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Futuro da agricultura

1 de abril de 2010

Não é de hoje que os cientistas são acusados de se isolarem numa torre de marfim, longe das realidades sociais. Uma conferência bienal sobre o futuro da agricultura tenta aproximar pesquisa e prática rural.

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Crise climática requer novas soluções para a agricultura no mundoFoto: picture-alliance / dpa

Durante a primeira conferência global sobre pesquisa agrícola para o desenvolvimento, realizada na cidade francesa de Montpellier, cientistas de todo o mundo se reuniram com políticos, organizações não-governamentais e doadores, a fim de refletir sobre o futuro da agricultura. Afinal, diante das crises ambientais que se tornaram nítidas no início do século 21 – como a mudança climática, a crescente escassez de água e os descompassos demográficos –, repensar a agricultura significa refletir sobre o futuro da humanidade.

Até 2050, o planeta atingirá uma população de 9 bilhões de pessoas, a ser alimentada sob condições cada vez mais difíceis. A crescente escassez de recursos naturais que se nota hoje já provoca apelos veementes pela sustentabilidade. Além disso, a falta de alimentos vem gerando instabilidades em diversos países e os recursos originariamente destinados ao desenvolvimento rural foram em parte cortados após a crise financeira global.

Lenta mudança de mentalidade

O resultado concreto da conferência de Montpellier foi um plano de ação que conclama institutos de pesquisa, doadores, governos, organizações de agricultores e a sociedade civil a trabalharem em conjunto, a fim de promover o desenvolvimento rural e a segurança alimentar.

Mounty Jones, diretor do Fórum de Pesquisa Agrícola para a África, é da opinião de que as investigações científicas devem se aproximar mais da prática no futuro. Seria importante não pesquisar ao largo dos agricultores, mas sim junto com eles. "Essas são as pessoas para as quais trabalhamos, são as pessoas que podem nos dizer como ajudá-las. Foi-se o tempo em que os outros é que tomavam decisões para os agricultores. Chegou a hora de decidirmos juntamente com eles e fazer algo a partir disso", declarou Jones.

Apesar dessa urgência, não é de uma hora para a outra que se pode mudar a mentalidade dos cientistas. Benedikt Haerlin, da Fundação Alemã para o Futuro da Agricultura, sediada em Berlim, não tem certeza se a nova conferência bienal lançada em Montpellier poderá prestar uma contribuição essencial no sentido de aproximar a pesquisa da sociedade.

"Vejo que a retórica é outra, mas ao mesmo tempo percebo o quão pouco a mentalidade dos pesquisadores mudou. No fundo, acaba sendo o mesmo clube de senhores que se reúne aqui", descreve ele com ceticismo.

Mobilizar a juventude

Esse clube de senhores também desagrada ao jovem pesquisador indiano Balasubramian Ramani, do departamento de Agricultura da Universidade de Hannover. A maioria dos agricultores de todo o mundo são mulheres e quem deverá resolver os problemas rurais são os jovens; no entanto, esses são os grupos menos representados na conferência, lamenta ele.

"Há cinco anos, estamos tentando integrar os jovens nos processos de decisão. Fala-se de reestruturação e do futuro da agricultura mundial, mas no fundo todos precisam entender que nós, jovens, é que somos o futuro. É por isso que não queremos permitir que homens e mulheres de terno cinza decidam sobre o nosso futuro", adverte o cientista indiano.

Ainda seria cedo demais para avaliar as perspectivas de êxito ou fracasso do plano de ação de Montpellier. De qualquer forma, não deixa de ser um passo certo no sentido de reduzir o abismo que separa a ciência da prática.

Benedikt Haerlin constata que "toda mudança no mundo acadêmico começa com muitas palavras". "Não estou dizendo que isso não leva a nada, mas até agora se conquistou muito pouco", aponta ele.

Até que ponto a conferência sobre o futuro da agricultura tem futuro é o que se mostrará na próxima edição do evento, a ser realizada daqui a dois anos.

Autor: Helle Jeppesen (sl)
Revisão: Augusto Valente