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Como a Alemanha faz para sair do atoleiro da pandemia?

Christina Küfner
9 de abril de 2021

Uma colcha de retalhos de regulamentos, conflito entre o governo federal e os estaduais, excesso de burocracia, medidas oportunistas: depois de um ano, os alemães não encontram um curso eficaz na crise da covid-19.

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Águia e bandeira da Alemanha entre máscaras sanitárias
Um país, 16 estados, regras diversas: pandemia divide a AlemanhaFoto: Bildagentur-online/Ohde/picture alliance

Sentar no biergarten, fazer esporte na academia, ir ao cinema à noite: no Sarre tudo isso é possível, pois o estado alemão relaxou suas medidas antipandemia na segunda semana de abril. Nas cidades de baixa incidência do estado de Schleswig-Holstein, estão também liberadas as mesas do lado de fora dos restaurantes.

Em outros estados, diversos municípios se dispõem a experimentar aquilo que a cidade de Tübingen, em Baden-Württemberg, já pratica desde meados de março: "abrir com segurança". O cerne do processo é o teste rápido de coronavírus: quem apresenta resultado negativo ganha certas liberdades.

Por toda a Alemanha, planos para esse tipo de "regiões-modelo" despontam como margaridas no campo. Atualmente o país exibe todo um buquê das mais variadas políticas de covid-19, sem que se identifique uma percepção unificada da situação.

Enquanto isso, há semanas os especialistas advertem para que não se subestime a virulência da terceira onda da pandemia. Falando à DW, o epidemiologista Dirk Brockmann prevê para breve de 40 mil a 60 mil novos casos diários. A solução para ele é clara: "Temos que reduzir os contatos onde for possível."

Discussões estéreis

Diante do número crescente de contágios, a chanceler federal Angela Merkel propõe um confinamento breve, porém uniforme em toda a Alemanha. "A diversidade das regras determinadas não contruibui, no momento, para a segurança e aceitação", voltou a declarar recentemente através de porta-voz. Poucos dias antes, numa entrevista para a TV, a chefe de governo já criticara as medidas de abertura em diferentes estados.

Ainda não há data para a próxima conferência entre os governos federal e estaduais, depois do cancelamento da reunião que estava marcada para a próxima segunda-feira (12/04). Neste meio tempo, a rodada regular entre Berlim e os 16 governadores alemães ganhou reputação negativa, sobretudo após o vexame do lockdown de Páscoa, que, depois de anunciado, se constatou ser inviável, sendo em seguida cancelado por Merkel.

Antes, os líderes haviam discutido entre si nada menos do que 12 horas. E assim vem sendo, há meses: relaxar ou endurecer; abrir ou fechar as escolas; viagens, sim ou não. Debate-se muito, mas sem que resulte em regras uniformizadas. Há um bom tempo já não se sabe mais o que vale em cada estado.

Governo autoritário é a solução?

A que se deve o fato de que, um ano após o início da pandemia, a gestão de crise da Alemanha seja uma total bagunça? O princípio consagrado na Lei Fundamental concede aos estados competência em diversos setores, como o da educação, mais não na aplicação das medidas de prevenção de doenças infecciosas.

Por outro lado, atribuir os problemas exclusivamente a essa discrepância é uma avaliação demasiado superficial, ressalva o cientista político Gero Neugebauer, para quem "a estrutura federalista, em si, não é o problema, mas sim como cada estado se comporta durante a crise".

Falta uma noção comum do que seja o bem comum, prossegue: "Os governadores interpretam o bem comum como convém melhor ao seu próprio estado" – o que, a seu ver, se deve cada vez mais a considerações de campanha eleitoral.

No terceiro trimestre, a Alemanha elege seu novo Parlamento, e os líderes estaduais querem fazer boa figura em casa. "Eles não têm coragem de decidir 'sim, queremos medidas duras'; têm medo disso, pois acham que assim vão perder a simpatia dos eleitores."

E no entanto isso é algo que a política não precisaria temer no momento: diante do acréscimo dos contágios, a maioria da população está a favor de um lockdown mais rigoroso, constataram as pesquisas de opinião do instituto Infratest Dimap. Ao mesmo tempo, porém, os infrutíferos debates da política fazem crescer a frustração: quase 80% dos cidadãos se dizem insatisfeitos com o modo como os dirigentes estão procedendo na crise, eles estão fartos de vai-não-vai.

"Para Angela Merkel, fica em questão se não seria melhor governar por conta própria", sugere Neugebauer. "Só com sua autoridade, ela não tem mais como convencer os governadores." E há sinais de que, nesse ínterim, a premiê já chegou à mesma conclusão.

Numa entrevista televisada, ela ameaçou endurecer a lei de proteção a doenças infecciosas conferindo mais competências ao governo federal nas medidas antipandemia. Segundo fontes da imprensa, Merkel já estaria estudando passos concretos nesse sentido, o que logo gerou novas críticas em alguns estados.

Fim da inação

Não são só os processos decisórios da política que muitos não entendem mais: a burocracia também é um teste de paciência: o Estado disponibiliza bilhões em verbas contra o coronavírus, mas o pagamento muitas vezes demora meses. Os médicos da família já têm permissão para vacinar, mas para tal têm que preencher montes de formulários; a campanha de vacinação deveria andar mais rápido, mas a marcação de horários muitas vezes falha.

"Nós, da administração alemã, não somos capazes de processar no curto prazo problemas novos que se apresentam", diagnostica o especialista em gestão digital Thomas Meuche. Ele culpa as estrututras hierárquicas, em que a comunicação sempre transcorre de cima para baixo e vice-versa, mas nunca entre as diferentes repartições.

"Desacostumamos os funcionários administrativos de assumirem responsabilidades", e agora na crise se constata a sobrecarga desse sistema. O especialista admite que não é possível transformar no curto prazo essa estrutura empoeirada, porém se pode pensar e agir de forma mais flexível: "Eu não preciso de leis para deixar rolar."

Para que a Alemanha encontre a saída do presente caos, é preciso sobretudo uma coisa: acabar com o eterno empurra-empurra de decisões. Quem há pouco expressou essa conclusão de forma perfeitamente clara foi o youtuber alemão Rezo.

Depois de, dois anos atrás, ter feito manchetes com seu vídeo sobre a destruição da conservadora União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, numa publicação recente ele destrincha a política para o coronavírus e conclui: "Todo mundo sabe: não agir é o pior de tudo. A coisa mais radical, mais brutal, mais destrutiva que você pode fazer é não agir."