Cinco anos depois
14 de fevereiro de 2010A morte de Rafic Hariri, ex-primeiro ministro do Líbano, foi lembrada neste domingo (14/02) por milhares de pessoas que participaram de uma manifestação em Beirute. O evento foi convocado, entre outros, pelo filho de Hariri, Saad Hariri, atual primeiro-ministro do país.
Rafic Hariri era o "mister Líbano", uma figura imortal que marcou o país. Quando Hariri foi morto num atentado com um carro-bomba, um clamor tomou conta do Líbano: desta vez a Síria fora longe de mais. E apesar de até hoje não haver evidências da responsabilidade síria, todos os soldados do país vizinho tiveram de deixar o Líbano poucas semanas depois do atentado – era o fim da ocupação.
Presença da família Hariri
Mas a presença da família ainda é muito forte: o filho de Rafic, Saad Hariri, é hoje o primeiro-ministro do Líbano. Ele é assessorado por outro membro da família, o primo Achmed Hariri.
"Depois do atentado, nós mergulhamos por cinco anos em problemas políticos e econômicos e numa grande instabilidade. Mas agora isso já é passado", diz Achmed.
Ele afirma que a recente visita de Saad Hariri à Síria estabeleceu uma nova fase nas relações entre os países. "Nós queremos a estabilidade, sem ela não poderemos cumprir o nosso programa", analisa Achmed.
O atentado mobilizou milhares de libaneses, que exigiam a total soberania para o país. O Hezbollah e seus parceiros, opositores ao clamor da população, queriam o apoio da Síria e do Irã. Uma prova de fogo decisiva foi vencida pelo Hezbollah em 2007, com o uso de armas. O novo flerte dos americanos e dos sauditas com a Síria tirou o apoio internacional de Hariri.
"Os sauditas deram sua bênção para o papel especial da Síria na Líbano. E foram os sírios que ajudaram Saad Hariri a formar seu governo. Eu ainda não sei como isso vai ficar, mas os sírios devem novamente recuperar sua antiga posição forte no Líbano – esse processo já começou", avalia Hilal Khashan, cientista político da Universidade Americana de Beirute.
Para Achmed Hariri, reatar as relações diplomáticas com a Síria foi um grande avanço. "Como somos um país que está localizado numa região delicada, não podemos nos fechar às mudanças que acontecem aqui. Não podemos pender para um lado, mas devemos conversar com todos. Nossa proposta é ser amigável com todos."
Política e estabilidade
Os apoiadores de Hariri conseguiram nas últimas eleições uma maioria apertada no Parlamento. Mas o Hezbollah e aliados ampliaram seu apoio e estão novamente representados no governo.
"Se os Estados Unidos querem uma relação melhor com a Síria – por favor, esse também é o nosso desejo. Mas isso não deve acontecer a custo dos libaneses, que já pagaram o preço por 20 anos de dominação síria", opina Nadim Gemayel, parlamentar de direita.
Os libaneses sabem que o país só pode ser regido em consenso. E a nova estabilidade é mais do que bem-vinda: o turismo cresceu, e em 2009 a economia cresceu quase 9%.
Autoras: Carsten Kühntopp/Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler