Como a Alemanha contribui para a Otan
20 de março de 2017Os gastos com a segurança nacional se transformaram num pomo da discórdia na política da Alemanha, com os representantes das legendas da coalizão governamental – o Partido Social-Democrata (SPD) e a União Democrata Cristã (CDU) – defendendo posições antagônicas, já no clima das eleições gerais de setembro.
A chanceler federal Angela Merkel e ministra da Defesa Ursula von der Leyen, ambas da CDU, se comprometeram a elevar até 2024 o orçamento correspondente aos 2% do PIB propostos pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Em contrapartida, o ministro do Exterior e vice-chanceler federal Sigmar Gabriel, do SPD, diz duvidar que seja efetivo elevar os gastos no setor "dessa forma", sem levar em conta outros fatores determinantes na avaliação do orçamento militar.
Nesta segunda-feira (20/03), o deputado Norbert Röttgen, da CDU, atacou os comentários de Gabriel. Ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, declarou que os social-democratas, e mais ainda o ministro do Exterior, "não deveriam usar essa questão como tema de campanha eleitoral nacional, e sim ser responsáveis pela Alemanha".
A polarização em torno do tema defesa parte do ultimato do presidente americano, Donald Trump, para que os Estados-membros adotem o teto mínimo de 2% do Produto Interno Bruto para seus gastos militares. Se não o fizerem, Washington ameaça retirar seu comprometimento total com a aliança.
Após uma conferência dos ministros da Defesa dos países da Otan em Bruxelas, em fevereiro, o secretário americano da Defesa, James Mattis, confirmou que seu país cumpriria suas responsabilidades, mas se as demais nações "não quiserem ver a América moderar seu engajamento por esta aliança, cada uma de suas capitais precisa mostrar apoio a nossa defesa comum".
Independente da tensão assim criada dentro da Aliança Atlântica, fato é que em 2014 os Estados-membros já haviam concordado em alcançar essa porcentagem até 2024, com base na promessa feita em 2006 de "se comprometer com um gasto mínimo de 2% de seu PIB para a defesa":
As tensões se reacenderam na sequência da visita da chanceler federal alemã, Angela Merkel, a Washington, quando Trump escreveu no Twitter que "a Alemanha deve vastas somas de dinheiro à Otan, e tem que se pagar mais aos Estados Unidos pela poderosa, e muito cara, defesa que proporciona à Alemanha".
A ministra Ursula von der Leyen, que é a favor da meta dos 2%, divulgou um comunicado nesta segunda-feira, no sentido de que "não há qualquer conta em que estejam registrados débitos com a Otan". Analistas confirmam que a aliança não funciona dessa forma, não tendo qualquer prerrogativa a verbas, para fins de defesa ou outros.
Maiores contribuintes
Segundo a Otan, os gastos dos EUA com defesa correspondem a 72% das verbas dedicadas a esse fim no contexto da Aliança Atlântica.
"Isso não significa que os Estados Unidos cubram 72% dos custos envolvidos na operação da Otan como organização, incluindo seu quartel-general em Bruxelas e seus comandos militares subordinados", declarou a organização.
"Mas significa, sim, que há um excesso de confiança da parte da aliança, como um todo, nos EUA como provedor de capacidades essenciais, por exemplo, no tocante a inteligência, vigilância e reconhecimento; reabastecimento aéreo; defesa balística de mísseis; e armamento eletrônico aéreo."
Enquanto Washington é o maior contribuinte "para os orçamentos e programas de financiamento comum", com 22%, Berlim vem em segundo lugar, arcando com quase 15% dos orçamentos civil e militar do programa de investimento em segurança da Otan para 2016 e 2017.
Terceiro e quarto maiores contribuintes, a França e o Reino Unido são responsáveis, respectivamente, por 10,6% e 9,8% dos orçamentos e programas de custos partilhados.
Mais do que dinheiro
Mas os alemães fornecem mais do que recursos financeiros à aliança. "A Alemanha tem contribuído com cerca de 4.700 homens para operações em curso, para as quais a arquitetura de segurança da Otan, a União Europeia, as Nações Unidas e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) formam o quadro", informa a quartel-general da Otan.
Em fevereiro, 450 soldados e 30 tanques da Bundeswehr chegaram à Lituânia, como parte da presença reforçada da Otan na região do Mar Báltico. Em 2016, no auge da crise dos refugiados, o país forneceu o principal navio de apoio para a missão da organização no Mar Egeu, com o fim de "conduzir reconhecimento, monitoramento e vigilância de travessias ilegais", nas águas territoriais gregas e turcas.
Berlim tem aproximadamente 980 soldados estacionados no Afeganistão, para a missão Apoio Resoluto, da Otan, cujo escopo é "treinar, assessorar e assistir as forças de segurança e instituições afegãs", após o fim de uma década da missão da Isaf.
A Alemanha é, ainda, a segunda maior contribuinte da força da Otan no Kosovo, KFOR, com 550 militares cuja tarefa é manter "um ambiente seguro" na região. A Alemanha Ocidental (RFA) se filiou oficialmente à Aliança Atlântica em 1955, integrando também a Alemanha Oriental em (RDA) em 1990, no decorrer da reunificação do país.