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Combate ao terrorismo move moinho eleitoral da Alemanha

Augusto Valente8 de agosto de 2005

Pronunciamentos do ministro do Interior caem no fogo cruzado das eleições. Oposição usa em sua campanha temas como a prisão preventiva de suspeitos, arquivo central antiterror e separação entre polícia e serviço secreto.

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Schily propõe debate sobre prisão preventiva de suspeitosFoto: AP

Apesar de todas as afirmativas em contrário, o combate ao terrorismo é parte inalienável da campanha eleitoral na Alemanha. Essa constatação, já feita logo após os atentados em Londres, confirmou-se nas reações às declarações do ministro do Interior, Otto Schily, sobre a segurança no país, nesta segunda-feira (08/08).

Centro antiterror

Schily realizou um balanço positivo dos primeiros meses do Centro Comum de Defesa contra o Terrorismo (GTAZ). O experimento, iniciado em Berlim em dezembro passado, é sem precedentes no país, pois fomenta a cooperação entre diversos órgãos alemães de segurança até então totalmente isolados.

No bairro berlinense de Treptow trabalha um total de 180 funcionários – no final do ano serão 200 – dos diferentes departamentos: o de Proteção à Constituição (responsável pela segurança interna), o Federal de Investigações (BKA) e o Serviço Federal de Informações (BND, o serviço secreto alemão). Os órgãos estaduais de investigações criminais e de proteção à constituição também enviam agentes de ligação ao centro, assim como o Serviço de Proteção Militar (MAD).

O secretário do Interior da Baviera, Günther Beckstein, da União Social Cristã (CSU), criticou o fato de a central antiterror constituir-se, na realidade, de dois centros: um para a polícia e outro para o serviço secreto. “Isso causa desnecessárias perdas por atrito”, afirmou, exigindo uma cooperação mais estreita entre as autoridades. Beckstein é o considerado o possível sucessor de Schily, em caso de vitória da oposição conservadora nas eleições de 18 de setembro.

Separação entre polícia e serviço secreto

Na Alemanha, a separação entre a polícia e os serviços secretos é um mandamento inabalável da política estatal, em grande parte devido às experiências nefastas com a Gestapo (polícia secreta nazista) e a Stasi (serviço de segurança da Alemanha comunista). Quem pode ouvir e ver muito, deve ter autoridade policial limitada, e vice-versa. Além disso, seria função explícita dos órgãos de proteção à Constituição identificar tendências extremistas, antes de eventuais atos criminosos.

Günther Beckstein assegura que não pretende questionar este princípio de legalidade, caso venha a suceder Schily. Ele defende apenas a possibilidade de a polícia tomar as medidas cabíveis, a curto prazo, a partir das observações dos serviços secretos, nos casos em que o perigo é longínquo, porém certo. “Na cooperação entre a proteção à Constituição e a polícia temos uma lacuna, quando chegamos ao ponto de executar medidas”, afirma o secretário do Interior. Outros políticos da União Democrata Cristã (CDU) afirmam que a defesa contra o terrorismo não está em boas mãos, com Schily.

Arquivo central antiterror

Um outro tema recorrente no debate sobre segurança na campanha eleitoral é o “arquivo antiterror”, visto como arma de prevenção contra extremistas islâmicos. Na versão de Schily, deveria tratar-se de um arquivo-índice, contendo apenas observações sobre quais serviços de seguranças dispõem de informações sobre uma determinada pessoa ou incidente.

Já Günther Beckstein e os secretários do Interior de Brandemburgo, Jörg Schönbohm, e da Baixa Saxônia, Uwe Schünemann, ambos da CDU, exigem um arquivo de texto corrido, acessível a todos os órgãos de segurança. Deste constariam, na íntegra, os dados de que dispõem sobre o caso em questão tanto as polícias estaduais como o Departamento de Proteção à Constituição e outros serviços secretos. Aqui, a oposição conservadora critica como “irresponsável” a demora de Schily em implementar a medida.

Prisão preventiva para suspeitos de terrorismo

Durante a entrevista desta segunda-feira, Otto Schily pronunciou-se a favor de leis mais rigorosas para o combate ao terrorismo. Entretanto, classificou como mero “convite ao debate” sua própria sugestão de que se institua a prisão preventiva para estrangeiros suspeitos de terrorismo. “Não se pode decidir de uma hora para outra sobre um assunto assim”, relativizou.

Ele sublinhou que a medida só visaria estrangeiros altamente perigosos, que por motivos legais não podem ser deportados; pessoas que as autoridades sabem constituir ameaça, mas contra as quais não dispõem de provas suficientes para iniciar um processo penal. Trata-se de impedir que a ameaça se desenvolva sob o olhar dos órgãos de segurança, explicou.

Schily rebateu as objeções de seus correligionários do Partido Social Democrata (SPD), de que a proposta seria inconstitucional: a detenção precisaria apenas ser ordenada por um juiz e o suspeito teria direito a um advogado. Além disso, ninguém seria preso por suas convicções ou por especulações, mas sim com base em fatos concretos.

A proposta do ministro do Interior fora recebida com aplauso pela CDU-CSU, que já anunciara que porá em prática a prisão preventiva para suspeitos de terrorismo, caso vença as próximas eleições.