Cientistas revelam mistério de animal que intrigou Darwin
28 de junho de 2017Cientistas da Universidade de Potsdam, na Alemanha, solucionaram o mistério sobre um fóssil encontrado por Charles Darwin em 1834 na Patagônia, que até hoje ainda não havia sido enquadrado em nenhuma família e foi objeto de debate durante quase dois séculos.
Segundo estudo publicado nesta terça-feira (27/06) pela revista científica Nature Communications, as macrauquênias, descritas então por Darwin como "diferentes de tudo" e pertencentes a uma das espécies mais enigmáticas já vistas na Terra, têm parentesco com os atuais cavalos, rinocerontes e tapires.
O mistério da macrauquênia (Macrauchenia patachonica) foi resolvido através de análises genéticas realizadas pela equipe liderada pelo especialista em paleogenética alemão Michael Hofreiter.
O novo estudo realizado pela Universidade de Potsdam, em cooperação com o Museu Americano de História Natural, nos Estados Unidos, joga luz sobre um dos ungulados (mamíferos que têm cascos ou patas nas extremidades) da América do Sul, que viveu durante a última glaciação.
Em 1834, Darwin encontrou os primeiros fósseis deste animal no Uruguai e na Argentina, e os passou a um amigo seu, o renomado paleontólogo britânico Richard Owen, que ficou desconcertado pela combinação incomum de características do animal, que impedia de estabelecer suas relações evolutivas.
Uma de suas características mais extraordinárias era a posição das aberturas nasais, que, ao contrário da maioria dos mamíferos, não ficava logo acima dos dentes frontais, mas entre os olhos, o que poderia indicar a presença de uma tromba, como os elefantes, ou de narinas que se abrem e fecham como a de focas.
Durante dois séculos, biólogos e taxonomistas discutiram sobre a família do animal, que pesava 400 a 500 quilos, vivendo em paisagens abertas e se alimentando de grama e folhas. A macrauquênia viveu até o pleistoceno tardio, entre 20 mil e 11 mil anos atrás.
Análise do DNA mitocondrial
A mistura de características físicas e uma falta de amostras de DNA tornaram quase impossível determinar se o animal era realmente um parente da lhama, como se pensava. Para desvendar o mistério, os pesquisadores de Potsdam utilizaram um novo método de análise genética, recorrendo à análise do DNA mitocondrial extraído de um fóssil achado em uma cova no sul do Chile, em combinação com uma nova metodologia mais confiável para completar os segmentos genéticos danificados pelo passar do tempo.
Segundo Michael Hofreiter, ao avaliar o grau de parentesco entre espécies através do DNA mitocondrial, o estudo concluiu que os parentes atuais mais próximos das macrauquênias seriam os mamíferos placentários conhecidos como perissodáctilos, que englobam cavalos, rinocerontes e tapires.
Ao reconstruir quase 80% do genoma mitocondrial das macrauquênias, os cientistas puderam situá-lo exatamente em um grupo mais amplo, os panperissodáctilos.
Segundo as conclusões da pesquisa, a linhagem das macrauquênias e dos perissodáctilos modernos se separou há 66 milhões de anos.
Para o especialista em mamíferos Ross MacPhee, o sul do Chile oferece, graças a seu clima mais frio, mais possibilidades de encontrar fósseis com DNA conservados em bom estado. Isso abriria a porta, no futuro, para novas espécies sul-americanas unguladas serem analisadas, como o toxodonte, que Darwin classificava como "o animal mais estranho já descoberto".
MD/afp/efe