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Entrevista

Jochen Kürten (sv)22 de janeiro de 2009

Dieter Kosslick, diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, fala em entrevista à Deutsche Welle sobre as tendências do mercado cinematográfico e sobre o festival que começa em fevereiro próximo.

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Dieter Kosslick: festival de Berlim é trabalho para o ano todoFoto: AP

Deutsche Welle: O que faz o diretor de um festival de cinema nas outras 50 semanas do ano em que o festival não acontece?

Dieter Kosslick: Em princípio, o mesmo que faz durante o festival: fala com pessoas, assiste e seleciona filmes, cuida de manter seus contatos e fazer novos. Acima de tudo, ele precisa tentar divulgar seu festival de forma que as pessoas queiram ir até lá para ver. Fazer com que as pessoas queiram entregar seus filmes para exibição na Berlinale [Festival Internacional de Cinema de Berlim] e não para outro festival é uma tarefa que me custa o ano inteiro de trabalho.

Isso significa que o senhor passa o ano viajando de festival em festival?

Não de um festival para outro, mas visito alguns para ver o que os outros estão fazendo. Para ver como organizam, quais são as tendências. Isso é realmente um trabalho para o ano inteiro. Não se pode esquecer que somos uma equipe de 15 pessoas, que trabalha aqui durante o ano todo. E quando a Berlinale começa, somos 1.800.

Trata-se de um trabalho enorme de organização, que começa em setembro e vai até fim de março. Ou seja, durante o ano todo, não sobra muito tempo. Nos seis meses restantes, tiro seis semanas de férias e nos outros entro na roda viva.

O senhor é considerado um talento comunicativo. Qual é a importância de manter uma boa convivência com os colegas?

É sempre bom e não só entre nós. Mas como passamos meio ano falando de um produto que ainda não existe e do qual só são conhecidos apenas alguns ingredientes – ou seja, as estrelas, o diretor, o assunto – isso é de suma importância.

É bom saber entreter e também compreender os outros. Pois nada pior do que um filme mal colocado num festival, o que acaba trazendo desvantagens tanto para o diretor quanto para o filme. Por isso a famosa máxima de que "falar sempre ajuda" é também muito importante na área de cinema e principalmente para diretores de festivais.

O filme que abre o Festival foi divulgado há muito tempo: The International, de Tom Tykwer. Foi difícil trazer esse filme para Berlim?

Regiesseur Tom Tykwer
Tom Tykwer (dir.) ao lado de Clive Owen e Naomi Watts, no set de filmagem de 'The International' em MilãoFoto: AP

Sim, conversamos por muito tempo. É um filme de Tom Tykwer com uma dimensão enorme, que não só se chama The International, como também foi rodado em vários países. No caso de uma superprodução como essa, há obviamente diversas forças envolvidas.

Mas em relação ao filme houve um consenso entre nós e o pessoal da Sony em Berlim, cuja sede é aqui pertinho, na Potsdamer Platz [onde acontece a Berlinale], que gostaríamos de ter esse filme de qualquer jeito no festival. Diante disso, nos unimos para conseguir o que queríamos. O mais importante foi o consenso a esse respeito.

Exibiremos um filme frente ao qual as pessoas vão ficar admiradas. Por que exatamente um filme como esse exatamente agora, a ser exibido em tempos de crise financeira? O filme trata de manobras financeiras internacionais de bancos! É "o" filme sobre o assunto!

O que o senhor pôde observar em suas viagens ao visitar festivais nos últimos meses? Há alguma tendência no cinema, seja ela regional ou temática?

Certamente há tendências. Muitos filmes tratam de guerras no mundo, mas menos do que nos anos anteriores, quando víamos muitas cenas de guerra ou combates, soldados in loco. Hoje, há muitos filmes que tratam dos efeitos da guerra.

O que, na verdade, significa a guerra para uma família quando o filho de quatro anos de idade perde o pai? Ou quando uma mulher recém-casada, é obrigada a deixar seu amado num campo de batalha? E o que significa quando um soldado tem que retornar à sociedade "normal" e trabalhar como motorista de táxi, depois de ter passado dois anos sendo treinado para matar e morrer.

A situação particular dessas pessoas é um tema do cinema hoje. Para mim isso não é uma surpresa, mas é surpreendente a intensidade com a qual o cinema se ocupa desse assunto em alguns países. É também um tema que, de certa forma, diz respeito a todo o mundo. Estamos, por acaso, bem preparados para isso, por já termos nos ocupado do assunto nos últimos dois ou três anos.

O senhor pode citar mais alguma tendência atual?

Plakat für 59. Berlinale
Berlinale 2009: mostras competitiva e paralelas atraem milhares de pessoasFoto: picture-alliance/ dpa

Há cada vez mais filmes – principalmente documentários, mas também de ficção – que tratam da alimentação, da produção de alimentos. Todos os dias é possível ler algo a respeito disso. E existe um movimento, não apenas ecológico, de pessoas comuns, que se opõem e dizem: isso não pode continuar assim!

Esse é um tema importante, que será também um grande assunto na Berlinale. Já no início do festival vamos mostrar um grande filme a respeito, chamado Food inc, que explicita essas manobras. Isso tem um dimensão semelhante à crise financeira. É um apocalipse internacional que está ali intrincado.

Se não surgir uma nova forma de pensamento a respeito e se não forem encontradas novas formas de produção, iremos passar no setor de alimentos pelo mesmo que acabamos de passar no setor bancário, ou seja, por um verdadeiro desastre.