientistas observaram que as aves costumam ser especialmente vulneráveis.

"Elas têm, comparativamente falando, maneiras relativamente ruins de resfriar seus corpos. As aves não têm glândulas sudoríparas. Isso é muito ruim quando faz muito calor", disse Nord.

Isso também é algo que Riddell observou em um estudo de 2021 de sua autoria. A pesquisa analisou um conjunto de dados de cem anos de pequenos mamíferos e aves encontrados no deserto de Mojave, na Califórnia.

Embora as duas comunidades vivessem no mesmo ecossistema, comendo os mesmos alimentos e bebendo a mesma água, elas tiveram respostas diferentes ao aumento das temperaturas.

As comunidades de mamíferos permaneceram estáveis durante todo o século. Enquanto isso, o número de espécies de pássaros no deserto caiu 43%.

Não se sabe ao certo se os pássaros migraram para outros ambientes ou se morreram. Mas está claro que esses animais ficam em desvantagem quando as temperaturas aumentam.

"Os mamíferos vivem em grande parte no subsolo, são em sua maioria noturnos, e as aves são em sua maioria diurnas, vivem acima do solo. Elas estão expostas ao sol, que realmente as aquece", disse Riddell. "Essas diferenças desempenharam um papel muito importante nas respostas às mudanças climáticas nos últimos cem anos."

Corvo em pedra no deserto de Mojave
Estudo comparou o efeito do calor entre pássaros e pequenos mamíferos no deserto de Mojave, na Califória, EUAFoto: Bruce Coleman/Photoshot/picture alliance

Pensando a longo prazo

Há poucas intervenções emergenciais que os seres humanos podem realizar para ajudar os animais a enfrentar o calor extremo. Alguns conservacionistas tentaram ajudar os animais selvagens borrifando-os com água ou fornecendo-lhes abrigo. Mas isso é apenas um "band-aid" em um problema muito maior.

O que é ainda mais importante no futuro é que os governos conservem os habitats naturais a longo prazo, afirmam Nord e Riddell. Porque os ambientes naturais dos animais terão os recursos para amortecer os efeitos mais nocivos das temperaturas escaldantes. Podem ser árvores frondosas, água, alimentos e locais para buscar refúgio.

"Esse efeito que a mudança climática e o calor extremo têm sobre o mundo vivo piora quanto menos do mundo vivo nos resta", disse Nord.

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