Com Ghani presidente, Afeganistão terá governo de unidade nacional
21 de setembro de 2014Depois de três meses de discussões, os dois candidatos à presidência do Afeganistão selaram neste domingo (21/09) o acordo sobre a formação de um governo de unidade nacional. Em cerimônia realizada em Cabul, no palácio do ainda presidente Hamid Karzai, o ex-ministro das Finanças Ashraf Ghani e o ex-ministro do Exterior, Abdullah Abdullah, assinaram o documento que pôs fim à crise eleitoral e possibilitou a primeira troca de presidente desde que os talibãs deixaram o poder, em 2001.
A cerimônia durou menos de dez minutos, e os dois concorrentes não se pronunciaram. Apenas o presidente cessante, Karzai, que comanda o país há 13 anos, desejou prosperidade e paz duradoura ao Afeganistão. "Estou feliz por os nossos irmãos Ghani e Abdullah terem concluído um acordo pelo bem e pela estabilidade do país", disse Karzai.
Horas mais tarde, a comissão eleitoral – sem informar o percentual de votos – confirmou a vitória de Ghani nas eleições, que será oficializado presidente em até uma semana. Assim, Abdullah pode vir a ser o chamado chefe administrativo, uma espécie de primeiro-ministro. No entanto, especialistas acreditam que é possível que Abdullah não vá ocupar o cargo, mas nomear alguém.
O chefe administrativo, que terá um mandato de dois anos, responde diretamente ao presidente. Porém, de acordo com o documento, "as duas equipes estarão igualmente representadas em nível de liderança", ou seja, ambos vão decidir as nomeações do resto do Executivo.
EUA e Alemanha saúdam acordo
O Afeganistão mergulhou numa crise política depois de Abdullah ter se recusado a aceitar os resultados preliminares do segundo turno, realizado em 14 de junho, e que davam vitória esmagadora a Ghani. Abdullah afirmou que a votação foi marcada por fraudes em "uma escala industrial". Ele havia vencido o primeiro turno.
A suposta fraude ameaçou reviver conflitos étnicos e, a partir de julho, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, interveio e moderou as negociações. Ghani e Abdullah concordaram em realizar a recontagem dos cerca de 8,1 milhões de votos. Mas, logo após o início da recontagem, divergências sobre o critério adotado para descartar supostos votos falsos nutriram nova briga.
Em comunicado, os Estados Unidos saudaram a união no país asiático. "Este acordo marca uma importante oportunidade para a unidade e a crescente estabilidade no Afeganistão", disse a Casa Branca.
A Alemanha também se pronunciou. O ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, falou de um "bom dia para o Afeganistão" e que agora o caminho está livre "para os importantes próximos passos na luta por um futuro melhor para o país". Porém, exigiu continuidade: "Medidas concretas precisam ocorrer de forma rápida", salientou.
PV/afp/rtr