Cinema e TV entram na era digital
10 de junho de 2004As imagens de fantasmas ou chuviscos nas telas de TV estão com os dias contados na Alemanha. O país entra na era da TV digital. A estréia do novo sistema ocorreu em agosto do ano passado, na região metropolitana de Berlim-Potsdam-Brandemburgo. Desde o final de maio, os moradores de Hanôver-Braunschweig, Bremen-Unterweser, Colônia e Bonn também sintonizam a Televisão Digital Terrestre (DVB-T). Em novembro deste ano, será a vez de Hamburgo-Lübeck, Kiel, Düsseldorf e a região do Rio Ruhr.
Na lista de espera para o ano que vem estão os centros urbanos de Halle-Leipzig, Erfurt-Weimar, Mainz-Wiesbaden-Frankfurt, Ludwigshafen-Manheim, Stuttgart, Nurembergue e Munique. A digitalização completa dos sinais de TV em todo o território alemão está prevista para o ano 2010.
A volta da antena
Apenas 5% dos televisores na Alemanha ainda depende da antena doméstica. Se as chamadas "ilhas de DVB-T" proliferarem, esse número pode voltar a aumentar. As vantagens do sistema digital são óbvias. "Temos quatro vezes mais canais do que antes, já que cada freqüência pode ser usada para transmitir quatro canais", explica Michael Thiele, porta-voz da associação Plataforma de TV Alemã. Além disso, a qualidade de imagem e áudio é melhor. Para receber o novo sinal, os telespectadores alemães, no entanto, têm de comprar um decodificador especial chamado Set-Top-Box (em torno de 150 euros).
DVD-T é mais que TV
A grande vantagem da TV digital é ser portável, permitindo, por exemplo, assistir a um programa no jardim ou no carro. A transmissão de programas de TV não é a principal função do sistema. "Temos a possibilidade de integrar uma série de outros aplicativos, desde sistemas de navegação, guias turísticos multimída ou canais especializados em notícias econômicas", diz Thiele. A meta é tornar a TV mais interativa.
A concorrência não dorme no ponto. A Kabel Deutschland, que monopoliza o setor de TV a cabo, está ampliando a sua oferta e pretende levar 120 canais até os 18 milhões de lares ligados à rede do cabo.
Esse número é bem inferior aos mil canais previstos, mas deve acirrar a disputa pela atenção dos telespectadores. Para receber o sinal a cabo, precisa-se de um decodificador que custa 100 euros. A maioria das grandes emissoras de TV aberta de direito público e privadas ainda resiste em disponibilizar seus programas através da rede da Kabel Deutschland.
Cinena digital chega à Europa
Uma resistência inversa esboça-se na área de cinema. O grito de guerra de que "o telão digital está chegando" ecoa desde 1997, quando a Texas Instruments lançou um potente projetor para este fim. Agora, parece vir de verdade e deve provocar profundas mudanças no setor. O que está em jogo não é apenas a transmissão de sinais digitais para as salas de exibição, como também a digitalização de todo o processo, desde a câmera até a projeção, prenunciando o fim dos rolos de filmes convencionais.
Com a nova tecnologia, as distribuidoras esperam economizar até 90% dos gastos com reprodução e remessa dos rolos. À medida que a tecnologia avança, aproxima-se a introdução dos cinemas digitais por Hollywood. Nos Estados Unidos, sete conglomerados da mídia formaram a Digital Cinema Initiative (DCI), em abril de 2002, para implementar o processo. Atualmente, os engenheiros acertam os últimos detalhes das padronizações. A implementação industrial está prevista para 2006.
Um grupo de pequenos cinemas europeus resolveu não esperar por Hollywood e formou a rede European DocuZone (EDZ). Donos de salas de exibição, distribuidores e produtores de oito países europeus uniram-se na EDZ para organizar o intercâmbio pan-europeu de documentários em 175 cinemas, dos quais 112 são da Alemanha.
Chance para pequenos produtores
A partir do segundo semestre, a EDZ quer transmitir um documentário europeu por semana, via satélite, para os cinemas associados. A exibição será simultânea, num horário fixo. Os cinemas da DocuZone, no entanto, podem usar os projetos também para outros fins, mediante pagamento de uma pequena taxa. Por seu âmbito europeu, o projeto foi fomentado com cerca de 2,5 milhões de euros pela União Européia.
Como a tecnologia usada é relativamente barata, à base de beamer, abre uma nova perspectiva para a comercialização de obras de pequenos produtores. Para os cinemas participantes, trata-se de uma chance para diversificar os programas e garantir a independência. A estréia do novo sistema será entre 12 e 14 de novembro de 2004, durante o Festival Pan-europeu de Filmes Documentários, e seu funcionamento regular, a partir de 1º de janeiro de 2005.