Mosquitos estéreis no combate à malária
25 de junho de 2014Ao anoitecer os mosquitos aparecem. Eles têm dois objetivos em seus minúsculos cérebros: comer e se reproduzir. A comida preferida da fêmea é sangue – e aí começa o problema entre esses insetos e os seres humanos. Por esse motivo, uma equipe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está pesquisando intimamente a vida sexual desses animais.
O ato reprodutivo dos mosquitos não dura mais do que 16 segundos. Entender esses segundos e assegurar que não conduzam à procriação é o desafio dos pesquisadores da AIEA em Seiberdorf, próximo à capita austríaca, Viena.
No laboratório, o entomologista médico Jeremie Gilles mostra à DW uma gaiola coberta por um mosquiteiro, cheia de insetos negros que parecem estar dormindo. "É aqui que as fêmeas vêm colocar os ovos, depois de se alimentar de sangue", explica.
Ao picar seres humanos para sugar seu sangue, é a fêmea quem transmite doenças como malária, dengue e febre amarela. No entanto, a AIEA focou suas pesquisas nos machos, em que aplica a "técnica do inseto estéril" (Sterile Insect Technique). Eles são esterilizados com radiação em laboratório e depois libertados na natureza, em grande quantidade.
O método já se mostrou eficaz tanto no combate às moscas-varejeiras que atacam o gado, como das moscas das frutas que destroem lavouras. Como a fêmea do mosquito se acasala apenas uma vez em sua vida, e o macho várias, os pesquisadores da AIEA esperam que, também neste caso, a técnica de controle biológico se mostre eficaz.
Mosquitos resistentes
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a malária mata aproximadamente 750 mil pessoas por ano, a maioria crianças com menos de cinco anos na África subsaariana. Reduzir essas mortes já é um forte motivo para a técnica da esterilização dos mosquitos, mas o entomologista Andrew Parker aponta outra razão.
"Se a erradicação local for alcançada – não a global, apenas a local –, não será mais necessário o uso de pesticidas. Assim, essa tecnologia se presta perfeitamente a uma redução substancial dessas substâncias." Em Burkina Faso, onde são comuns a malária e a dengue, de que eles são vetores, mosquitos resistentes a inseticidas passaram a preocupar as autoridades de saúde.
"O uso de inseticidas na agricultura afetou a resistência dos vetores", confirma o entomologista médico Roch Dabire. Pois as substâncias empregadas contra as pragas nas plantações de algodão e outras são as mesmas encontradas nos sprays domésticos antimosquitos.
De distribuição manual a drones e companhia
"O desenvolvimento da técnica do inseto estéril não vai substituir completamente os inseticidas, mas vai complementar nossa estratégia de controle", prevê Dabire. A pesquisadora da AIEA Cynthia Nanvuma complementa que a expectativa é de "uma queda drástica no número de pessoas que sofrem de doenças transmitidas por esses mosquitos".
Segundo o entomologista Jeremie Gilles, um aspecto fundamental da pesquisa é conseguir evitar que as fêmeas identifiquem rapidamente os mosquitos estéreis e os ignorem, copulando apenas com os mosquitos não modificados. Acima de tudo, para a técnica do inseto estéril restringir significativamente a reprodução do mosquito na natureza, é necessário esterilizar e dispersar uma grande quantidade de machos.
Na fase atual isso ainda não aconteceu: até agora a difusão dos mosquitos tem se realizado se em pequena escala e manualmente, com a ajuda dos moradores de áreas propensas à doença. Assim, para realmente impactar a população dos insetos, o cientista da AIEA está procurando soluções não convencionais. "Nós estamos trabalhando nesse aspecto e aprendendo sobre planadores, ultraleves, girocópteros e até mesmo... drones", revela Gilles, um tanto misterioso.