Com Bolsonaro, Brasil perde atratividade para a Europa
29 de outubro de 2018Os brasileiros elegeram, com clara maioria, um populista de direita que não só quer "pôr ordem" no Brasil. Ele também quer reposicionar – tanto política como economicamente – o mais importante país da América do Sul no mundo. Com ele no governo, o Brasil poderá deixar o Acordo de Paris.
Ele também já falou sobre sair da ONU, e a relação com a China deverá ser reavaliada. Claro que se pode minimizar tudo isso e esperar que nenhum desses planos seja realmente posto em prática. Por exemplo se explicarem para Jair Bolsonaro qual é o preço do isolamento internacional.
Nos seus quase 30 anos de baixo clero no Congresso, Bolsonaro se destacou sobretudo com vulgaridades homofóbicas, racistas e misóginas e conseguiu aprovar apenas dois projetos de lei.
Certamente nem todos os 58 milhões de brasileiros que votaram nele são saudosos da ditadura militar que consideram a tortura legítima e querem armar a população. Muitos brasileiros votaram nele porque consideram o PT e o ex-presidente que está preso em Curitiba como o grande mal do Brasil.
Mas também é verdade que Bolsonaro, assim como Trump nos Estados Unidos, capturou a extremamente elevada insatisfação dos brasileiros com os políticos e com os governantes em geral e a potencializou. Nas últimas semanas da campanha, ele seguidamente testou os limites do Estado de Direito.
Em pouco tempo, declarações contrárias à democracia e aos direitos humanos se tornaram aceitáveis no Brasil. Se elas vão virar prática política ainda não se sabe. É muito provável, porém, que a sociedade brasileira vá experimentar uma clara guinada para a direita.
Com a eleição de Bolsonaro, dificilmente o Brasil poderá atuar como uma das potências moderadoras no cenário internacional, que no passado soube resolver imbróglios no comércio internacional ou nas negociações climáticas. O Brasil que Bolsonaro desenhou na campanha eleitoral – e pelo qual muitos brasileiros o elegeram – ficaria em algum lugar entre a Indonésia e a Turquia num ranking internacional de democracias.
Para a União Europeia e sobretudo para a Alemanha, o Brasil perdeu muito em atratividade como parceiro.
O Brasil é um dos principais parceiros internacionais da Alemanha, e em 2015 os dois países se encontraram nas consultações intergovernamentais de alto nível. Esse diálogo está agora sob uma outra perspectiva. Mas é importante lembrar que o acordo é entre dois Estados, não entre dois chefes de governo.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas.
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