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Comitê alemão apresenta controverso relatório sobre NSA

Jefferson Chase
28 de junho de 2017

Comissão parlamentar de investigação entrega ao Bundestag conclusões sobre caso de espionagem americana na Alemanha. Elaboração do documento é marcada por falta de consenso entre governo e oposição.

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Presidente do Bundestag, Norbert Lammert, recebe de Patrick Sensburg (esq.) e Tankred Schipanski relatório sobre NSA
Presidente do Bundestag, Norbert Lammert, recebe de Patrick Sensburg (esq.) e Tankred Schipanski relatório sobre NSAFoto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld

Um comitê de investigação alemão apresentou nesta quarta-feira (28/06) ao Bundestag (Parlamento) suas conclusões sobre o caso de espionagem americana na Alemanha, além de espionagens de Berlim contra seus aliados. O relatório tem mais de 1.800 páginas, mas falta consenso.

Mais de três anos de trabalho foram necessários para elaborar o relatório apresentando pelo presidente do comitê parlamentar de investigação, Patrick Sensburg. O inquérito parlamentar multipartidário foi iniciado em 2013 após a revelação do ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden de que os serviços de inteligência dos EUA mantiveram aliados sob vigilância.

Washington inclusive chegou a grampear o telefone celular da chanceler federal alemã, Angela Merkel. "Espionagem entre amigos é algo que não dá [para aceitar]", disse Merkel em sua declaração mais famosa quando o caso veio à tona.   

Mas os investigadores logo descobriram que o Serviço Federal de Informações da Alemanha (BND) cooperou com a NSA e também controlava seus aliados, por exemplo, ao usar os chamados seletores – termos de busca para a vigilância da rede. 

O relatório do comitê parlamentar contém uma infinidade de minúcias, desde as especificações técnicas ou capacidades dos drones até várias operações de inteligência nacionais e internacionais. Mas o texto raramente alcança conclusões claras sobre o que foi feito de maneira errada e por quem. Isso foi – conforme o próprio relatório admite – até motivo de disputa entre partidos políticos.

"Infelizmente, apesar da convicção compartilhada por todos os grupos parlamentares sobre a necessidade da investigação em seu início, houve divergências substanciais entre os grupos do governo e da oposição sobre a metodologia e os objetivos do trabalho do comitê", diz um trecho do documento.

O relatório foi publicado pela coalizão governamental formada pelos conservadores da União Democrática Cristã (CDU), sua aliada União Social Ciristã (CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD) depois de uma confusão envolvendo uma dissidência de 450 páginas escrita pelos opositores de A Esquerda e Partido Verde. O presidente do comitê de investigação se recusou a publicar esse documento, alegando revelar informações confidenciais. Os membros do A Esquerda e do Partido Verde se recusaram então a assinar a versão final do relatório e foram removidos do comitê.

Conclusões "surpreendentemente positivas"

Embora o relatório seja crítico tanto em relação ao governo dos EUA quanto ao da Alemanha em vários temas, a investigação atingiu conclusões "surpreendentemente positivas" na questão sobre se Washington essencialmente traiu a confiança da Alemanha.

Angela Merkel
Merkel depôs perante o comitê parlamentar de investigação em fevereiroFoto: picture alliance/AP Photo/M. Sohn

"O comitê é da opinião de  que, apesar de toda a divergência em relação à espionagem da NSA no passado, há um consenso relativamente grande quanto ao rigor e ao estabelecimento de uma supervisão do serviço de inteligência pelos parlamentos na Alemanha e nos EUA", diz um trecho, por exemplo.

Os oposicionistas de A Esquerda e do Partido Verde enxergam a situação de forma completamente diferente. Numa seção incluída no texto oficial, os dois partidos fazem uma série de recomendações extremamente críticas, incluindo a submissão dos serviços de inteligência alemães ao aumento de supervisão externa e parlamentar, fortalecendo a segurança da tecnologia da informação.

"Comportamento não parlamentar sem precedentes"

A oposição também criticou o fato de que Snowden, que atualmente vive na Rússia, nunca foi capaz de testemunhar perante o comitê porque o governo alemão se recusou a garantir-lhe segurança. 

A Esquerda e o Partido Verde disseram que estão avaliando se entram com recurso jurídico contra o que classificaram de "comportamento não parlamentar sem precedentes" por parte da coalizão de governo.

Membros dos partidos governantes não concordaram com essa avaliação e acusaram a oposição de tentar criar um escândalo em ano eleitoral. "Não há indícios de que os alemães tenham sido espionados em massa", garantiu Sensburg, também ao Tagesspiegel.

O líder social-democrata no comitê de investigação, Christian Flisek, acusou a oposição de uma "recusa completa" em cooperar. Mas ele também apontou uma barreira montada pelos conservadores e Merkel. "Havia um sistema no topo da chancelaria federal que não queria saber de nada", afirmou Flisek à agência alemã de notícias DPA.