Começa corrida pela sucessão de David Cameron
24 de junho de 2016Poucas horas depois de o Reino Unido anunciar que 52% dos eleitores optaram pela saída do país da União Europeia, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, se apresentou diante de repórteres na sede do governo, em Downing Street, para anunciar o inevitável: em outubro de 2016, ele deixará de ser chefe de governo do Reino Unido.
Durante a campanha para o referendo, Cameron prometera que permaneceria no cargo, independente do resultado da votação. Mas, após ter se posicionado fortemente a favor da permanência no bloco, nesta sexta-feira(24/06) ele declarou não se considerar a pessoa certa para liderar o Reino Unido ao longo das negociações para a saída da UE.
"Não acho que seria certo ser eu o capitão que orientará nosso país para seu próximo destino", justificou-se, acrescentando que já informara a rainha Elizabeth 2ª sobre suas intenções.
Promessa fatídica
O conservador Cameron assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2010, cumprindo seu primeiro mandato num governo de coalizão. Em 2015, ganhou a reeleição sem a necessidade de um parceiro de coalizão. Sua plataforma na campanha incluía a oferta de um referendo sobre a saída da UE, promessa que acabou sendo responsável por sua queda final.
A decisão do premiê na sexta-feira veio apesar de uma carta aberta de apoio a Cameron de mais de 80 aliados do partido, publicada antes de o resultado do referendo ser divulgado. Eles afirmavam que o primeiro-ministro tinha "um dever" de permanecer no cargo, qualquer que fosse o resultado. Vários conservadores eurocéticos de destaque não apoiaram a carta, no entanto.
Com a corrida apertada entre os dois lados, nas semanas que antecederam o referendo não faltou especulação sobre quem seria o sucessor de Cameron. Com a renúncia confirmada, a corrida agora é para ver quem será o próximo líder do Partido Conservador e próximo primeiro-ministro britânico, de fato.
Boris Johnson
Depois de oito anos de mandato como prefeito de Londres, Boris Johnson tem sido apontado há meses como o próximo líder do partido. Após liderar com sucesso a campanha pela saída do Reino Unido, o político de 52 anos será agora amplamente considerado o vencedor no referendo – pelo menos entre os partidários do Brexit.
Nome conhecido, tanto em casa como no exterior, sua presença midiática está longe de ser um obstáculo aos esforços de garantir para si a liderança do Partido Conservador e até mesmo as chaves para a casa número 10 em Downing Street. Ele também é o favorito das casas de apostas.
Michael Gove
O ministro britânico da Justiça, Michael Gove, tem visto aumentar seu apoio entre os membros da base do Partido Conservador nas últimas semanas.
Uma pesquisa publicada em maio no site Conservative Home o mostrou no topo do ranking pelo segundo mês consecutivo, com 31% da preferência eleitoral.
Defensor da saída do Reino Unido, ele descartou repetidas vezes se candidatar à liderança de seu partido, dizendo ao jornal britânico The Telegraph não querer se tornar primeiro-ministro.
"Há gente muito mais bem equipada do que eu para isso", afirmou o político de 48 anos. Em 2014, ele também disse ao Financial Times não possuir "o que é preciso" para o cargo.
Theresa May
A principal mulher na corrida pela liderança conservadora é a ministra do Interior, Theresa May. Apesar de apoiar o "Remain" (a permanência da UE), a política de 59 anos se posicionou bem ao longo da campanha, sem prejudicar sua popularidade entre os conservadores favoráveis ao Brexit.
Mas seus correligionários dificilmente esquecerão a decepção pelo fracasso da ministra em reduzir a cota de imigração para menos de 100 mil por ano, uma de suas principais promessas ao tomar posse em 2010.
George Osborne
Considerado durante uma época como um candidato óbvio para assumir o cargo de seu amigo David Cameron, o ministro das Finanças, George Osborne, se tornou cada vez mais impopular entre seus correligionário em consequência de uma série de deslizes econômicos.
Um desastroso orçamento apresentado em março, incluindo grandes cortes de benefícios sociais para deficientes, provocou uma rebelião em grande escala no campo conservador, assim como a renúncia do ministro do Trabalho, Iain Duncan Smith.
O "sucessor natural de Cameron" não está completamente fora da corrida, mas tem poucas chances, segundo as casas de apostas.
Depois do descontentamento com a mudança de poder em 2007, quando Gordon Brown sucedeu Tony Blair, também é possível que o Reino Unido realize eleições antecipadas, dando aos eleitores a oportunidade de escolher um novo governo.