Com feridas abertas, futebol alemão inicia temporada
7 de agosto de 2018Pouco antes de começar a Copa do Mundo na Rússia, o portal kicker fez uma enquete com os seus leitores querendo saber até onde chegaria a Mannschaft no torneio. Participaram da pesquisa 97.664 torcedores.
Deles, 37,5% achavam que a Alemanha seria penta, e 39,2 % que o time chegaria pelo menos à semifinal. Apenas 1,4% apostaram suas fichas numa eliminação precoce na fase de grupos.
Para considerável parte da torcida alemã, o fracasso de sua seleção não foi apenas uma surpresa, mas, isto sim, um golpe terrível na sua inabalável convicção de que depois da gloriosa conquista de 2014 no Brasil, os comandados de Joachim Löw poderiam até conquistar pela segunda vez consecutiva o título na Rússia, façanha alcançada apenas por Itália (34 e 38) e Brasil (58 e 62).
O próprio Löw alimentava esperanças de que seria possível repetir a dose. Prova é que, pouco antes da Copa, renovou seu contrato com a Federação Alemã de Futebol até 2022. Löw achava que poderia reeditar, na Rússia, o que ficou demonstrado no Brasil: futebol moderno, jogo bonito, combinações inteligentes e, acima de tudo, um espírito de equipe que prioriza o coletivo.
Mas, ao fim e ao cabo, a lei de Murphy – se algo pode dar errado, dará – acabou prevalecendo, e muita coisa desandou já durante os preparativos da Alemanha para a Copa.
A começar pela insistência com Neuer, passando pela dispensa inexplicável de Sané, continuando pela preferência dada aos medalhões em detrimento dos jovens talentos e insistindo na manutenção da espinha dorsal de 2014 formada por Neuer, Boateng, Hummels, Khedira, Müller e Özil, todos, sem exceção, longe de sua melhor forma técnica e física.
Entre alguns jornalistas pairava a nítida impressão de que a gestão da comissão técnica e do management da seleção alemã estava contaminada pelo "wishfull thinking”, ou seja, um pensamento norteado pelo desejo e não pela realidade. Aqui no Brasil temos uma ótima expressão para situações como esta: "Deixa prá lá. No fim, vai dar tudo certo”.
No caso da Mannschaft isso só funcionou uma vez: foi quando Toni Kroos marcou, na bacia das almas, o gol da vitória sobre a Suécia. No mais, tudo que podia dar errado, deu errado mesmo e culminou com a inédita eliminação dos alemães na fase de grupos.
Chegou a hora de reconstruir
Depois do desastre na Rússia, uma nova palavra de ordem foi talhada para o futebol alemão: reconstrução. Pelo menos foi esta a palavra que Löw utilizou com mais frequência ao se referir ao seu futuro trabalho no comando da seleção. Ao menos implicitamente, ele admitiu que deixou um elenco em ruínas nos campos russos.
É neste ambiente de reconstrução que o futebol alemão dará o seu pontapé inicial da temporada 18/19 com a realização da Supercopa no próximo domingo (12/08), colocando frente a frente Eintracht Frankfurt, campeão da Copa da Alemanha, e Bayern Munique, campeão da Bundesliga.
Essa tal da Supercopa foi disputada pela primeira vez em 1987 por Bayern e Hamburgo, com vitória dos bávaros por 2 a 1. Foram ao todo apenas 18 edições porque de 1997 a 2009 a disputa não foi realizada, sendo reintroduzida em 2010.
Desde então, o confronto entre o campeão da Copa e o campeão da Bundesliga acabou se tornando o pontapé inicial da nova temporada.
O curioso do atual confronto entre Munique e Frankfurt é que os dois disputaram o último jogo oficial do futebol alemão na temporada 17/18 pelo título da Copa da Alemanha, e o Eintracht Frankfurt, sob o comando de Niko Kovac, levou a melhor por 3 a 1.
Detalhe: foi o último jogo de Kovac no comando do Eintracht e que, agora, como novo comandante do Bayern, vai fazer sua estreia em jogo oficial justamente contra o seu ex-clube.
A partida será realizada na Commerzbank Arena de Frankfurt, e a torcida marcará presença maciça: 50.000 ingressos já foram vendidos.
Löw estará de olho
Joachim Löw, como de costume, deverá assistir ao jogo no estádio para avaliar eventuais novos valores a serem aproveitados na Mannschaft, e assim iniciar o seu trabalho de reconstrução da seleção alemã. Só que, como se sabe, reconstrução demanda tempo, não é de uma hora para outra.
Mas será de uma hora para outra que a Alemanha terá três compromissos oficiais pela Liga das Nações. O primeiro será daqui a um mês contra a atual campeã mundial França e, um mês e pouco depois, vem Holanda e novamente a França no jogo de volta.
Em outras palavras: mal começou o propalado trabalho de reconstrução, a Alemanha, ainda lambendo as suas feridas ou, na melhor das hipóteses, ainda em processo de cicatrização das feridas abertas na Rússia, enfrentará duas vezes a orgulhosa França campeã mundial e depois a Holanda querendo se aproveitar dessa, para dizer o mínimo, instável fase pela qual passa a equipe alemã.
Uma derrota humilhante frente à França, com consequente eliminação precoce da Liga das Nações, pode até significar o fim da era Löw no comando da equipe sem ter tido a chance de reconstruir o elenco deixado em frangalhos na Rússia.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar”. A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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