Como a economia alemã vem driblando a crise da covid-19
19 de setembro de 2020A queda do desempenho econômico da Alemanha será drástica, isso é um fato. Mas, ao contrário de França, Itália ou Espanha, onde a Comissão da União Europeia prevê um declínio total de dois dígitos em 2020, a economia alemã provavelmente terá perdas de "apenas" um dígito.
Desde a queda recorde provocada pelo coronavírus no início de 2020, a situação está definitivamente melhorando, segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis). De acordo com Albert Braakmann, responsável pela seção de Contas Nacionais, a economia do país "se recuperou um pouco" em julho e agosto.
E deve continuar assim, pois os indicadores precoces, como os níveis de encomendas industriais, o índice de pedágios de caminhões e o de clima de negócios do Instituto de Pesquisa Econômica (Ifo), "indicam uma nova recuperação".
No segundo trimestre, o produto interno bruto (PIB) alemão caiu 9,7% em decorrência das restrições implantadas para conter o coronavírus. Em geral, no entanto, os economistas apostam no retorno de um crescimento tão significativo para o segundo semestre do ano que a produção econômica para 2020 como um todo diminuiria "apenas" 5,8%, segundo estimativas do governo federal. Essa seria a maior queda já registrada desde a Segunda Guerra Mundial, mas poderia ter sido ainda pior: a referência é 2009, ano da crise financeira global, em que a economia alemã encolheu 5,7%.
Grande confiança na gestão de crise alemã
Para Friedrich Heinemann, do Centro de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW), em Mannheim, a confiança dos cidadãos na gestão de crise no âmbito da política e dos negócios é um fator crucial para explicar a resiliência da economia alemã.
"Na Alemanha, a dinâmica foi boa, no geral: o forte desempenho do governo na fase crítica fortaleceu a confiança da população. Esse aumento de confiança então leva a uma maior disciplina sanitária, que, em última análise, deve explicar a baixa dinâmica da segunda onda até agora", analisa o especialista da ZEW Europa, em entrevista à DW.
Em contraste com a França, os políticos e as autoridades alemãs deram mais ênfase ao bom senso e à autodisciplina da população. "[O presidente da França, Emmanuel] Macron reagiu de forma incrivelmente marcial e radical durante o lockdown e, assim perdeu credibilidade."
"A confiança no governo diminuiu e, consequentemente, piorou a disposição da população em obedecer aos apelos políticos e contribuir voluntariamente para a contenção da epidemia. O fracasso completo do aplicativo francês para conter a disseminação do coronavírus é o melhor exemplo disso." Segundo Heinemann, agora é difícil reconquistar a confiança perdida.
Até o fim de 2020, França e Espanha provavelmente estarão endividadas com mais de 110% de sua produção econômica. Já a Itália, cuja economia, após anos de estagnação, voltou ao nível do fim da década de 1990, terá uma dívida de mais de 150% do PIB em 2020, devido à crise da covid-19. Ou seja: o país teria que trabalhar um ano e meio – sem nenhuma gasto – apenas para reduzir suas dívidas – uma missão impossível.
Esperança de normalização do turismo
"A França e os europeus do sul devem agora tentar se manter de alguma forma até que a vacina esteja disponível. Só então vejo alguma perspectiva para eles novamente, já que o turismo tem uma enorme importância" na região, avalia Heinemann.
Mas o otimismo para a economia alemã que se reflete nas pesquisas econômicas do Instituto Ifo de Munique ou do Mannheim ZEW é mesmo justificado? Afinal, partes da indústria alemã e muitas empresas voltadas para a exportação já haviam sofrido uma retração econômica em 2019.
Para Friedrich Heinemann, esse otimismo é uma aposta de que a vacina estará disponível em breve. "Há uma grande probabilidade de que, dentro de um ano, estaremos vivendo num mundo em que o coronavírus perdeu seu poder amedrontador e seu potencial de ameaçar a economia, graças à vacinação."
Para ele, isso explica a esperança de uma recuperação muito forte. Além disso, na Alemanha, os cidadãos aprenderam gradualmente a viver, trabalhar, produzir e consumir apesar da pandemia. "E a grande prosperidade econômica que o boom de empregos criou nos últimos dez anos está estabilizando a demanda, inclusive de bens industriais."
Heinemann classifica portanto como altas as chances de uma recuperação "em forma de V": rápida e linear, após as perdas igualmente súbitas. "A recuperação, porém, leva mais tempo do que a queda abrupta do início do ano. Nesse aspecto, será antes um 'V inclinado para a direita'", ressalva o pesquisador do ZEW.
Adaptação: Isadora Pamplona