Clubes da Bundesliga revalorizam Copa Alemanha
30 de agosto de 2002Desprezada nos últimos anos pelos grandes clubes alemães, que só a viam como um estorvo no calendário de jogos, a Copa Alemanha volta a despertar o interesse do futebol profissional alemão. Os motivos são vários. Em 2001, o Union Berlim, da terceira divisão, sagrou-se vice-campeão e conseguiu, de quebra, uma vaga na Copa da Uefa, favorecido pela classificação do campeão Schalke para a Liga dos Campeões. Ou seja, redescobriu-se que a Copa Alemanha (DFB-Pokal) pode ser o caminho mais curto para o cenário europeu.
Este ano, a falência do Grupo Kirch levou a uma redução drástica das verbas de televisionamento dos jogos do Campeonato Alemão (Bundesliga), provocando sérios cortes nos orçamentos dos clubes profissionais. Êxito na Copa Alemanha pode significar, portanto, uma fonte de renda agora indispensável.
Estes dois argumentos atraem sobretudo os clubes médios e pequenos da Bundesliga. "A Copa ganhou em importância, pois podemos nela compensar as perdas oriundas dos contratos de televisionamento do Campeonato Alemão. Este dinheiro é muito importante. Temos bom uso para ele", enfatiza Thomas von Heesen. Segundo o diretor do Arminia Bielefeld, a competição torna-se realmente lucrativa a partir da terceira rodada, caso se tenha a sorte de enfrentar "um adversário atraente".
Faturamento similar ao da Copa da Uefa
– Gerd Voss, assessor de imprensa do Schalke, vai ainda mais longe. Para ele, as chances de faturamento na Copa Alemanha eqüivalem-se às da Copa da Uefa. "A diferença não é mais tão grande, porque a Copa da Uefa desvalorizou-se tremendamente em relação à Liga dos Campeões", afirma Voss. Financiados com as verbas de televisionamento, os prêmios pagos pela Federação Alemã de Futebol (DFB) começam em 52 mil euros, para todas as 64 equipes da primeira rodada, e sobem a 1,25 milhão para o campeão. A estes valores soma-se a arrecadação das bilheterias.De fato, somente os clubes que disputam a milionária Liga dos Campeões não precisam se preocupar com as possíveis vantagens financeiras da DFB-Pokal e muitas vezes fazem corpo mole e até comemoram uma eventual eliminação no torneio. Benefício: concentrar energias na Liga dos Campeões e no Campeonato Alemão.
Desprezo dá vexame
– O Borussia Dortmund pode ser um exemplo disto. Eliminado logo na primeira rodada da temporada passada pelo time amador do Wolfsburg, o time de estrelas acabou conquistando o Campeonato Alemão. No entanto, ninguém nega que uma derrota precoce queima o filme de qualquer grande time alemão. Especialmente do Borussia, o único clube do país com ações cotadas na bolsa de valores."Do ponto de vista do prestígio e sob a ótica esportiva, a Copa permanece de grande importância. Quem esteve alguma vez em Berlim (local fixo da final), sabe que chegar lá é uma meta recompensadora", destaca o diretor de esportes do Borussia, Michael Zorc, que como jogador participou da última conquista do clube na competição, em 1989. "Se não se é eliminado logo na primeira rodada, a Copa Alemanha torna-se também interessante financeiramente", lembra Zorc.
Momento histórico para time da quinta divisão
– É com esta redescoberta de seu valor que a Copa Alemanha 2002/2003 está começando. Como sempre, a grande atração da primeira rodada são os confrontos entre times profissionais, com jogadores de nível mundial, e equipes amadoras, integrada por gente comum, que joga bola quase por lazer. É o caso, por exemplo, do Paloma, de Hamburgo, que receberá o Kaiserslautern, no domingo.Membro do equivalente à quinta divisão alemã (Verbandliga), o Paloma viverá em sua primeira partida de Copa Alemanha o maior momento de seus 93 anos de história. Formada por metalúrgicos, pintores, marceneiros, policiais, estudantes e até consultores de empresas, a equipe do bairro proletário de Barmbek classificou-se para a DFB-Pokal após eliminar, em torneio de acesso, cinco equipes de divisões superiores.
Apesar da crise no Kaiserslautern (antepenúltimo lugar na Bundesliga, presidente renunciou e técnico foi demitido na segunda-feira passada), quase ninguém no pequeno time hamburguês alimenta esperanças de se ir ainda mais longe. "Nossa meta é fazer uma exibição decente e não tomar muitos gols", admite o capitão Ehlert. Mais do que quantas vezes a bola balançará sua rede, o que interessa ao Paloma é quanto dinheiro entrará em seus cofres. Segundo as contas do gerente do clube, o mecânico industrial Thomas Brucker, a partida deve render mais do que o orçamento previsto para todo o ano: 25 mil euros.
No domingo, o Bayer Leverkusen igualmente visita um amador, o RW Essen, assim como o Hansa Rostock, vice-líder do Campeonato Alemão, que enfrenta a equipe amadora do FSV Mainz 05.
Estádio ampliado para receber o campeão alemão
– No sábado, as atenções estarão voltadas principalmente para o pequeno povoado de Ihrhove, nas Frísias Ocidentais, no norte alemão. Assim como o Paloma, o time local terá um dia inédito em seus 57 anos de história, ao receber o Borussia Dortmund. Para garantir a realização da partida no próprio estádio, a diretoria do Concordia pediu e ganhou ajuda do campeão alemão.Juntos, financiaram a instalação de arquibancadas móveis, que ampliou a capacidade do estádio de Ihrhove de 5 mil para 15 mil lugares. Com a medida, ambos faturam, pois, da renda do jogo, cada clube fica com 45%. E não há dúvidas de que a lotação ficará esgotada.
Embora o Borussia tenha tropeçado em sua estréia no ano passado, o Concordia Ihrhove, da quarta divisão alemã (Oberliga), está preparado para o fim da festa ao apito final. "O Borussia não irá se permitir um segundo vexame", prevê Johann Lünemann, técnico da equipe amadora.
Também no sábado, Bayern de Munique e Schalke possuem adversários de nome, mas com times de categorias inferiores. O recordista de títulos do país enfrenta a equipe amadora do Werder Bremen, enquanto o atual bicampeão da Copa Alemanha pega os amadores do Bayern, na capital bávara. No extremo leste alemão, o Bochum (líder da Bundesliga) tenta manter a pose contra o Erzgebirge Aue.