Cultura alternativa
10 de março de 2009Localizado no bairro alternativo de Kreuzberg, em Berlim, o Moviemento é o cinema mais antigo da Alemanha. Fundado por Alfred Topps em 1907, o cinema já exibiu mais de mil filmes malucos desde então, além de ter sido ponto de encontro de vários atores, fotógrafos de cinema, músicos e cineastas, como o diretor Tom Tykwer e o músico Rio Reiser.
Na época de sua fundação, Topp deu ao cinema o nome de Kinematographentheater Topp (Teatro Cinematógrafo Topp), que depois foi encurtado pelo público simplesmente como Kintopp, um termo que com o tempo adquiriu um significado depreciativo. O nome da casa mudou várias vezes: Vitascope, Hohenstaufen Lichtspiele (Cinema dos Hohenstaufen), Das Lebende Bild (A Imagem Viva), Tali e, desde 1984, Moviemento.
Com sede numa discreta casa na esquina da rua Kottbusser Damm, o cinema logo ficou conhecido por sua incrível programação e por sua oficina de criatividade, já que tantas pessoas que frequentavam a casa tornaram-se artistas.
Durante muito tempo, a casa ofereceu uma atração muito especial, o salão do espelho, que permitia a exibição de filmes em duas salas simultaneamente. Em uma delas, o filme era exibido normalmente, enquanto na outra, a imagem era projetada invertida. Porém, com um jogo de espelhos atrás da tela, era possível reinverter a imagem para que os espectadores pudessem assistir ao filme.
Primeiro cineclube alemão
Em 1975, Manfred Salzgeber, assumiu o cinema e mudou seu nome para Tali. Ele transformou o cinema de bairro em um dos primeiros cineclubes da Alemanha, passando a mostrar ao público o cinema de autor de todo o mundo.
Após a falência de Salzberger, um grupo de jovens deu continuidade à ideia de mostrar um cinema político à parte do mainstream. Um dos integrantes do grupo era Wieland Speck, atual diretor da mostra Panorama da Berlinale.
Segundo Wieland Speck, isso correspondia à cultura da época. "Não queríamos deixar os cinemas fecharem e queríamos exibir filmes com novas abordagens políticas e estéticas", comentou.
Além dele, também faziam parte do movimento jovem do Tali o produtor e diretor Elser Maxwell e o artista Blixa Bargeld, que na década de 1980 fundou a banda Einstürzende Neubauten. Em pouco tempo, a casa tornou-se o principal ponto de referência da cena alternativa.
O Tali e a cultura alternativa
Grandes ícones do pop da década de setenta, como o cantores David Bowie, Iggy Pop, Nina Hagen e o cineasta Rosa von Praunheim passaram pelo Tali. Naquela época, o espaço também era usado para apresentações de teatro de grupos homossexuais. As músicas das peças eram escritas pelo músico Rio Reiser, frequentador assíduo do cinema e cantor da banda de rock Ton, Steine, Scherben.
Em 1976, o Tali conquistou de vez a sua fama com a exibição do musical The Rocky Horror Picture Show, uma paródia de filmes de terror e de ficção científica. Speck conta que o filme atraiu ônibus e mais ônibus de espectadores da Alemanha Ocidental, dipostos a atravessar toda a Alemanha Oriental a 80 km por hora. "Para nós, isso foi magnífico", lembra Speck.
Finalmente, o Moviemento
Nessa época, os artistas festejaram demais e investiram pouco, de modo que a festa acabou em 1980 com a falência do Tali. A casa só foi novamente revitalizada como cinema quando Ingrid Schwibbe a comprou, criando o atual Moviemento. Em 1986, Tom Tykwer foi contratado como programador do cineclube.
"Eu simplesmente fazia uma lista dos meus filmes preferidos e daqueles que ainda queria ver e os exibia... Centenas de pessoas ficavam na fila para entrar", conta Tykwer. Quando começou a trabalhar no Moviemento, ele tinha apenas 22 anos. Segundo o cineasta, o trabalho era "um paraíso".
Foi também no Moviemento que Tykwer conheceu seus futuros parceiros Stefan Arndt e Dani Levy, que lançou o seu primeiro filme no próprio cinema. Em meados da década de 1990, os três cineastas fundaram com Wolfgang Becker a empresa X-Filme, que produziu filmes de sucesso como Corra, Lola, Corra e Adeus, Lênin.
Em 2007, Ingrid Schwibbe vendeu o Moviemento por motivos financeiros, pois as pequenas salas dificilmente podem competir com os novos complexos de cinema. Desde então, uma nova geração de cineastas administram o cinema mais antigo da Alemanha.
Autor: Bernd Sobolla
Revisão: Simone Lopes